31 de maio: Dia Mundial sem Tabaco – Fumantes têm 3 vezes mais risco de desenvolver câncer de bexiga
Cerca de 10 mil brasileiros recebem o diagnóstico de câncer de bexiga todos os anos. A doença é três vezes mais comum em fumantes e acomete, principalmente, pessoas a partir dos 55 anos, com pico de incidência entre os 60 e 70 anos
Quando o assunto é a relação entre tabagismo e câncer, o problema vai muito além do pulmão. O fumo também é o principal fator de risco para o câncer de bexiga, o segundo tumor urológico mais comum entre os homens. A doença é três vezes mais comum em fumantes e acomete, principalmente, pessoas a partir dos 55 anos, com pico de incidência entre os 60 e 70 anos. Este é o alerta do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco, em 31 de maio.
O diretor do IUCR, Gustavo Guimarães, explica que esta estreita relação entre fumo e câncer de bexiga se dá pelo fato que as substâncias tóxicas do cigarro são eliminadas pelo rim, agredindo assim a parede da bexiga. O caminho percorrido no corpo pela “fumaça” do cigarro – que contém, entre outros elementos prejudiciais, a nicotina e o alcatrão, um composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas – é devastador para a bexiga e para os demais órgãos por onde passa.
As estimativas para 2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é que 10.640 brasileiros recebam o diagnóstico de câncer de bexiga, sendo 7.590 homens e 3.050 mulheres. Além de mais frequente em homens, é também duas vezes mais comum em brancos do que em negros. Além das variáveis de sexo e idade, outros fatores de risco são: exposição a produtos químicos, como aminas aromáticas, benzidina e beta-naftilamina, utilizados na indústria de corantes; determinados produtos químicos orgânicos; exposição à fumaça do óleo diesel; uso de alguns suplementos fitoterápicos ou medicamentos, como pioglitazona para diabetes por mais de um ano; uso de suplementos dietéticos que contêm ácido aristolóquico; exposição a arsênico; baixo consumo de líquidos; irritações e infecções crônicas (urinárias, cálculos nos rins e bexiga). Além disso, o histórico familiar: pessoas com familiares que tiveram câncer de bexiga têm um risco aumentado para desenvolvimento da doença.
Sinais de alerta e diagnóstico – Em geral, os sintomas de câncer de bexiga são inespecíficos, podendo indicar outras doenças. Por essa razão, é importante que, na presença deles, um médico seja procurado para ser feita a avaliação. O sinal mais frequente da doença é a presença de sangue na urina (hematúria macroscópica). Dependendo da quantidade de sangue, a urina pode ter uma cor alaranjada ou vermelha escura. Pequenas quantidades de sangue somente são identificadas em um exame de urina (hematúria microscópica) e não necessariamente indicam a presença de doenças na bexiga.
Os estágios iniciais de câncer de bexiga costumam apresentar pouco sangramento e pouca ou nenhuma dor. Além disso, identificar sangue na urina não significa ter câncer na bexiga. O sangue pode ser causado por outros motivos, como infecção, tumores benignos, pedras nos rins ou outras doenças renais benignas. Também são possíveis sintomas ou sinais de alerta para câncer de bexiga: micção frequente, maior que a habitual; sensação de dor ou queimação ao urinar; urgência em urinar, mesmo quando a bexiga não está cheia; dificuldade para urinar ou fluxo de urina fraco.
Os diferentes tipos de câncer de bexiga – O câncer de bexiga pode ser classificado em subtipos histológicos (tipos de células): O carcinoma urotelial (representa a maioria dos casos e começa nas células do tecido mais interno da bexiga – mucosa); carcinoma epidermóide (mais comumente associado a infecções crônicas ou irritação prolongada da bexiga); adenocarcinoma (se inicia nas células glandulares – de secreção – que podem se formar na bexiga depois de um longo tempo de irritação ou inflamação); sarcomas (tumores muito raros).
De acordo com o levantamento da American Cancer Society, as chances de cura do câncer de bexiga na fase mais precoce são de 96%. Quando a doença está localizada na bexiga comprometendo camadas mais profundas ou a camada muscular e não há sinais de que se espalhou para fora da bexiga as chances de cura são de 69%. Por sua vez, quando o câncer se espalhou da bexiga para estruturas próximas ou nódulos linfáticos a taxa cai para 37%. Quando o câncer se espalhou para partes distantes do corpo, como pulmões, fígado ou ossos (metástase), as chances de cura ficam abaixo de 10%.
“A cistoscopia, procedimento no qual é introduzido uma câmera na bexiga por meio da uretra, costuma ser indicada quando há sinais clínicos suspeitos ou alterações no exame de imagem (tomografia, ressonância magnética e ultrassonografia). Cabe à cistoscopia, seguida de biópsia, confirmar o diagnóstico”, explica Guimarães, que é também coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Tratamento – A indicação do protocolo de tratamento depende do tipo de tumor e a fase em que a doença é descoberta. As principais modalidades cirúrgicas são:
Ressecção transuretral da bexiga (RTUP) – usada para câncer superficial ou em estágio inicial. Nesse procedimento endoscópico, o tecido canceroso da bexiga é removido pela uretra.
Cistectomia: remoção parcial ou completa da bexiga. É frequentemente usada em câncer de bexiga mais avançado. Os gânglios linfáticos próximos à bexiga também são removidos. A próstata é removida nos homens, e nas mulheres o útero, os ovários, as tubas uterinas e muitas vezes uma pequena parte do canal vaginal.
Técnicas de cirurgia minimamente invasiva, como laparoscopia e procedimentos robóticos, também são indicados para alguns pacientes com câncer de bexiga. Guimarães explica que, além da RTU de bexiga, há a imunoterapia intravesical chamada BCG (Bacilo Calmette-Guérin). A BCG é um organismo bacteriano, usado para tratar a tuberculose, que é adotado como imunoterapia padrão para o câncer superficial da bexiga. Pode ser administrada diretamente na bexiga por meio de um cateter inserido pela uretra para estimular uma resposta imune, evitando uma recorrência da doença.
Os demais pilares de tratamento de câncer de bexiga são a quimioterapia, a imunoterapia sistêmica e a radioterapia. A quimioterapia e a imunoterapia desempenham um papel importante no tratamento do câncer de bexiga metastático. “Nestes pacientes, elas podem ser utilizadas como tratamento de primeira linha. A quimioterapia também é indicada em combinação à cirurgia, antes dela quando o câncer de bexiga tem alto risco de metástase (neoadjuvante) ou após a remoção total do tumor para eliminar células cancerosas que possam ter caído na corrente sanguínea (adjuvante)”, detalha. Já a radioterapia consiste em irradiar o órgão alvo com doses fracionadas. No caso do câncer de bexiga, a radioterapia é frequentemente combinada com a quimioterapia (quimioirradiação), o que a torna mais eficaz, principalmente em pacientes não candidatos à cirurgia de remoção completa do órgão.”
Mais informações sobre epidemiologia, prevenção, diagnóstico, fases da doença e tratamento estão disponíveis em https://www.iucr.com.br/cancer-bexiga.