Você sabe o que é trashing?

*Mayra Martins Cardozo

Recentemente experimentei o fenômeno de trashing que é o lado sombrio da sororidade. Eu tive o meu trabalho questionado por uma mulher feminista que denunciou meu perfil em um grupo feminista me acusando de ser opressora, sexista e gordofóbica e incentivou um cancelamento em massa do meu perfil apenas por eu não compactuar com a ideia do feminismo radical de que a exposição do corpo é algo negativo para o movimento feminista.

Entendo as ideias que estão por trás disso e são muito legítimas, mas tenho o direito de discordar, agora o que é injustificável é você impor uma ideia para outra pessoa através do fenômeno da detonação.

“Ah então porque você não pensa como eu eu vou comentar em todas as fotos do seu perfil para te expor e falar como você é uma falsa feminista”. Aliás esse diálogo de diferenças de contrapontos seria plenamente possível se ao invés de me expor a pessoa quisesse construir um diálogo comigo no privado, sem me expor e tentar destruir minha credibilidade para os meus seguidores, familiares, amigos e clientes.

Isso foi doloroso, porque já fui atacada por mulheres que não compactuam com o feminismo, mas pela primeira vez fui atacada por mulheres feministas. O foco não deveria ser esse, deveríamos buscar o diálogo, a união e o respeito,  não imposição de saberes e julgamentos.

Também é importante falar sobre o que é esse fenômeno de detonação e como muitas vezes ele é usado por pessoas com ideais progressistas, mas que na realidade se transformam na ideia do oprimido imprimindo as próprias ações dos opressores.

Detonação não é discordar de uma ideia é uma forma particularmente cruel de assassinato de reputação – é o “só porque você me bloqueou porque eu estava sendo inoportuna e inconveniente no seu perfil vou te detonar, vou jogar o seu ig em um grupo para ter um cancelamento coletivo”.

O trashing é tão cruel quanto um estupro coletivo. É manipulador, desonesto e excessivo. É ocasionalmente disfarçado pela retórica do conflito honesto, mas ele não é feito para expôr desacordos ou resolver diferenças. É feito para desacreditar e destruir.

Esse ataque é executado fazendo com que você sinta que a sua mera existência é prejudicial ao Movimento e que não há nada que se possa fazer para mudá-lo. Infelizmente experimentei o lado sombrio da sororidade, que nada mais é do que a reprodução da lógica patriarcal de rivalidade feminina.

*Mayra Cardozo, advogada especialista em Direitos Humanos pela Universidade Pablo de Olavide (UPO) – Sevilha. A professora de Direitos Humanos da pós-graduação do Uniceub – DF, é palestrista, mentora de Feminismo e Inclusão e Coach de Empoderamento Feminino. Membro permanente do Conselho Nacional de Direitos Humanos da OAB e do Comitê Nacional de Combate à Tortura do Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.

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