“Mulheres têm de se permitir conhecer o próprio corpo”, afirma escritora do romance “De Eva A Madalena”

Sexo é tabu. Ainda em 2020, o tema não é discutido abertamente pela sociedade, e muitas mulheres e também homens sofrem as consequências da falta de educação sexual. Para a escritora Luciene Balbino, do romance “De Eva A Madalena”, as pessoas não sabem lidar com seus desejos e há também falta de autoconhecimento.
Também jornalista, Luciene passou por uma imersão de dois anos quando escreveu “De Eva A Madalena”, romance inspirado em mulheres que cobram por sexo como forma de fetiche ou vingança.
“As mulheres têm de se permitir conhecer o próprio corpo. Mulheres que muitas vezes se ‘vendem’, não se amam também, acham que não têm capacidade de serem amadas, que os homens só vão se interessar se elas se venderem.”
Para Luciene, é importante deixar claro que sexo também é dizer “não”. “Muitas mulheres, em busca do amor, acabam se doando mais do que gostariam para agradar o homem. Não sabem dizer ‘não’, que não gostam de anal ou não querem, por exemplo. Isso é um tabu. A sociedade ainda é machista, e a mulher se sente obrigada a dizer sempre ‘sim’. É preciso haver consenso.”
Além da dificuldade em negar certos pedidos no sexo, há ainda o fato de que muitas mulheres nem mesmo sabem o que é um orgasmo – porque nunca chegaram lá.
“Toda mulher que eu conheci já mentiu orgasmos. A maioria nem nunca sentiu. Elas sempre acham que têm de fazer uma performance legal para dar prazer para o homem, e se o homem sentiu orgasmo, aí ela acha que se sente bem, mas às vezes não sentiu nem cosquinha.”

Sobre o romance “De Eva a Madalena”

Antes da explosão da série de livros “Cinquenta Tons de Cinza”, Luciene decidiu começar a escrever um conto erótico. Mas ela achava que o projeto não iria pra frente no Brasil por conta do tema polêmico e desistiu da publicação.
A história que conta em detalhes o relacionamento de Anastasia e Christian Grey, porém, abriu portas para esse tipo de conteúdo e a ideia voltou para a cabeça da escritora.
Foi quando ela decidiu ir atrás de histórias reais para se inspirar. Entrou em um bate-papo de um grande portal brasileiro e descobriu uma sala em que mulheres ofereciam sexo em troca de dinheiro.
Com pseudônimos, tantos femininos quanto masculinos, Luciene passou a conversar com as pessoas da sala e descobriu que essas mulheres não se intitulavam como prostitutas. Muitas, inclusive, tinham uma profissão em sua vida fora do grupo: dentista, jornalista, advogada… O que elas procuravam era satisfazer um desejo: um fetiche ou uma vingança.
“A maioria era casada, e fazia isso porque o marido não comparecia, só viajava… Elas queriam se vingar. Se aproveitavam, transavam e cobravam para não criar vínculo.”
Em determinado momento, Luciene passou a marcar encontros com essas pessoas, mulheres e homens. Ao se revelar como jornalista, em algumas vezes quase apanhou, mas também conseguiu conversar e entender melhor a história por trás da sala de bate-papo.”
“As pessoas mentem muito na internet sobre o próprio perfil. Teve o caso de um homem bem fora do padrão, bem diferente do que ele dizia ser, que só se relacionava dessa forma porque achava que as mulheres não iriam se interessar por ele naturalmente.”
A jornalista também conheceu histórias de abuso, como o caso de uma moça que se submeteu até mesmo a sexo anal com a promessa de receber bem, mas nunca viu nem a cor do dinheiro.
As histórias de fetiche e vingança vindas das mulheres resultaram em Helena, a personagem central do romance “De Eva a Madalena”, lançado no Brasil pela editora D’livros e em Portugal pela Estúdio Didáctico.
“Ela é uma mulher que está cansada de procurar o amor, de se machucar e ser enganada. Ela tinha essa fantasia de vender o corpo para ter prazer e se descobrir e vai fundo nesse lado ‘sombra’ dela. Mas uma coisa é a fantasia na cabeça, outra é fazer.”
A personagem se machuca muito durante essa fantasia que decide experimentar, mas algo dentro dela muda após a vivência. “Tem a relação da Helena com a mãe também”, conta Luciene. “A mãe é uma mulher muito submissa, dona de casa, que viveu sempre para o marido e não era feliz. Helena passa a entender melhor a mãe.”

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