Foco nas pequenas alegrias

por Suellen Alves

Tudo passa…

Perdi completamente as rédeas da vida e acabei ficando tão sem assunto ultimamente, que não sabia nem sobre o que escrever e resolvi fazer uma retrospectiva desde o início da pandemia.

Fui do céu ao inferno. Começou com crises de ansiedade e virou síndrome de pânico, destes monstros que a gente alimenta e cresce, logo escreverei só sobre isso para compartilhar com vocês o mais importante, isso também passa.

Mas a vacina veio e com ela o afrouxamento do isolamento, devagarinho comecei a ver mais pessoas, voltei para academia, meus pais vacinados, tudo aparentemente tranquilo, o número de mortes diminuindo, não perdi ninguém na pandemia e isso já deveria ser motivo o suficiente para estar feliz. Não estava sendo!

De repente, veio uma crise alérgica, nariz trancado — Primavera chegando — Pensei; minha mãe com aftas, meu pai com tosse, a rinite pegando todo mundo, ok! No domingo chuvoso, febre, dor de barriga e tosse __ vou gripar, pensei__ (e nisso esqueci completamente que estávamos numa pandemia, a gente definitivamente se acostuma com tudo e ficar enfurnada em casa, já é normal por aqui). O fato é que quando a pequena deu febre, os sinais de alerta apitaram e foi então que resolvi fazer o teste: Bingo! Covid! Eu que cuidei tanto, me fechei, tomei distância, não tirei máscara, baixei a guarda e peguei. — Pegamos todos, pai, mãe, a criança e eu. Não fazemos ideia de onde veio.

— Bendita vacina!”. A doença passou como uma brisa, poderia ser sido vendaval, como fora para tantos. Isolados em família, com uma criança de 7 anos. E até mesmo eu que não costumo ser good vibers e questiono tudo, me senti genuinamente agradecida.

Os dias passaram rapidamente, buscamos formas de distração para a pequena que fugisse um pouco do celular, encontramos várias. E tudo passa, é incrível esse poder do tempo de resolver as coisas de uma maneira tão sútil, quando mal percebemos já temos problemas novos para resolver. Essa coisa de vida adulta. Às vezes é chato. Mas é bom também.

Das coisas de ser adulto, brasileira e estar numa pandemia há tanto tempo, faz a gente perder o traquejo social, a gente perde a vontade de viver a vida lá fora. A gente se acostuma — como diria o texto lindo da Marta Medeiros.

O tanto que o ser humano é adaptável é também das coisas que eu acho incrível. A gente aprende a viver dentro e não tô falando dentro de casa, mas dentro da gente.

Gente tem essa coisa de expectativa, de planejar e de tentar acreditar que temos algum poder ou controle sobre as coisas, sobre o futuro… não temos! Viver um dia de cada vez foi das coisas que aprendi na marra durante a pandemia, particularmente, adoro um planejamento, tem algo aqui dentro que acha que me livro da morte.

A morte está sempre à espreita, não dá para vacilar.

Quando é justamente o medo da morte que nos rouba a liberdade, não dá pra ser livre, sem vontade de viver e enxergar a beleza das pequenas coisas. A liberdade é o oposto do medo. Vontade de viver dá e passa. Mas na contramão do ditado popular, que diz que a vida não é um mar de rosas, acredito que é sim, no entanto é por isso que aparecem tantos espinhos.

Então a gente se joga nesse mar e nada tentando desviar dos espinhos, nem sempre dá, as vezes a gente passa o tempo todo tirando espinho e cuidando das feridas. O tempo passa.

Mas como nem tudo é treta, furacão ou calmaria, a vida pega os acontecimentos que seriam péssimos e transforma em situações inesperadas, que se fossem planejadas não dariam tão certo, e por certo leia- se encontrar alegria nas pequenas coisas.

 Minha pequena alegria, tem nome e sobrenome, 7 anos e atende por perequitinho da dinda, piazinha e Rafa. A pandemia me tirou de um lugar que eu não queria sair, para me colocar num lugar onde eu não planejei voltar, mas no fim, não poderia ter sido melhor, ter uma criança na minha rotina diária, foi o conforto que minha alma precisava há tempos e eu nem sabia.

Ela chega de manhã e corre pro meu quarto dar “Bom dia, dindinha!” Um amor tão genuíno e uma relação construída sem nenhum interesse, apenas baseada no afeto e na atenção. Ela tem minha atenção e tem de mim o que eu tenho de mais valioso, tempo, não à toa dizem que afilhados são filhos do coração e ela conta orgulhosa que sou sua “mãedrinha”.

A relação mais especial que eu tenho, poder participar da fase de alfabetização dela foi das coisas mais legais que já fiz, e eu tenho uma infinidade de coisas legais na vida. A gente se respeita e se escuta e se ama de um jeito tão nosso e genuíno que me emociona.

Daqui a pouco ela vai crescer e talvez não lembre mais dessa parte da vida, que tirou ela do convívio da maioria das pessoas, mas trouxe ela para mim, ela traz vida para a nossa vida, apesar de todas as “coisas de criança” que faz parte daquele “mar de rosas”, ela traz mais vida para nossa vida.

Dizem que quando você mora com os pais, você não paga com dinheiro, paga com sanidade mental, mas foi justamente esse retorno, depois de tantos anos, que me permitiu ficar pertinho dos meus e ver o quanto ainda é lindo ver essa menininha sagaz, que tem resposta para tudo na ponta na língua, aprendendo a ler, escrever e iluminar tudinho ao redor só por existir.

Provavelmente eu já li isso em algum lugar, e não posso nem dar os créditos porque o nome não me vem, apenas a frase ficou, que diz:

Às vezes a vida vira do avesso e o avesso é o lado certo!

Como boa apreciadora de frases, incluindo as motivacionais, por que não? Entendo perfeitamente, quando dizem que a vida é como uma xicara de café que as vezes precisa balançar, porque o açúcar está no fundo.

Hoje esse pequeno projeto de adulto, disse que “A vida não é fácil para ninguém” e ela tem razão, na sabedoria do alto dos seus 7 anos. A gente sempre pode tentar deixar a vida mais maneira, fazer o que dá, com o que tem, porque cansa ser brasileira numa pandemia, num país desgovernado por Bolsonaros, mas cansa ainda mais não acordar todo dia intencionado a ter um bom dia, não se dar a chance de ser feliz, tal qual uma criança serelepe de 7 anos. Mais do que nunca, eu me recuso a desistir, seja lá o que isso signifique.

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