Assédio moral no trabalho. Até quando?

Dia desses, caiu como uma bomba na imprensa nacional o relato da jornalista Amanda Klein, no Twitter. A profissional postou, no dia 7 de julho, o seguinte:

Coincidência ou não, vivi recentemente os abusos e os estragos que o assédio moral no trabalho pode render e custar, acima de tudo, com custos exorbitantes e irreparáveis à saúde mental e emocional. Isso não se recupera!

Para exemplificar: Em sete meses em uma organização (não, não vou dizer o nome, mas quem quiser saber, pode me procurar, porque me sinto na obrigação de alertar os colegas jornalistas), sofri o que jamais havia sofrido em mais de 20 anos de carreira como profissional de comunicação e jornalista.

Entrei na organização em dezembro de 2020. Casa nova, gente nova, trabalho novo! Que beleza! Arregacei as mangas e comecei a trabalhar, porque quem me conhece sabe que trabalho NUNCA me assustou, que volume e rendimento pra mim estão ali pra serem conciliados. Com a cabeça cheia de ideias, lá fui eu…

Na primeira semana, sempre apoiando-se em “somos um time”, me “pediram” para acompanhar uma live de seis horas de duração, depois do meu horário, e produzir uma notícia. Fiz! Na mesma semana, mais uma, fiz também, sem nem questionar, afinal, é trabalho e em época de pandemia (que aliás viviam jogando na nossa cara, principalmente nas reuniões de “time”, que tínhamos que agradecer porque ninguém havia sido demitido e o “time” tinha ganhado reforços), não dá pra dizer não…

Essas situações se repetiram pelos sete meses seguintes. Eram lives, eventos que duravam dois dias, 24 horas seguidas… Em sete meses, acumulei mais de 160 horas extras, 127 delas só nos últimos 3 meses…

Fui sendo exposta a jornadas cada vez mais exaustivas, em horas extras infindáveis, vendo cada vez mais e mais minha lista de trabalhos ser acumulada de coisas que eu tinha que dar conta SOZINHA, porque a minha “colega”, também jornalista, se ocupava com um jornal mensal de 15 páginas, das quais a maioria das matérias chegavam prontas para ela, além de ela me ocupar com as matérias principais desse periódico.

Eram campanhas da loja, campanhas internas, campanhas… Matérias, notícias, registros, redes sociais (da loja e da Associação), contato com revendedores, com associados, com voluntários… Chegou a minha avaliação de 45 dias. Soube pelos meus colegas que me delegavam trabalho, que a minha “gestora” quis saber deles sobre o meu desempenho. E como eu era a mais experiente da equipe, eles foram só elogios para mim… Na reunião com ela, sobre esse período, ela me chamou de insegura, ineficiente e pouco proativa… Disse que “esperava mais de mim”.

Engoli em seco! Comentei com os colegas, que antes dessa reunião haviam me alertado e percebido nuances do assédio a que ela já estava me submetendo, mas eu não quis acreditar. Pensei: sou macaca velha! Isso não pode estar acontecendo… Mas estava!

Para se ter uma ideia, eu já havia recebido mensagens fora do horário de trabalho em meu celular com bastante frequência. Uma delas chegou às 7h47 da manhã de um sábado, em que ela me cobrava que substituísse uma sugestão (era apenas uma sugestão dentre as mais de 50) de um nome para uma live.

Nesse horário, eu ainda estava dormindo. Era sábado. Às 8h30 ela insistiu na mensagem, dizendo que se eu não fizesse essa substituição (que estava em um grupo de WhatsApp, mais um dos cinco nos quais ela me inseriu e me obrigou a permanecer), ela mesma faria isso, me expondo.

Às 11h da manhã, em tom de ameaça, ela me disse, por mensagem, devidamente registrada e salva, que já que eu não fui até o grupo me retratar da sugestão, ela mesma faria isso dizendo que eu havia me equivocado. E fez!

Nos 45 dias que se seguiram, as coisas começaram a piorar. Depois do banho de água fria que a “gestora” havia me dado, segui ainda mais atenta. Aprofundei minhas pesquisas, comecei a consumir mais e mais daquilo que ela deu como referência…

Nesse período, ela pedia ao atendimento (que era quem me demandava trabalho), que me devolvesse determinados materiais simplesmente porque não havia ponto final no assunto do e-mail, por exemplo.

Ela começou a copiar pessoas quaisquer nos e-mails e a me incluir em respostas que tinham como objetivo me expor gratuitamente.

Cobrou de mim cronogramas que nunca existiram e nem sequer haviam sido feitos por ninguém que esteve ocupando a função que naquele momento eu ocupava. Respondia aos e-mails com “você já foi alertada”, “você já foi orientada”, “já falamos sobre isso”, sem nunca nem sequer haver nenhum registro desses assuntos e temas que ela insistia em me cobrar.

Venceram os três meses de experiência… Tive reunião com ela, a “gestora” e a gerente da área. Ambas chegaram a dizer que a minha ausência as incomodava. Perguntei qual ausência, pois eu não tinha sequer pegado nenhuma hora do banco de horas ao qual tinha direito. A gerente me disse: Suas idas ao médico, por exemplo!

PAUSA – Quando passei pela entrevista de contratação, com ambas, eu disse que uma vez ao mês precisava ir ao médico por conta de uma cirurgia que havia realizado meses antes, e se tratava de uma consulta de acompanhamento. Essa reunião aconteceu em março de 2021, fui contratada em dezembro de 2020, nesse período fui apenas uma vez ao médico.

PAUSA 2 – A “gestora” havia me enviado uma mensagem no WhatsApp, quando avisei desta consulta, dizendo que eu deveria agendar minhas consultas fora do horário de expediente, porque isso comprometia minha produção.

Ou seja, as mais de 160 horas extras em que eu estive ocupada com a minha função, enquanto a vida acontecia não contavam? Eu tinha que me adequar a eles, mas em nenhum momento eles foram empáticos comigo.

Naquele momento, me segurei e disse: olha, não sei se a “gestora” te disse, mas nesse dia, ela fez questão de marcar uma reunião exatamente para a hora do meu deslocamento, sabendo que eu não estaria presente, pois havia avisado ela. O que você talvez não saiba, é que ela me obrigou a participar dessa reunião, quando eu estava em deslocamento até o médico, dirigindo em uma BR. Outra coisa que eu gostaria de destacar é que desde o início vocês sabiam dessas minhas consultas mensais e não se opuseram. A agenda do médico é dele, não minha. É ele que escolhe e encaixa meu horário, não o contrário.

Venci o período de experiência, três meses haviam ficado para trás e eu almejava que novos e melhores dias estivessem chegando. Com a nova etapa, veio um e-mail com novas atribuições, além das que eu já dominava. Passaram tudo o que a minha colega fazia para mim… Ela ficou só com o Jornal (aquele curtinho, mensal) e uma revistinha infantil, com conteúdo mínimo.

Veio a primeira crise de desespero! Respirei fundo e disse pra mim mesma que daria conta… E dei… Os colegas mais próximos estranharam que as atividades tivessem vindo todas para mim… Perguntaram à gestora o motivo e ela disse: eu quero espremer ainda mais a Janaína…

Por ter encontrado frustração na tentativa de me “espremer”, começou a fazer cobranças absurdas… Em meio a uma pandemia, com os casos de Covid-19 aumentando significativamente, queria que eu acompanhasse, presencialmente, um evento com dois dias de duração.

Fizemos de casa porque a prefeitura havia proibido a realização do evento no espaço público, que ainda assim contaria com restrição de pessoas. O evento mudou de lugar a fim de burlar os órgãos públicos, e como a cidade da região metropolitana em que eu resido estava com rígido toque de recolher, se eu saísse, não poderia retornar depois das 20h.

Naquele dia, uma sexta-feira, nova bandeira de alerta começou a vigorar na capital e com isso tive que ir ao mercado, a fim de abastecer os armários, pois na cidade onde eu resido o comércio ficaria fechado e, por isso, fui à Curitiba. Eu estava no mercado, eram quase 19h (meu expediente iniciava às 10h e finalizava às 17h), quando a gestora me enviou uma mensagem pedindo que eu publicasse “imediatamente” uma notícia no site da empresa.

Eu respondi que estava no mercado, afinal, meu expediente já havia encerrado, e ela me perguntou quanto tempo eu demoraria até retornar (da minha casa até a capital leva cerca de uma hora), porque ela queria a notícia publicada naquele instante.

Outras pessoas tinham acesso à notícia, que já estava pronta, feita por mim e que fica compartilhada em uma pasta pública na rede do setor, da mesma forma como outras pessoas também têm acesso à plataforma para postagem da notícia do site. Mais uma vez, ficava nítida a implicância dela comigo, uma vez que ela mesma poderia realizar a postagem.

Os trabalhos começaram a vir, um em cima do outro… E a todos dei conta, sempre antes do prazo, sempre atenta. E por querer me manter lá, mostrar que eu era/sou capaz, afinal, sou uma profissional, continuei… Mas a minha saúde já dava sinais de que não estava em dia…

Eu chorava quase diariamente, de desespero, achava que não daria conta, porque estava cada vez mais imersa e afogada em trabalho. Por que eu? Eu me perguntava.

Deixava meu marido nervoso, a ponto de ele me dizer que preferia que eu ficasse sem trabalho do que ficar daquele jeito.

Já não dormia mais. Deitava, e depois de tanto fritar na cama, o relógio apontava: 5h38, e eu pensava: Meu Deus, eu tenho que me levantar daqui a pouco! E isso foi se arrastando consecutivamente.

O sinal de alerta veio no dia que, após seguidas tonturas e mal-estar, minha glicemia apontou 286, o que é impossível pra uma operada bariátrica, e a pressão acusou 14/9. Não dava mais!

De repente, em maio, fui convocada para o trabalho semipresencial (estávamos em home office por conta da pandemia). A convocação veio por WhatsApp, porque essas pessoas adoram plantar provas contra si mesmas. Na mensagem, ela dizia que estavam fazendo um rodízio, com revezamento entre as pessoas dos setores, e que eu deveria ir às quartas e sextas-feiras. Ok! Fui!

Quando cheguei lá, apenas eu e mais uma pessoa, uma funcionária recém-contratada que era uma das responsáveis por me delegar tarefas… Nem mesmo a “gestora” estava indo… Essa colega que lá estava, estava indo diariamente, e disse que, além dela, apenas mais duas outras pessoas “apareciam de vez em quando”.

Pensei: por que só eu? A minha colega (a outra jornalista) não fora escalada para nenhum dia, assim como os designers, a revisora de texto… Estava, mais uma vez, confirmada a perseguição.

Na semana seguinte, a pessoa com quem eu revezaria o computador (o computador que era pra ser meu foi levado por um colega, então, eu usava o computador que tivesse disponível no setor), não compareceu, mas me enviou uma mensagem dizendo que estava em casa, recluso, porque a namorada dele, que morava com ele, estava com sintomas de Covid-19, e por isso, ele trabalharia de casa nos próximos dias.

Fiquei alarmada! Pois, eu dividia o computador com ele. A obrigação da minha gestora era, de no mínimo, me alertar para redobrar os cuidados, uma vez que eu já havia falado para ela que meu marido pertencia ao grupo de risco e que não poderia tomar a vacina, devido às reações dela.

Ao me dirigir à gestora sobre este fato, ela me disse que eu estava exagerando. Não sem antes confrontar o colega que me alertou, dizendo a ele que ele não deveria ter me contado. Este mesmo colega já havia trabalhado no dia anterior e tido contato com, no mínimo, 10 pessoas dentro da associação.

PAUSA – Uma colega contraiu Covid-19 no ano passado, dentro da instituição, e a recomendação da gerente e gestora foi a de que ela deveria continuar trabalhando normalmente, uma vez que estava em home office e isso não seria impeditivo para ela.

Novo alerta foi emitido na capital, veio a bandeira vermelha, e eu retomei o trabalho 100% home office.

Certa vez, ao seguir exatamente as orientações de um “job” que a recém-contratada colocou pra mim, fui advertida, por essa mesma colega, que já estava ciente da perseguição contra mim e dos abusos de minhas superioras, que o material que eu usei havia sido alterado por mim. Eu neguei, eu não havia feito nenhuma alteração. Alertei-a de que o material passou pelo crivo da revisora, e podia ser que ela mesma tivesse feito alguma alteração gramatical, ao que ela me respondeu: “Não sei, mandaram colocar ‘no teu’. A gente sabe que não é sua responsabilidade, mas dizem que é!”

Eu pedi a ela nomes, porque não ia aceitar mais esse absurdo. Eu disse ainda que pediria uma reunião com a gerência e a coordenação para saber quem “mandou colocar no meu”. A recém-contratada se desesperou, tentou consertar dizendo que era “uma brincadeira que podia custar a demissão dela se eu levasse aquilo adiante”.

Veio um evento de 24 horas, e ela, a gestora, disse que eu deveria acompanhá-lo em sua totalidade. Eu ri! Isso contrariava a CLT e o meu descanso intrajornada, que deve respeitar 11 horas de pausa entre os dias de expediente. Ela rebateu: mas qual é o problema?

O evento começava às 19h de sábado e se encerraria às 19h do domingo, no entanto, foi mais longo.

Consegui uma pausa entre meia-noite e nove da manhã… Ainda assim, sem respeito à intrajornada…

A perseguição da gestora não parou, mas estava perto de acabar… Três dias depois desse evento, ela fez uma reunião de “alinhamento” comigo. Era assim que ela chamava as reuniões de “time” em que ela dava novas orientações. Nessa reunião, ela me chamou de insegura, insuficiente, incapaz, disse que eu “patinava”, que não se sentia segura em me dar materiais para produzir, mesmo eu estando com 90% da produção da associação. Disse que eu não ajudava a minha colega (aquela outra jornalista), como? Que horas? Relatou um fato de uma nova colega ter reclamado de mim porque me passou um trabalho sem orientação alguma e eu fui cobrá-la, afinal, o desempenho do meu trabalho dependia do trabalho dessa colega. Que a colega “se sentiu um lixo” por ter sido cobrada daquela maneira, ao que eu respondi: Como você acha que eu me sinto da forma como você me trata?

Além disso, ela me disse que eu era péssima pessoa e péssima profissional.

Depois de ela ficar 40 minutos elencando os pontos dela, todos anotados por mim, eu disse a ela que responderia a cada um daqueles itens… E comecei…

Me defendi das coisas que ela disse e atribuiu a mim, manifestei o meu repúdio ao comportamento abusivo e diferente que ela manifestava entre mim e a minha colega que, em tese, deveria dividir os trabalhos comigo…

Disse também que me sentia sobrecarregada e lembrei a ela que havíamos feito uma reunião, um mês antes, pedida por mim (nesta reunião eu a questionei sobre a forma como ela se referia a mim e aos meus trabalhos e sobre o compromisso que ela havia assumido de dividir as atividades entre mim e a colega que era visivelmente privilegiada. Privilégio este percebido pelos colegas).

Ela rebateu dizendo: não te chamei aqui pra te elogiar.

Ao que eu respondi: não quero elogio, quero respeito!

E perguntei a ela, mesmo com todas as queixas que ela tinha de mim (mesmo que eu fosse com frequência elogiada pelos colegas e por outros setores que diziam que a empresa havia “dado um salto” com a minha contratação), por que ela me mantinha lá há sete meses.

E ela, numa tentativa covarde e mau caráter me disse: bem, se você não está feliz aqui, quem tem que fazer esse exame de consciência é você!

Eu respondi: Não! Foi você quem me chamou pra essa reunião. Eu simplesmente rebati seus pontos, porque não vou tolerar ser rebaixada dessa forma. Eu já fiz uma reunião com você apontando coisas que me desagradam. Não jogue para mim algo a que você está querendo me induzir faz tempo! Eu sou uma jornalista com 22 anos de carreira, premiada e com experiência internacional e não vou tolerar que uma pessoa que desconhece a minha trajetória me meça dessa forma e me diga esse tipo de coisas!

Em sete meses nesta instituição, produzi cerca de 2 mil materiais, peças textuais, que estão salvas para quem quiser ver e/ou contestar.

Na semana seguinte a essa reunião, chegou mais um “invite”, uma isca, travestida de “alinhamento presencial”. Como no ato da minha contratação ela havia dito que queria que eu ficasse responsável pela assessoria de imprensa, achei que talvez fosse este o alinhamento presencial com a gestora e gerente, na sala do “nosso setor”, como definiu ela no convite. Ledo engano! Fui vítima de uma sórdida emboscada.

Ao chegar, a gerente já me esperava na sala de reunião, utilizada pelo departamento de RH. Quando cheguei no “nosso setor”, a gestora me recebeu e disse que a reunião se daria naquela sala. Fui acompanhada até lá, não sem antes a gestora passar no RH e chamar um representante daquele setor.

Entrei na sala, sentei e a gerente disse: estamos te demitindo por uma questão de sinergia de time e de comportamento. Você tem algo a falar?

Eu não rebati. Disse que não, poupei a elas, e a mim e a minha sanidade.

Assim, teve fim os sete meses de assédio moral naquela empresa.

Vale ressaltar que a mesma gestora já havia tentado imputar a mim erros do setor de quando eu ainda nem havia sido contratada.

Certa vez, ouvi ela dizer (naquele revezamento em que só eu e mais uma colega íamos e que por acaso a gestora apareceu por lá), em tom de brincadeira. “Admitir um erro é burrice, apontar um culpado é sensacional. Aqui somos experts nisso”!

Time era a forma como eles se referiam à equipe como um todo, e a esta era dado destaque quando “marcávamos um gol”. No entanto, quando algo dava errado, não havia responsabilização do “time”, mas sim a busca incansável para encontrar um culpado. Certa vez, eu disse aos colegas: aqui, perde-se muito tempo tentando encontrar culpado, mas não em encontrar a solução!

Minha demissão se deu em uma sexta-feira, dia 9 de julho, às 10h30. Durou dez minutos no máximo. Ao deixar a entidade, saí imediatamente dos cinco grupos de WhatsApp nos quais era obrigada a estar. Muitas vezes, a gestora utilizou esses grupos para me repreender publicamente, pois embora tivessem outros membros da equipe ali, era nestes grupos que ela se dava o direito de me interpelar, sem razão nenhuma, me cobrando coisas que já haviam sido entregues ou que não eram de minha responsabilidade.

Quando eu respondia que já estava feito, entregue e com ela para aprovação, ela respondia: Mas você precisa me ajudar! Eu tenho muita coisa pra fazer! (Como se eu não tivesse, ou seja, além de administrar meu trabalho, tinha que lembrá-la do dela).

Neste mesmo dia, às 13h30, a gerente fez uma reunião com todos os colegas, via aplicativo web, comunicando que ela havia me demitido “por questões de time e comportamento”, e que na segunda-feira seguinte, dia 12 de julho, iniciaria no setor uma nova colega (no entanto ex-funcionária – uma que pediu pra sair no ano anterior “pra viver um sonho”) e assumiria as minhas atribuições.

Ou seja, enquanto eu estava trabalhando, cumprindo o meu papel, a minha demissão foi sendo construída e arquitetada com os todos os detalhes. E enquanto eu assinava o meu desligamento, a nova contratada (aquela que havia pedido pra sair pra viver um sonho) fazia o seu exame admissional.

PAUSA – Ou seja, ficou claro que aquela reunião, em que ela me chamou de péssima pessoa e profissional, foi feita com o intuito de provocar a minha demissão, e que esta fosse motivada por mim! Desde lá, minha demissão estava sendo desenhada pelas minhas superioras.

Naquele dia, os colegas pegos de surpresa com a minha demissão, entraram em contato manifestando solidariedade e apoio. Eu agradeci a eles, estreitei contatos com outros e expliquei a situação vexatória e humilhante a que fui exposta nesses sete meses, e ouvi da maioria: não sei como você aguentou, eu já tinha percebido a perseguição com você faz tempo!

PAUSA – Dias depois, recebi um print de uma colega que conversou com a contratada “sonhadora” em que ela dizia que quando foi sondada para voltar, disse que voltaria imediatamente. Que sonho bom que ela foi viver, não é mesmo?

E mais… Sete meses em “reuniões de time” em que nos obrigavam a ler livros e participar de uma apresentação ou prova oral. No primeiro, até fiz… Era novata na empresa, achei que poderia me prejudicar se não fizesse. Nos meses seguintes, outros livros vieram e foram impostos pela gerência que disse: o primeiro livro nós demos, os demais vocês vão ter que comprar, porque livro é investimento pessoal em desenvolvimento profissional.

Bem, e eu iria viver a minha vida que horas? Nas 7 horas diárias (além daquelas mais de 160 horas extras), eu já me dedicava à empresa, eu não tinha nem tempo e nem dinheiro de sobra para investir em livros que eles me obrigavam a ler. Eu tinha/tenho casa, marido, atividades do lar e esperava ter algum lazer, o que estava cada vez mais limitado.

Sem contar que na festa junina, fomos obrigados a nos caracterizar para uma foto/print, vestidos de caipira e que expôs nossos nomes completos em uma rede social com milhões de seguidores. Além disso, éramos obrigados a rezar em grupo no início das reuniões.

Vale destacar que, ao ser contratada, o computador que seria de uso no local de trabalho, foi encaminhado a outro colaborador, e que eu fui obrigada a usar o meu computador pessoal, no qual foi instalado um sistema próprio da entidade que, além de abrir a minha privacidade para eles, possibilitava a invasão de hackers, pois o sistema estava completamente desprotegido.

O que eu aprendi com isso? Que sempre alguém vai se sentir ameaçado com a sua performance e experiência. Que o prego que se destaca é o primeiro a ser martelado, e que você não deve, em hipótese alguma, se sujeitar a situações como essa.

Mas, Jana, por que você continuou lá, mesmo com tudo isso? Porque eu gostava do meu trabalho, me sentia útil fazendo o que eu fazia, tinha um retorno positivo de quem realmente importava e porque, acima de tudo, diferente daquelas pessoas, eu sou uma profissional. Eu não estava lá pra competir com ninguém! Eu fui pra lá pra mostrar a mim mesma que eu podia mais, tanto podia que acabei incomodando.

Sobre a colega jornalista que goza de privilégios percebidos por todos do “time”, certa vez, em um grupo de Whatsapp, essa colega referiu-se a um comportamento do presidente da empresa como: “Quanta burrice numa teimosia só”, e mais adiante, desejou que a live que ele ministrava pegasse fogo: “Eu se fosse o povo do estúdio já metia fogo de verdade na fogueira cenográfica e acabava com a festa hahahahaha”. Ela disse isso no grupo onde a sua coordenadora estava, e esta não ficou nem um pouco desconfortável com a “brincadeira” da subalterna, o que já teria gerado demissão por justa causa, para ambas, inclusive.

Minha dica é: não se cale! Caso se sinta desrespeitado, sinalize, pra não dizerem que você não avisou! Não deixa a água bater no pescoço para pedir socorro, nem que seja um pedido silencioso a si mesmo!

Procure os seus direitos!

E se a Amanda Klein afirmou que “em ambiente tóxico não se faz jornalismo”, como eu apontei no início deste texto, eu gostaria de completar a fala dessa colega e dizer: em ambiente tóxico não se faz absolutamente nada!

 

 

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