O que dizemos para as pessoas quando não falamos nada?
por Ronaldo Rangel
Possivelmente a comunicação seja um dos principais elementos que nos diferenciam de outros animais, ao menos em nossa forma de comunicação. Sabe-se que os animais se comunicam entre si, mas como o ser humano, é outra coisa. Além da comunicação falada (verbal), ainda utilizamos a comunicação não verbal.
A questão é que para o ser humano, o que fica de concreto é aquilo que se percebe, por esta razão por vezes tem-se a impressão que as pessoas enxergam ou mesmo vivem em realidades diferentes.
A percepção é a capacidade que o ser humano possui em organizar e interpretar estímulos que foram recebidos pelos sentidos e que possibilita identificar certos objetos e acontecimentos. Passa por duas etapas, a sensorial e a intelectual.
As duas se complementam, porque as sensações não proporcionam uma visão real do mundo, e devem ser trabalhadas pelo intelecto, fazendo uso, por exemplo, da Percepção Visual, Percepção Social, Percepção Musical, Percepção Auditiva, Percepção Táctil, Percepção Olfativa e Percepção Gustativa.
Enfim a Percepção é resultado do contexto em que a pessoa vive, sendo diferentes para cada uma das pessoas, uma vez que cada uma delas interpreta as sensações de acordo com sua personalidade e conhecimento, que seria a etapa intelectual.
Desta forma podemos entender que a própria comunicação fica atrelada as questões de percepção. Quanto maior for o número de canais ou possibilidades de transmitirmos informações aos demais, melhor será nossa comunicação e menor será a possibilidade de distorção nos processos de comunicação. O problema é que nem sempre é possível ou mesmo queremos utilizar tantos canais e ainda existe o fato de que as pessoas nos observam o tempo todo, mesmo quando não estamos atentos. Pode-se dizer que o ser humano se comunica o tempo todo, querendo ou não. Muitas vezes transmitimos informações ou impressões de forma distorcida ou muito segmentada, onde estas distorções ocorrem em virtude da nossa forma de nos comunicarmos de maneira não verbal.
É impossível tentar bloquear a comunicação não verbal, ela é espontânea e mesmo quando pensamos não estar fazendo nada, ou ainda quando estamos distraídos e quietos, os outros nos leem, e esta leitura se baseia muito fortemente nos sinais que emitimos por meio de nossas ações corporais e principalmente na percepção que os outros fazem a respeito destes sinais. Existem sinais, ou seja, movimentos que são entendidos por todas as pessoas da mesma forma, desta forma deve-se conhecer e tomar os devidos cuidados com nossa comunicação, aproveitando esta universalidade de entendimento, como os braços abertos após uma vitória esportiva ou posturas “caídas” que transmitem insegurança. Existem ainda outros tantos comportamentos ou posturas que podem ser entendidas das mais diversas formas.
Logo é interessante destacar que na medida em que conhecemos nossa comunicação não verbal, podemos direciona-las de maneira intencional, demonstrando liderança, coragem, autoestima ou qualquer outra característica que entendermos como interessante. Começamos fingindo, em outras palavras, treinando, até virarem habito e por fim, uma postura verdadeiramente nossa.
Pode-se afirmar que sempre estamos nos comunicando e a comunicação não verbal atinge aos outros antes mesmo de falarmos algo verbalmente, desta forma torna-se fundamental ficar atento ao que estamos dizendo para as pessoas, simplesmente porque nos portamos ou nos apresentamos cotidianamente. De certa forma torna-se mais interessante sempre que possível nos comunicarmos de maneira mais abrangente, onde a fala completa os gestos, lembrando sempre a questão da percepção do outro estará presente, de forma que podemos apenas buscar prevenir ou minimizar, as possíveis distorções dos outros.
Também é interessante pensarmos, quais informações ou mensagens queremos transmitir, mesmo de forma não verbal e assim direcionar de maneira intencional, aquilo que desejamos.
Sendo assim, pode-se entender que “o que dizemos para as pessoas quando não falamos nada?” é o resultado daquilo que efetivamente gostaríamos dizer de forma não verbal em relação ao que é de fato é possível ser compreendido por quem nos observa e suas percepções da realidade. O que é indiscutível é que sempre transmitimos algo, mesmo ou principalmente quando não dizemos nada. Comunicação é isto, a capacidade de sermos entendidos pelos outros naquilo que gostaríamos de transmitir a eles.
Ronaldo Rangel Cruz – coordenador do curso de Psicologia da Estácio Curitiba