Por uma “atenção amorosamente interessada” pelos outros: a necessidade de empatia nos tempos atuais
O exercício da empatia deveria ser constante e uma prioridade em nossas vidas. Para reconhecermos a importância desse gesto, basta pensar em como nos sentimos felizes quando somos compreendidos e acolhidos pelas pessoas. Essa capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender seus sentimentos, valores, concepções, crenças, perspectivas, resulta em uma postura de respeito, apoio, gentileza, e consideração pelo lugar que cada um ocupa nas mais diferentes esferas da vida humana.
Há, contudo, na empatia, a impossibilidade de ocupar totalmente o lugar do outro, dada a diversidade de vivências refletidas nas singularidades e especificidades humanas. Com isso, quero dizer que eu posso compreender determinados sentimentos do outro, mas nunca poderei sentir exatamente o que ele sente, pois suas vivências são singulares. Trata-se de uma questão ética reconhecer esse limite da minha empatia em relação ao outro, caso contrário, posso desmerecer e desvalorizar os sentimentos alheios, julgando o outro a partir da ideia de que sei exatamente o que ele pensa e sente, partindo dos meus valores pessoais, desconsiderando que cada pessoa vive uma mesma situação de modo particular.
Ser empático não significa pensar e sentir igual ao outro. O outro tem um horizonte avaliativo que pode ser muito diferente do meu, o que não quer dizer que eu não possa me aproximar de sua realidade e permitir que ele se aproxime da minha, mas, nisso, reside um desafio, pois, quanto maior for a minha diferença em relação ao outro, mais difícil será eu me colocar no lugar dele e aceitar, compreender e acolher seu modo de ser, agir e pensar. Ser empático com aqueles que são parecidos conosco é uma tarefa relativamente fácil, pois nossos horizontes avaliativos se aproximam, mas ter essa postura com aqueles que são diferentes de nós exige um grande esforço e o desejo de querer entender o ponto de vista alheio, ainda que não concordemos com ele.
O pensador Mikhail Bakhtin, em uma de suas obras, reflete de forma belíssima sobre essa relação de empatia, segundo ele: “somente uma atenção amorosamente interessada, pode desenvolver uma força muito intensa para abraçar e manter a diversidade concreta do existir sem empobrecê-lo ou esquematizá-lo (…) O desamor e a indiferença nunca geram forças suficientes para nos deter e nos demorarmos sobre o objeto, de modo que fique fixado e esculpido cada mínimo detalhe e cada particularidade sua. Somente o amor pode ser esteticamente produtivo, somente em correlação com quem se ama é possível a plenitude da diversidade”.
Pautado nessa reflexão, podemos afirmar que todo movimento de empatia deve vir acompanhado de uma “atenção amorosamente interessada”. Aqui falamos de amor no sentido universal e humanitário, que está direcionado para todas as pessoas e, principalmente, para aquelas que sofrem pelas injustiças sociais desse mundo tão desigual. Não podemos ser indiferentes em relação aos sentimentos alheios. Somente movidos por aquilo que nos une enquanto seres humanos poderemos empaticamente lutar contra aquilo que produz sofrimento em cada um de nós e na humanidade como um todo. Você está disposto a ter esse posicionamento ético e responsável?
Referência: Bakhtin, Mikhail. “Para uma filosofia do ato responsável”. São Paulo: Pedro & João Editores, 2010.
Wallisten Garcia, psicólogo, mestre em Psicologia pela UFPR, especialista em Terapia Familiar, doutorando em Educação pela UFPR e professor da Estácio Curitiba