Duas pandemias: Inatividade física e Covid-19, qual a pior?
Desde o final de 2019 estamos nos habituando com a pandemia da Covid-19, a qual ocupa boa parte do tempo dos noticiários, das mídias sociais e das nossas vidas. Sabemos todos os dados diariamente, basta assistir ao telejornal ou acessar algum portal de notícias, que lá estão todos os números, incluindo o de óbitos. Pois é, até aqui nada de novo. Agora vamos à situação que nem todos têm ciência e já nos acompanha há anos: a pandemia da inatividade física. Você já ouviu falar?
Nesses tempos, muito se fala em manter hábitos saudáveis para aumentar a imunidade, em especial, a atividade física, que deve ser praticada regularmente, mesmo que dentro das casas para respeitar o distanciamento social/físico e atenuar a propagação do vírus.
Embora saibamos da importância do exercício físico para a saúde, além dos inúmeros benefícios sociais, grande parte da população é insuficientemente ativa, isto é, não pratica atividade física seguindo a recomendação básica de 30 minutos diários. Está é uma observação de longa data, mas em 2012, um estudo publicado na revista The Lancet apontou que o mundo sofria com a pandemia da inatividade física e ações de caráter populacional deveriam ser implementadas o quanto antes.
A inatividade física é responsável por cerca de 5 milhões de óbitos ao ano, além de um custo estimado aos sistemas de saúde de 53 bilhões de dólares em 2013, sem contar a perda de produtividade. Com todos esses dados, as instituições mundiais responsáveis pela saúde pública têm proposto metas e adotado estratégias para reduzir esse comportamento.
Agora que já sabemos um pouco dessas duas pandemias, podemos refletir sobre o impacto em nossas vidas.
Vamos lá! Pessoas com comorbidades (diabetes, hipertensão, obesidade, etc.) são mais ameaçadas pela Covid-19, e a inatividade física é um dos principais fatores de risco para tais doenças. Será que os efeitos catastróficos da Covid-19 não seriam menores se as pessoas tivessem o hábito de praticar mais atividade física?
Agora pensemos no futuro. Com a adesão ao distanciamento social e fechamentos dos espaços destinados à pratica de exercícios físicos, a hipótese é de que as pessoas estejam se “movimentando” ainda menos. Sabendo dos diversos fatores que fazem uma pessoa ser ou não fisicamente ativa, é bastante provável que o período de isolamento aumentará o nível já elevado da pandemia da inatividade física e, consequentemente, não serão atingidas as metas impostas, que já estavam ameaçadas mesmo antes da pandemia da Covid-19.
Desse modo, é importante que cada um tente fazer a sua parte e realize exercícios físicos regularmente, assim como adotamos o uso da máscara, a higienização das mãos, o distanciamento social e nos indignamos com o não cumprimento destas medidas por outras pessoas.
Da mesma forma que reivindicamos ações efetivas e estruturadas dos governantes para mitigar os danos causados pela Covid-19, temos que cobrar ações que facilitem a prática de atividade física. Alguns exemplos são infraestrutura adequada para a utilização de bicicletas como meio de transporte; melhora da segurança pública para que as pessoas possam fazer exercícios físicos ao ar livre; e planejamento curricular e físico das escolas, de modo a aumentar a atividade física entre as crianças.
Afinal, estas são algumas ações que determinarão os diabéticos, hipertensos e obesos do futuro, que estarão mais ou menos preparados para enfrentar outras epidemias com probabilidade de surgir no mundo.
Autor: Rafael Luciano de Mello é especialista em Treinamento desportivo, prescrição do exercício e Gestão em esportes e fitness, professor da área de linguagens cultural e corporal nos cursos de Licenciatura e de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.