Tenho a impressão que os novos profissionais estão chegando cada vez pior no mercado, será?

Por Ronaldo Rangel Cruz

Volta e meia no mundo corporativo alguém faz algum comentário referente aos novos funcionários que se apresentam ao mercado de trabalho. Neste momento uma pergunta se apresenta, “Tenho a impressão que os novos profissionais estão chegando cada vez pior no mercado, será”? Bem, de certa forma existem outras questões que se fazem necessárias responder: Pior em que sentido? Podemos separar a pessoa do profissional? Quais as minhas expectativas e quais as minhas necessidades como empregador? Quais os conflitos presentes nas relações entre empresas e novos profissionais? Ainda existem conflitos de gerações? Em que os novos profissionais são ruins? Em que os novos profissionais são bons?

Neste sentido devemos estar atentos a diversas questões que compõem as relações de trabalho, bem como, as relações pessoais. Por exemplo, a cultura organizacional esta alinhada com a cultura social em que está inserida? Como o mercado evoluiu nos últimos 100 anos? Os profissionais estavam preparados? Parâmetros qualitativos para considerar? Questões socioeconômicas; Questões de formação acadêmica; Diversidade e o politicamente correto; de quem são as responsabilidades; sociedade, família, escola, empresa e indivíduo? Para onde vai o mundo e o mercado?

São tantas questões que fica difícil saber qual a mais relevante ou importante, porém outra questão se apresenta do ponto de vista dos empregadores, “Será que sou muito exigente ou a cada dia tenho que explicar, ensinar e cobrar “coisas” que me parecem obvias”?

Ouvindo alguns empresários, surgiram algumas questões, “os profissionais novos acreditam que já estão muito preparados e antigamente não era assim”. “Os jovens estão sempre insatisfeitos, trocam de emprego muito rápido, gerando rotatividade”. “Os jovens sentem-se desvalorizados, precisam ser “reconhecidos” com frequência”. “Eles valorizam mais o titulo do cargo do que o conhecimento ou ganhos reais”. “As pessoas devem estar sempre se desenvolvendo, mas falta a vontade nos profissionais em estudar ou buscar novos caminhos”. “As empresas querem as pessoas prontas, não aceitam esperar o amadurecimento dos profissionais”. “Existe um imediatismo dos profissionais, bem como das empresas também”. Estas falas parecem ser um tanto fatalistas ou pessimistas, mas existem outras abordagens ou mesmo outras possibilidades para entendermos este processo.

Podemos separar a pessoa do profissional? Inicialmente devemos entender que não, é claro que o bom profissional consegue administrar de forma adequada as possíveis influencias existentes entre os momentos profissionais e os pessoais e vice-versa. Mas o indivíduo é um só, e atualmente em especial com as novas gerações a vida esta sendo vivida de forma intensa, com inúmeras informações e estímulos acontecendo simultaneamente. Trabalho, propósito de vida, valores e redes sociais, tudo acontecendo em uma única plataforma, o indivíduo. Devemos estar atentos entre as expectativas e as necessidades. Expectativas estão relacionadas aos desejos, enquanto necessidades ao que realmente precisamos. Muitas vezes as incoerências entre estas posições complicam as relações e os resultados entre as pessoas. Ainda existem conflitos de gerações? Quais gerações estão conversando? Neste momento várias gerações estão coexistindo, os Baby Boomers – nascidos entre 1944 e 1964; a Geração X – nascidos entre 1965 e 1979; os Millennials (Geração Y) – nascidos entre 1980 e 1994; e a Geração Z – nascidos entre 1995 e 2015. Os Zoomers (também conhecidos como Gen Z) utilizam sua rede social favorita, TikTok , para declarar guerra aos millennials, à cultura millennial é considerada cringe. É muito comum tratar Geração Z e Millennials como sendo da mesma geração. Mas são diferentes. Em 2022 os Millennials estão na faixa etária entre os 26 e 42 anos. Essa geração cresceu no início de uma crise financeira global e em meio a uma grande aceleração na tecnologia digital.  É uma geração definida como um grupo mais diversificado e socialmente liberal do que os nascidos nas gerações anteriores.  Poucos alcançaram marcos como casamento, propriedade privada e paternidade. Muitos, inclusive, ainda moram com os pais e não veem isso como algo negativo.  Apesar de parecer ganhar mais do que as gerações anteriores, a geração Y não tem muita renda disponível.

Entende-se que 47% da geração Y afirma que a internet é a única coisa que eles não podem viver sem. Por que a internet? Porque a internet entrega o que eles querem. Sentir-se parte de uma comunidade; se divertir; ter mais controle sobre o que se relaciona; confiar e acreditar nas marcas e nas causas que eles apoiam. Os Millennials preferem experiências a ótimos produtos, bens de consumo ou dinheiro. Eles preferem gastar o dinheiro com o viver do que com o possuir. A Geração Z é marcada como uma geração que desafia estereótipos e dita as próprias regras.  Nascidos entre 1995 e 2015, a geração Z representa em torno de 25% da população mundial.  Para essa geração, simplicidade, comunicação, ecologia e valores são muito importantes em termos pessoais e profissionais.  A geração Z nasceu em meio a desastres ecológicos e incertezas do futuro.  Apesar de ser uma geração individualista e dividida, essa é a geração mais diversificada da história, definida pela tecnologia, fluidez e união de diferentes culturas. Para eles, diferença não é algo que assusta, muito pelo contrário, atrai.

Essa geração busca empresas que deem valor ao indivíduo e que tenham propósitos.  Eles esperam que as empresas promovam a inclusão e a igualdade de oportunidades em tudo que fazem.  Eles assistem um tutorial no YouTube e colocam a mão na massa. O trabalhador da Geração Z precisa ser conquistado. As empresas precisam ser flexíveis para atender a demanda desta geração. A Geração Z quer experiência, se sentir único, mas, ao mesmo tempo, saber que a sua empresa se preocupa e atende o todo.

Segundo uma pesquisa feita pelo Banco Itaú BBA, em 2019, os Millennials formam 34% da população mundial, sendo que 50% deles estão inseridos no mercado de trabalho, e 23% contam com curso superior completo.

Em que os novos profissionais são ruins? Para uma geração sem limites, obedecer as regras torna-se ditadura. Em que os novos profissionais são bons? Não tem medo de mudanças, são multitarefas; buscam atualização constante; tendem a encontrar soluções rápidas e simples; aceitam facilmente novas tecnologias; escolhas de vida sustentáveis; acreditam em causas e propósitos, quando alinhados.

Enfim podemos perguntar, “A cultura organizacional esta alinhada com a cultura social em que está inserida”? “O espaço é estimulante para esses colaboradores inquietos? Os programas de desenvolvimento são bem estruturados para estagiários e trainees, além de bons planos de carreira para profissionais efetivos? Consegue-se oferecer reconhecimento e promoções rápidas”? Os Millennials não aguentam ficar parados na mesma posição por muito tempo.

A cultura organizacional deve estar alinhada com a cultura social em que está inserida. Deve-se buscar o profissional como protagonista; Não tratar estes profissionais como mais um número, bem como oferecer treinamentos e aprimoramentos constantes e demonstrar que o trabalho destes profissionais tem valor real, oferecendo horários flexíveis. Eles não são do tipo viver para trabalhar.

Humildemente devemos perguntar como o mercado evoluiu nos últimos 100 anos? Os profissionais estavam preparados? Acreditamos que a evolução dos profissionais sempre esteve diretamente relacionada a evolução do mercado e vice e versa, em uma relação dialética. Desta forma podemos entender e responder de certa forma ao menos a questão inicial, “Tenho a impressão que os novos profissionais estão chegando cada vez pior no mercado, será”?  Parece-nos que não, o que parece é que os conflitos entre gerações continuam presentes, mas se todos tiverem um tanto de humildade e outro tanto de curiosidade, além de tolerância, todos têm a ganhar. Os mais antigos, podem aprender e incorporar a nova mentalidade muito mais aberta à diversidade, velocidade, e os mais jovens, a busca por um equilíbrio e uma visão de longo prazo, entre outras. Mas sem dúvida estas são apenas algumas reflexões circunstanciais que certamente mudarão em pouco tempo ou até a próxima geração entrar no mercado.

“Cada geração se imagina mais inteligente do que a que veio antes dela e mais esperta do que a que vem depois dela” (George Orwell).

Ronaldo Rangel Cruz, coordenador do curso de Psicologia da Estácio Curitiba

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