O que faz uma pessoa mudar de verdade?

Chegamos à quarta e última lição da série especial “As lições mais preciosas de Monja Coen!”.

Esperamos que a última semana tenha sido profundamente inspiradora para você. Ao longo desta série conversamos sobre temas fundamentais para quem deseja se transformar de dentro para fora.

Vamos relembrar um pouco o que passou?

Na primeira lição, falamos sobre amor-próprio. Você aprendeu quais são as origens da baixa autoestima, como valorizar mais as suas qualidades, se libertar da comparação com os outros e se aceitar do jeito que é…

E ainda conheceu a história de Monja Coen antes de se tornar monja, quando ela ainda era Claudia. Soube de todos os desafios que ela precisou superar — inclusive a vontade de interromper a própria vida —  para aprender a apreciar cada momento de sua existência.

Na segunda lição, caminhamos com os aprendizados para quem deseja ter mais independência emocional.

Conversamos sobre a comparação doentia com os outros, os julgamentos que fazem sobre e nós e que fazemos de volta, como lidar com pessoas “difíceis”, como receber críticas sem se ofender, como lidar com a reprovação dos outros…

E o mais importante: o que fazer para mudar de verdade nosso estado interno diante destas situações.

Na terceira lição, você aprendeu mais sobre um dos assuntos mais procurados nos últimos tempos: a ansiedade.

Você entendeu as origens da ansiedade para, finalmente, aprender a combater o mal pela raiz. Falamos sobre como perceber e transformar reações e emoções, como vencer o medo, como diminuir o estresse e muito mais.

E hoje, finalmente, chegamos ao seu PONTO DE VIRADA.

Muito bem…
Gostaríamos de começar a lição de hoje com um ensinamento.

Buda transmitia toda sua sabedoria aos homens com lições de fácil entendimento. Isso porque as pessoas não são iguais: possuem crenças, comportamentos, desejos, pensamentos e julgamentos diferentes.

Através de contos, histórias e analogias, foi possível, ao longo da História, transmitir os ensinamentos de Buda de geração em geração, para todos os tipos de pessoas.

Certa vez, Buda disse que o ser humano poderia ser comparado a quatro tipos de cavalos.

Um cavalo que, ao ver somente a sombra do chicote, já sai galopando.

Outro, só galopa se levar uma leve chicotada em seu pelo.

No terceiro, é preciso machucar a carne. Caso contrário, ele não se move.

E o último só reage quando a dor chega ao osso.

Por exemplo, vamos supor que aconteça um terremoto no Japão. Talvez você não conheça ninguém que more lá. Mas para algumas pessoas, este tipo de situação é suficiente para despertar a reflexão: “Nossa, a vida está mesmo por um fio!”.

Este é um princípio básico de Buda. Nada é fixo. Neste plano, nossa única certeza é que tudo é impermanente.

O primeiro cavalo simboliza aquele que consegue perceber esta transitoriedade da vida como um estímulo distante, aparentemente fora de sua realidade. Ele se comove profundamente com o terremoto no Japão e desperta.

O segundo percebe a transitoriedade apenas quando algo difícil acontece com alguém conhecido. Uma pessoa que não é íntima dele, porém, próxima de alguma maneira. Alguém que está na mídia, por exemplo: um líder político, uma celebridade.

De alguma maneira, a história mexe com esta pessoa e provoca uma profunda reflexão. Então, ela começa a apreciar a existência, a viver com plenitude, com energia, a sentir prazer em estar viva. Começa, aos poucos, a perceber a mudança como algo maravilhoso. Entusiasma-se com as novidades que podem surgir a cada dia.

Percebe que cada dia é único, que nada jamais se repete. Tudo e qualquer coisa acontece uma única vez.

O nosso encontro aqui, hoje, é único. Jamais se repetirá. Você poderá voltar a ler este texto em outro momento, mas ele não será o mesmo. Você já estará diferente.

E o que fazemos com isso?

Frequentemente, deixamos de apreciar a beleza de cada momento. Pelo contrário, reclamamos. Estamos sempre com pressa. Passamos a vida esperando por um momento que não chega.

Mas ainda há o terceiro cavalo, aquele que só se movimenta quando sua carne é machucada, cortada. É necessário que aconteça algo com alguém muito próximo, muito querido.

É o sofrimento que o move.

Com esta dor tão próxima, ele acorda. Desperta. E pensa: “Nossa, o que é isso?”.

Quando alguém próximo morre, ou há uma transformação (ou término) em alguma situação de sua vida, um de seus personagens desaparece junto. Aquele papel que você exercia, de mãe, filho, esposa ou esposo, sócio, namorado ou namorada, amigo, deixa de existir.

Esta situação é intensa e forte, pois além de todo o sofrimento — causado pela perda ou mudança, ainda precisamos nos desapegar da imagem que criamos de nós mesmos.

Saiba que nenhuma posição é fixa. As coisas que adquirimos são transitórias e podem passar a qualquer momento, como as nuvens. A autoridade, a fama, os bens, o sucesso. Tudo isso passa.

Então esta pessoa começa a perceber algo mais: “Por que reclamo tanto, quando deveria estar desfrutando de minha existência? A vida é tão breve. Por que resmungo tanto, se tudo vai passar tão rápido?”.

Através do sofrimento, inicia-se a busca por mais profundidade e sentido para a vida.

Porém, existe ainda o quarto cavalo. Este simboliza a pessoa que começa a se autoperceber apenas quando uma tragédia acontece com ela.

Você já deve ter ouvido falar de pessoas que, após receber um diagnóstico terminal, despertaram para a vida. Realizaram sonhos, fizeram as pazes, perdoaram, falaram coisas que nunca tiveram coragem de falar…

De repente, torna-se muito claro como é preciosa a existência. Como a vida é efêmera. Como é bobagem se desesperar e se angustiar, se enraivecer, brigar por tão pouco.

Qual cavalo tem conduzido a sua vida?

Você percebe a riqueza de possibilidades que a vida apresenta a todos nós, todos os dias? A cada momento? Ou passa dias, e até semanas, sem notar tudo que acontece bem diante de seus olhos?

Muitas vezes, as pessoas perguntam para Monja Coen como perceber sinais do universo que avisam sobre a hora de mudar.

Quem ou o que, de fato, envia sinais para você? O que é o universo? Será que não é você mesmo, a sua mente, enviando sinais de que algo precisa ser diferente?

Recomendamos sempre a prática do zazen: a meditação.

Sente-se um pouco e perceba: o que está fazendo hoje é benéfico para você? Está dando resultados positivos para você e para as pessoas à sua volta? Seus relacionamentos estão em harmonia?

E o que você pode mudar? Como agir?

Observe, veja em profundidade. Os sinais vêm de dentro de você.

A inteligência sagrada que existe dentro de você vai revelar o que precisa ser transformado. Você só tem que estar aberto ou aberta para receber.

Não é fácil deixar de lado velhos hábitos. Eles criam marcas muito profundas em nós.

O primeiro passo é reconhecer qual é o hábito, comportamento, pensamento, sentimento ou julgamento que gostaríamos de mudar. É preciso olhar em profundidade para si mesmo e descobrir como  — e de onde — ele surge.

É preciso estar atento a cada instante. Isso se conquista com o estado de presença.

Por isso, a meditação é feita quando nos sentamos no chão, no zafu (almofada de meditação). Mas ela pode ser praticada principalmente na vida, quando percebemos, a todo momento, tudo o que está acontecendo, dentro e fora de nós.

Costumamos dizer que caímos sete vezes, e levantamos oito. Não desista, você consegue!

Aos poucos, vamos mudando. É possível encarar este processo com mais leveza. Perceber, identificar, mas não se punir e nem enxergar as coisas como malignas.

Não lutamos contra nada. Quando lutamos contra alguma coisa, manifestamos uma energia que fortalece nosso inimigo. Se lutamos contra o mal, damos poder a ele.

Se simplesmente procuramos fazer com o que bem seja visto, se temos pensamentos, palavras, atitudes que levam as pessoas — e nós mesmos — a procurar pela luz, sabedoria e compreensão, fazemos melhor trabalho ao mundo que ficar resmungando sobre o que não achamos correto.

Então, como podemos não querer destruir, matar, eliminar, mas conviver? E quando necessário, transformar aquilo que não nos faz bem?

O que você faz para que sua vida seja melhor?

Você é capaz de ver?

Fala-se que Buda vê em 360º. É claro que ele não “vê com os olhos”, porque isso seria humanamente impossível. Mas não é só com os olhos que enxergamos. Todos os nossos sentidos nos fornecem informações. Nós ouvimos, sentimos odores, gostos, temos sensações, percebemos o calor.

Há um texto lindo, chamado Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa. Ele diz que, quando alguém entra na sala, sem olhar para a pessoa, podemos descobrir se ela é homem ou mulher, jovem ou idoso. Simplesmente sentindo.

Estes poderes não são mágicos, mas comuns a todos nós. Isso se optarmos sair de nós mesmos e perceber a realidade como ela é.

Como? Com treino. Fomos treinados a partir de determinados padrões ao longo de nossa vida. Entretanto, chega um momento em que percebemos que desejamos escolher. Queremos decidir como nos treinar daqui para frente.

Tudo isso começa com uma reflexão.

O que é esta coisa extraordinária que chamamos de vida?
O que é vida?
O que é morte?
O que é o ser humano? O que é a mente humana?
Quantos níveis de consciência existem?
Consigo perceber esses níveis de consciência?

Uma dessas consciências gerencia tudo o que nos chega pelos órgãos dos sentidos. Sozinha, ela não nos serve muito.

Mas ela carrega todas essas informações para uma outra consciência, a nossa grande memória que, por sua vez, escolhe uma resposta que deseja oferecer ao mundo. Tudo isso acontece muito rápido.

Imagine só…

Às vezes, essa consciência que leva e traz comete um erro. Ela pensa que certas coisas são eternas, que este grande armazém, esta grande memória é fixa. E que precisamos reagir sempre da mesma maneira.

As memórias não são fixas, nem permanentes. O tempo todo são bombardeadas por novas informações e se transformam constantemente — assim como nós.

Às vezes não precisamos aumentar a memória do computador. A que existe hoje já não serve mais? Pois bem, todos os computadores são cópias rudimentares da mente humana, que é extraordinária e muito pouco conhecida por nós.

Através de práticas de meditação, descobrimos que podemos conhecer nós mesmos — e nossa mente — em profundidade. Estamos sempre querendo conhecer o outro, modificar o outro. Achamos que seremos felizes se o mundo e os outros forem diferentes.

Que grande ilusão! O que existe é o “nós”. Nós, seres humanos. Pertencemos à mesma espécie.

Você viu na primeira lição que Monja Coen começou esta grande revolução na maneira de pensar há muitos anos, quando ainda trabalhava como jornalista.

Ela entrevistou muitas pessoas de realidades completamente diferentes. Mas percebeu que se diferenciavam apenas na aparência, pois todas amavam e queriam ser amadas, sofriam e queriam ser aceitas, incluídas.

Em algum nível, eram todas semelhantes. Das senhoras na favelas que cozinhavam feijão na lata de leite em pó às rainhas e príncipes que entrevistou.

Somos todos semelhantes. Se pudermos acessar este nível de compreensão, a maneira de enxergar a realidade poderá ser transformada. Não existe um grupo social que seja melhor que o outro.

Existe “nós”, seres humanos, sobrevivendo. Somos os grandes sobreviventes de todas as intempéries da humanidade. O nosso DNA é o que sobreviveu, por alguma razão.

Não sabemos ao certo qual razão, apesar de alguns acharem que foram os mais fortes que sobreviveram. Será?

Talvez o mais gentil tenha sobrevivido, ou o que mais se adaptou, ou o que teve mais flexibilidade e se salvou porque se escondia, em vez de lutar. Não sabemos.

Há coisas que não podemos explicar. E precisamos explicar tudo?

A mente humana é limitada para compreender o ilimitado. O ilimitado que queremos nomear, fechar em conceitos e palavras, é maior que nossa tendência a tentar colocar rótulos ou classificar.

Temos o dever de perpetuar o DNA humano. Precisamos  perceber que somos a vida da Terra e dependemos de outras formas de vida para sobreviver.

E de repente, começamos a perceber que tudo o que existe faz parte de um equilíbrio cósmico tão importante, que dele depende a nossa própria continuidade no planeta.

Quando você pensar que não há mais esperança, que as coisas estão perdidas, respire por um segundo. Pense.

Quem escolhe as notícias internacionais que chegam ao mundo todo? Quem seleciona o que aparece na televisão? A quem interessa divulgar rebeliões? Do que estão querendo nos distrair?

Existem milhões de coisas maravilhosas acontecendo. Existem pessoas salvando umas às outras. Existem pessoas que são amigas umas das outras. Há pessoas trabalhando em área de risco, de perigo, apenas para contribuir com a humanidade.

Porém, isso não se torna visível. Ao mesmo tempo, temos uma população ficando cada vez mais depressiva e sem esperança porque o que aparece é um cenário “sem solução”. Parece que chegamos ao fim do mundo e que o ser humano não presta.

Ser humano presta. E muito. Podemos fazer coisas maravilhosas como terríveis também.

Será que você já viu esta história acontecer? É capaz de se recordar quando falhou? Quais são os comportamentos, as decisões das quais se arrepende?

Novamente: estamos todos nos transformando e aprendendo.

Um pensamento budista nos lembra que tudo o que nos acontece tem a ver com nós mesmos. Então, o que — e por que — está ocorrendo? Que coisas precisamos enxergar? Será que existe uma oportunidade disfarçada?

A pessoa que incomoda você é um ser iluminado disfarçado, que aparece em sua vida para que aprenda algo muito especial. Já pensou desta forma?

Às vezes você não percebe imediatamente, mas não desista de procurar. Observe. Há sempre uma lição escondida.

Nascemos como um pequeno ser que chega ao mundo com todas as possibilidades. Como estamos sendo treinados agora? O que escolhemos treinar a partir de hoje? O que estimulamos em nós mesmos?

Podemos escolher o que desejamos estimular, mesmo que tenhamos sido incentivados a responder de determinadas formas.

Você pode mudar isso. Está na sua mão. É a sua vida. Quem vai viver por você? Só você.

Sabe se o que vive dentro de você é verdadeiro? A verdade não está apenas nos livros. Ela está em você. Você é a manifestação da verdade do cosmos.

Não acreditamos que existam causas pelas quais valha a pena matar ou morrer. Acreditamos que vale a pena viver. Viver por aquilo que acreditamos.

Gostamos da frase de Mahatma Gandhi, muito famosa: “Nós somos a transformação que desejamos no mundo”.

Então, em vez de querer (ou esperar) que o outro se transforme, transforme-se você. Quando você se tornar um átomo de paz, de verdade, a paz começará a se manifestar a partir de você.

Cada um de nós que muda transforma tudo à sua volta.

Que saibamos despertar e amanhecer para a nova vida que nos espera. Que saibamos receber a nova consciência, o desenvolvimento do bem em nós. Que possamos perceber a verdade, a sabedoria perfeita que está presente em tudo.

Aprecie sua vida.

Que os méritos de nossa prática se estendam a todos os seres, e que possamos todos e todas nos tornar o caminho iluminado.

Fonte: Equipe Zazen

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