Como a Análise Preditiva Pode Reduzir a Evasão no Ensino Superior
Tecnologias inovadoras e práticas inclusivas transformam o desafio da desistência universitária em oportunidades de permanência e sucesso acadêmico
O Brasil enfrenta um desafio persistente em seu sistema de ensino superior: a evasão universitária. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais de 50% dos estudantes abandonam o curso antes da conclusão. Essa situação é ainda mais grave entre alunos com necessidades especiais, que enfrentam barreiras estruturais e pedagógicas ainda não totalmente superadas.
Nesse contexto, a análise preditiva surge como uma ferramenta poderosa para antecipar o risco de abandono e ativar intervenções precoces. Em vez de esperar que os alunos fracassem, as universidades agora podem identificar padrões de comportamento associados à evasão — como faltas frequentes, baixo desempenho em disciplinas-chave ou desconexão com o ambiente virtual de aprendizagem — e agir de forma proativa.
Um exemplo de destaque é o de uma universidade particular de São Paulo, que implementou um sistema de monitoramento baseado em inteligência artificial capaz de analisar mais de 80 indicadores acadêmicos, socioeconômicos e emocionais. Como resultado, conseguiu reduzir em 22% a taxa de evasão em cursos com altos índices de abandono em menos de três semestres. Outro caso é o de um centro universitário em Aracaju, que integrou seu sistema de gestão acadêmica com plataformas de atendimento personalizado, oferecendo tutorias automatizadas e alertas direcionados a professores e orientadores.
Essas experiências também beneficiaram estudantes com deficiência, graças à integração de tecnologias acessíveis e análise da participação digital. Segundo o Censo da Educação Superior de 2022, apenas 0,5% dos universitários brasileiros se declaram com deficiência, e muitos não contam com o suporte necessário para garantir sua permanência. A combinação de análise preditiva com práticas inclusivas permitiu a instituições como a Universidade Federal de Pernambuco desenvolver estratégias personalizadas para alunos com dificuldades motoras e cognitivas, melhorando significativamente sua retenção.
Em nível regional, o Brasil lidera na adoção dessas tecnologias, mas outros países da América Latina começam a seguir o exemplo. Na Colômbia e no México, algumas universidades privadas estão testando modelos semelhantes com resultados promissores.
No entanto, o sucesso não está apenas na tecnologia, mas na mudança cultural que ela implica: compreender que cada aluno é único e que os dados não substituem o educador, mas o fortalecem para tomar decisões mais humanas e eficazes. A análise preditiva não é um oráculo, mas, quando bem utilizada, pode ser a diferença entre desistir e se formar.
Com uma visão estratégica e centrada na inclusão, o Brasil mostra que a tecnologia pode ser uma ponte para um ensino superior mais equitativo e sustentável.
Por Martín Morelli
consultor em transformação digital em instituições de ensino na América Latina
Artigo de opinião