Acerca da atenção plena e estado de flow no aqui – agora – comigo
Vivemos em um mundo acelerado, cheio de luzes, sons, cores, informações, exigências e movimentos. Um mundo que pede desempenho, acertos, que não tolera erros, que critica, que aponta e que julga. Por outro lado, há também o mundo belo, suave e sereno. Para qual aspecto desse mundo olhamos?
Parece impossível estar nesse turbilhão de busca de excelência, perfeição e, ao mesmo tempo, tendo a obrigação de parecer feliz, grata e bem-sucedida o tempo todo, sem enlouquecer, deprimir ou desenvolver ansiedade. Como fazer?
Por mais que eu me afaste do mundo externo com todo o tipo de estímulo, o meu mundo interno pode estar bem longe de ser calmo e sereno. Assim, algumas coisas eu aprendi a fazer para desacelerar e duas delas gostaria de compartilhar nesse espaço: a pintura em tela e a meditação.
Quando eu pinto eu penso só no desenho que estou fazendo, nas cores e no cheiro da tinta. É como se o mundo parasse e os pensamentos silenciassem. Eu perco a noção do tempo e do espaço, sou só eu com as mãos manchadas de tinta e a tela em branco que vai ganhando cores aos poucos. Esse é um exemplo de estado de flow que o psicólogo croata Mihaly Csikszentmihaly fala: um estado de fluxo em que se está totalmente imerso e presente na atividade em se está executando tendo motivação intrínseca.
E o bom dessa prática é que não é uma obrigação, não é um compromisso e não é uma produção que precisa estar perfeita. Não tenho prazos nem inquietações. Um quadro pode levar um ano ou mais para ser finalizado e está tudo bem! Quando eu não gosto do que eu faço, eu apenas pinto de novo, pinto por cima e fica tudo bem! Eu pinto quando eu quero, quando estou inspirada, sem pressão.
Quanto a meditação, não é sempre que paro para fazer, mas é uma prática fundamental para desfrutar de uns minutos de silêncio fora e dentro de mim, estando em contato comigo mesma – com minhas sensações, minha respiração, meu corpo e meus sentimentos. Algumas pessoas me olham com cara de espanto e me dizem: “Eu não consigo não pensar em nada”.
Mas não é assim! Não é “não pensar em nada”, é, na verdade, focar a atenção em um ponto específico (respiração, imagens, sensações corporais, etc.). Simples assim? Não! Vários pensamentos pipocam na minha mente, mas o lance é deixar os pensamentos surgirem e irem embora, voltando, constantemente e delicadamente, a focar em um ponto com muita paciência e compaixão por mim mesma.
Eu também procuro ter essa atitude meditativa em outros momentos também: caminhando na rua e prestando atenção na cor do céu, na temperatura do ambiente, nas árvores, nas flores e nas edificações por onde eu passo.
Mas engana-se quem pensa ser fácil meditar e entrar em um estado de flow. É um esforço diário e para toda a vida que me ajuda a regular as minhas emoções, pensar com mais clareza e estar mais no aqui – agora – comigo mesma.
Para quem quiser saber um pouco mais sobre o estado de flow, eu indico a palestra de Mihaly Csikszentmihaly no TED. Sobre meditação, há uma série na Netflix chamada “Headspace – Meditação Guiada” muito interessante.
E você? O que faz para conquistar um estado de presença e bem-estar?
Juliana Corrêa Schwarz, psicóloga clínica com base na Terapia Cognitiva-Comportamental e Professora na Estácio Curitiba