Como se libertar da ansiedade

Muito bem…

O assunto de hoje é sobre ansiedade!

Você se sente ansioso ou ansiosa?

Não tem como escapar: ansiedade é algo que todos nós sentimos. Se alguém disser que não tem ansiedade é porque ainda não foi capaz de se perceber em profundidade.

Ela não é má, como muitos de nós pensamos. Não é algo que precise ser evitado, e sim percebido. Falamos em controlar a ansiedade, combater, vencer, enfrentar… Porém, na verdade, precisamos apenas aprender a enxergá-la melhor.

Seja qual for a situação que passemos, existe um certo grau de ansiedade que nos move.

Uma vez, Monja Coen foi visitar uma conhecida que comentou ter ficado tão ansiosa para recebê-la que se alegrou desde o dia anterior. Esta é uma ansiedade boa! Que gostoso ser recebida com tanto entusiasmo!

Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, também fala sobre isso em sua história. Na narrativa, a raposa diz ao príncipe:

Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…

E se você não chega? E se aquilo que esperamos tão ansiosamente não chega?

Infelizmente, nem sempre conseguimos desfrutar da ansiedade positivamente.

O que deveria ser um mecanismo de motivação, de celebração, de movimento, na maior parte das vezes faz com que nos tornemos nossos maiores carrascos.

Com frequência, essa situação chega até a desencadear um processo físico de adoecimento, o que costumamos chamar de somatização.

Existem muitas causas para a ansiedade “negativa”. Desde nossos hábitos de vida, a cultura da sociedade em que vivemos, até traumas do passado, desequilíbrios hormonais, ausência de planejamento, medos, entre outros.

Pense por um momento no medo. Ele é necessário, você sabia?

O medo faz com que fiquemos mais alertas, com nossos sentidos aguçados, e tem sido fundamental para nossa sobrevivência desde o surgimento do homem. Uma pessoa que não tem medo de nada pode se machucar muito.

Apesar de nos proteger, quando se torna exacerbado, o medo origina o pânico. Ele funciona como um sinal de alerta em nossa mente, mas por algum motivo, fica defeituoso e reage a qualquer mínimo estímulo.

Esse é o medo que paralisa, assim como a ansiedade pode, muitas vezes, nos paralisar.

Você já percebeu isso acontecendo com você?

Em alguns casos, é necessário procurar um psicólogo, ou até um psiquiatra, ter acompanhamento para conseguir superar uma fase mais difícil. Você não deve sentir vergonha nenhuma se precisar pedir ajuda.

Alguns especialistas dizem, inclusive, que a ansiedade é a base da depressão. Isso porque a pessoa que é muito ansiosa não vive o momento presente, está sempre pensando no futuro, muitas vezes imaginando situações que nunca, de fato, chegarão a acontecer. Assim, ela tem mais dificuldade de celebrar a vida, pois não consegue se entregar totalmente a nenhuma situação, permanecendo com sua mente sempre distante.

Outras vezes, ainda, a pessoa se perde nas histórias do passado, repetindo frases como: “Por que isso aconteceu comigo? Não foi do jeito que eu queria! Por que foi assim?”.

Pode parecer óbvio, mas se colocar na vida com presença absoluta é o maior remédio para vencer essa situação.

Precisamos nos lembrar, todos os dias, que a vida só acontece no momento presente. O passado e o futuro são ilusões, o que existe é só o agora.

Se você pensar mais um pouco, verá que nada dura para sempre. Tudo é passageiro. A ansiedade passa. A alegria passa. O medo passa. A tranquilidade passa.

Não tenha medo do medo, nem da ansiedade. Eles fazem parte.

Perceba: onde começam? Em que pedaço do corpo você sente essas emoções? Você sente arrepio? Você sente quente e frio? Seu coração dispara? Como isso se manifesta no seu corpo?

Este é um dos processos de autoconhecimento que desenvolvemos com a prática da meditação.

Há uma ideia errônea de que meditar é cessar as atividades mentais e relaxar. Cessar atividades mentais significa morte cerebral. A meditação não é morte, pelo contrário: é vida.

As práticas meditativas não são práticas de relaxamento. O relaxamento pode acontecer como consequência, mas o objetivo da prática é estar presente e se autoconhecer.

E é exatamente isso que fará toda a diferença para você lidar melhor com tudo aquilo que tira a sua paz hoje. Mais adiante falaremos sobre isso.

Há uma história muito interessante contada por Buda. Um dia, um homem foi dormir à noite, em seu quarto, e enxergou uma cobra graças à sombra da lua que entrou pela janela.

Este homem, então, passou a noite inteira em claro, morrendo de medo de ser atacado pela cobra. Quando chegou a luz do dia, ele percebeu que a cobra, na verdade, era só um tronco.

Muitas vezes, temos medo e nos sentimos ansiosos ou ansiosas com aquilo que não conseguimos ver com clareza. Estar sempre presente ajuda a ver com clareza. E ver com clareza afasta o medo e a ansiedade.

A luz da presença é o caminho para nos libertar de muitas de nossas angústias.

Não durma com uma cobra peçonhenta. Primeiro, tenha certeza de que existe mesmo uma cobra, afinal, pode ser apenas um tronco. Em seguida, observe que há muitas maneiras de se pegar uma cobra. Se for necessário, chame ajuda. Não conviva com aquilo que é assustador para você.

O momento que vivemos atualmente, com a pandemia do coronavírus e o isolamento social, é uma situação assustadora para muitos. Percebemos que muitas pessoas têm intensificado seu estado de ansiedade.

Apesar de a situação ser real e muito séria, de nada adianta ficar pensando sobre ela e imaginando o que poderá acontecer. Mais benéfico que pensar no problema é refletir sobre a vida. A vida que existe no momento presente.

Muitos temem a morte, porém, convidamos você à reflexão: quais aspectos de sua vida precisam morrer para que possa seguir em frente, a caminho da paz interior?

Quando o mundo está de ponta-cabeça, somos convocados a buscar a sabedoria que cura e a compaixão que acalenta. Mas como levantar a cabeça? Como evitar que dificuldades, doenças e perdas nos tirem do eixo?

É importante perceber que cada adversidade revela apenas um aspecto de nós mesmos.

Quando respeitamos a realidade, assim como ela é, colocamos nossos pés no caminho iluminado.

Não controlamos a vida — somos a vida.

Como incorporar todos estes ensinamentos? Como trazer para o dia a dia a sabedoria milenar e conquistar mais paz interior?

Praticando a presença.

E um dos caminhos para reaprender a viver no presente é a meditação. Dizemos reaprender porque, em algum momento de sua vida, você já viveu assim. Quando era bebê, quando era uma criança.

Pense na leveza de uma criança, em sua pureza e inocência. A criança vive com entrega. Respeita a si mesma, é espontânea e verdadeira.

Essa sabedoria já existe dentro de você. Você apenas precisa relembrar.

Meditar representa mais uma forma de enxergar a vida que um ritual. Não está vinculada a nenhuma religião. Simplesmente fazemos uma escolha, todos os dias, de viver cada momento num estado de absoluta presença.

Na prática, o que isso significa?

Que sua mente não está ocupada remoendo situações que já aconteceram, nem preocupada imaginando coisas que ainda estão por vir. A mente se envolve apenas com o exato momento que está vivendo. Isso é meditar.

Entretanto, este não é um processo fácil. No início das práticas meditativas, começamos a perceber que a nossa mente é muito tagarela, que existem muitas palavras, pensamentos e inúmeros estímulos ao nosso redor intensificando a atividade mental.

Mesmo assim, todos nós somos capazes de atravessar esses estímulos e chegar a um estado mais profundo.

É como entrar no mar. Antes, é preciso aprender a nadar em águas mais seguras. Ao entrar no mar, começam as marolas na beira da praia. Aos poucos, você aprende a furar a onda, e depois a mergulhar em profundidade.

Essa profundidade tem os seus sons, um pouco diferentes daqueles que você está acostumado. São mais serenos. Quase como se não houvesse som. E você flutua, tudo fica leve.

A mesma coisa acontece quando entramos em práticas meditativas profundas.

Com o tempo e a prática, esse momento pode se tornar tão profundo e sereno que temos a sensação de ter silenciado a mente. Na verdade não a silenciamos, pois ela já é silenciosa em sua natureza.

Através da consciência, apenas conseguimos acessar níveis mais profundos, livres do fluxo automático de pensamentos.

Você pode iniciar com pequenos passos, introduzindo pequenos exercícios em sua rotina. Muitas vezes, as pessoas perguntam à Monja Coen: “Como aliviar o estresse em situações desafiadoras? Como manter a calma quando a vontade é explodir?”.

É preciso treinar a presença e meditar, inicialmente, em momentos mais calmos. Pense bem, ninguém aprende a nadar no mar agitado.

E se você pensa que não é capaz de meditar, você se engana. Existe uma estratégia para praticar a meditação que você pode usar todos os dias, mesmo sem perceber: a respiração.

Diferentes tradições falam sobre a respiração consciente, uma das maneiras mais poderosas de atingir um estado meditativo. Parece nada, mas é uma chave de ouro. E é possível praticar sem que ninguém note, inclusive em momentos estressantes.

Este é um conhecimento milenar, porém, mais recentemente tem despertado também a atenção da Ciência. Muitos estudos já mostram que a meditação pode diminuir o estresse e melhorar nossas habilidades para lidar com as adversidades da vida.

Se você está ansioso ou ansiosa, respire. Perceba a ansiedade. Como está seu batimento cardíaco? Houve contração muscular? O que está acontecendo no seu corpo? A respiração ansiosa é alta e ofegante. É possível, com a atenção, levar a respiração para toda a região abdominal e acalmar o corpo e a mente.

Simples e eficaz

A respiração é tão importante que sempre que a Monja Coen faz uma palestra ou atividade em público, inicia com um exercício de respiração consciente. Não é só para acalmar e envolver a plateia, mas principalmente para que ela mesma se coloque em presença.

Estamos sempre vindo de algum lugar. De outras atividades, outros ambientes, outras relações… E acabamos carregando um pouco destes locais conosco.

Quando encontramos uma nova situação, precisamos aprender a nos libertar do peso do contexto anterior. Isso porque, muitas vezes, a nossa cabeça ainda está presa nele. Então, toda vez que iniciamos uma atividade podemos usar a técnica maravilhosa da respiração consciente.

Se você estiver em uma reunião, em meio a um conflito, prestes a falar em público, diante de uma situação perigosa, em qualquer lugar, você pode fazer esta prática com uma sutileza tão grande que ninguém irá notar.

Inspire pelo nariz, segure um pouco, e solte bem devagar pela boca. Preste atenção ao ar entrando e saindo. Perceba seus pulmões se enchendo de ar. Observe o movimento de seu abdômen.

Quantos músculos, quantas células estão envolvidas nesse ato tão fantástico do corpo humano e que nos mantêm vivos!

Experimente e verá como pode fazer toda a diferença.

Insira a meditação em sua rotina através do exercício da respiração consciente. Basta parar por cinco segundos, respirar com consciência e retomar suas atividades.

Existem outras maneiras de praticar a meditação. Não gosta de ficar sentado ou sentada? Caminhe.

Faça meditação caminhando. Ande pela sala de sua casa e invoque a paz. Mentalize: “Que cada passo meu seja em direção à presença absoluta. Que me leve ao estado de tranquilidade, fazendo com que eu respire melhor e oxigene meu cérebro para estar absolutamente presente onde estou”.

Inspire e expire o ar mentalizando que você se esvazia de toda a ansiedade e pensamentos perturbadores.

Por fim, não pense que você é de ferro. Somos todos humanos.

Não queira atender todas as suas demandas de uma só vez. Desapegue-se da necessidade de fazer tudo ao mesmo tempo. Acolha seus deveres, mas um de cada vez.

Há uma história muito interessante sobre isso. Miyamoto Musashi foi um grande samurai no Japão medieval, e hoje é um dos heróis mais admirados e queridos do Japão. Quando jovem, ele era muito violento, provocando brigas e promovendo duelos por onde passava. Acabou sendo preso e ficou aos cuidados de um monge chamado Takuan Osho.

Durante os três anos de prisão, aprendeu sobre estratégias de guerra e autoconhecimento, e nunca mais foi o mesmo. Depois disso, ele começou a dizer que suas lutas eram sempre com ele mesmo. Cada adversário que encontrava era apenas um aspecto de si, que precisava ser respeitado e superado.

Certa vez, foi atacado por vinte samurais. Apesar de muito ferido, saiu vivo da batalha. As pessoas queriam saber qual era o seu segredo, a estratégia que havia usado. Ele só respondeu:

“Um de cada vez.”

Não tenha pressa de viver, a vida já está acontecendo a cada instante. Não tenha pressa de chegar a algum lugar. O único lugar que existe é onde você está, exatamente agora.

Desejamos profundamente que você consiga transformar os desafios que enfrenta hoje e se permita perceber a vida que se manifesta através de você.

No final das contas, tudo isso é sobre encontrar alegria em viver.

Finalizamos aqui a terceira lição. Os ensinamentos de hoje são muito importantes para que você consiga realizar a sua transformação.

Sua tarefa agora é praticar a respiração consciente, ou outra forma de meditação, em seu dia a dia. Dar o primeiro passo pode ser desafiador, mas é fundamental.

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