Mês da Mulher: síndromes de burnout e do impostor são 70% mais incidentes em mulheres
Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de maio, marca as conquistas e o longo caminho rumo à igualdade de gênero, inclusive no ambiente profissional. Síndromes de burnout e do impostor podem acontecer de forma concomitante em mulheres e gerar sobrecarga mental
Além da luta constante pela igualdade de gênero em todos os aspectos da vida, inclusive no mundo corporativo, as mulheres precisam lidar com a maior propensão a duas síndromes: do impostor e burnout. Cerca de 70% das executivas se consideram uma fraude, o que caracteriza a síndrome do impostor (SI). Ainda, 74% das pessoas do sexo feminino se sentem estressadas por motivos ligados ao trabalho, em comparação com apenas 61% dos empregados do sexo masculino, sinais da síndrome de burnout (SB). A situação se agrava quando ambas as condições são concomitantes.
Os dados são de pesquisa da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, e de um levantamento da rede social corporativa LinkedIn, respectivamente. De acordo com Luciene Bandeira, psicóloga e responsável técnica da Psicologia Viva, maior empresa de saúde mental da América Latina, quão mais o indivíduo experiencia sintomas da SI – como percepção negativa acerca do próprio sucesso e crenças distorcidas de não merecimento – mais se sente esgotado emocionalmente e indiferente, ou despersonalizado, em relação ao ambiente laboral, características do burnout. “Assim, a mulher trabalha arduamente, demonstrando interesse e empenhando esforços acima do esperado na tentativa de esconder seu sentimento de falta de capacidade”, destaca.
A executiva, que também é diretora de saúde mental do Grupo Conexa, explica que o estado de constante dúvida sobre si mesma e as autossabotagens são extremamente desgastantes e, se associadas a ambientes de trabalho em que existam crescentes pressões por produtividade e cargas exacerbadas, favorecem o surgimento de burnout. “Os RHs das empresas devem estar atentos ao ambiente organizacional e aos aspectos da cultura e do clima. Fomentar o respeito e a valorização da diversidade de gênero, promover equilíbrio e igualdade é um bom começo”.
Outra ideia aos RHs é realizar um trabalho de acompanhamento de resultados para que as pessoas consigam ter evidências materializadas de seus êxitos e possam relembrá-las nos momentos de questionamento de si mesmas. “As colaboradoras podem e devem comemorar as conquistas. Recomendo que as registrem em um diário para sempre que a voz da impostora gritar alto, elas relembrem quem são e tudo o que já realizaram”, ressalta Luciene.
Um outro dado alarmante é que mulheres mães, no exercício de funções remuneradas, têm 23% mais chances de sofrer de burnout do que pais na mesma condição, segundo análise da consultoria Great Place to Work. “Esse dado não é coincidência. Há um desequilíbrio claro instalado na sociedade. As mulheres, principalmente as que vivenciam a maternidade, ainda administram diariamente uma lista mais complexa de responsabilidades que os homens, uma combinação clássica de tarefas domésticas não remuneradas associadas ao trabalho profissional pago. Se faltar em aspectos dos cuidados do lar, a mulher é apontada como ruim. Se não der conta de algo do trabalho, é julgada como má profissional. Há muita pressão e cobranças. Agora, se dar conta de tudo isso já é superdesgastante e desafiador, imagina ter que lidar com o mesmo cenário, mas tendo uma síndrome do impostor? A autocobrança se torna uma opressora implacável, que drena toda a energia e vivacidade e, ao final, a mulher adoece”, explica a psicóloga.
Como soluções para lidar melhor com as duas síndromes, a profissional aponta o acompanhamento psicológico, que traz resultados significativos. “Não há outra forma de lidar com tudo isso se não for por meio do autoconhecimento, do autocontrole, da inteligência emocional e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para fortalecer a resiliência, também conhecidas como coping”, pontua.