Pecados e Virtudes: os dois lados da mesma moeda
por Ronaldo Rangel Cruz
Volta e meia fico pensando por que agimos como agimos? Neste momento em especial, no universo profissional, quando influências e pressões são enormes, porém muitas vezes fugazes, entendo que sempre queremos acertar. Mas, o que acontece é que em muitos casos acabamos errando, mesmo quando dominamos as questões técnicas e entendemos os cenários em que estamos inseridos.
Acredito que um bom caminho é analisar nossas posturas e ações a partir de uma ótica quase “mística”, mas sem dúvida filosófica e interessante. Os Sete Pecados Capitais, que tem origem no Catolicismo e foram formalizados no século 6, sendo os principais vícios de conduta: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja.
Sim, somos todos pecadores e transpondo estes conceitos para o dia a dia das pessoas em seus ambientes de trabalho, podemos entender os “pecados” como os impulsos que nos direcionam em nossas decisões e condutas.
Para entender melhor cada um deles podemos entender que:
Soberba – “Eu sou melhor que os outros”, pessoas que tomam decisões por questões de orgulho pessoal ferindo muitas vezes as metas organizacionais, ou mesmo, posicionamentos éticos.
Ira – Raiva, a cólera e agressividade exagerada, “quero destruir” ou “eu quero e você deve”, a pessoa age com autoritarismo, desrespeito e baixo clima de confiança mútua entre o gestor e sua equipe.
Gula – Voracidade, engolir e não digerir, centralizar o processo decisório e as informações visivelmente observadas nas mesas cheias de papéis.
Inveja – a dificuldade de admirar o outro, o sentimento de injustiça. “Ele é mais do que eu, também quero”. Esta é a mãe da Fofoca.
Avareza – excessivamente apegado a alguma coisa, “Não tenho confiança em ninguém”, “Não consigo lidar com a diversidade”, o líder tende à centralização.
Preguiça – Aversão ao trabalho, negligência. A preguiça não se resume à preguiça física, mas também na preguiça de pensar. É o profissional que deixa para depois.
Luxúria – impulsividade desenfreada, “Desfruto do poder de dominar.” Sensualidade no cotidiano, exibicionismo, o gestor adora os “bajuladores”.
Dependendo do pecado que mais nos domina, assim serão nossas tomadas de decisão e, consequentemente, nossos resultados. Por exemplo, quanto me custará uma atitude tomada em momentos de Ira? Ou ainda, o que mais posso aprender se do alto da minha Soberba nada mais me surpreende, sei tudo?
Ser “pecador” é uma das faces desta moeda que somos nós os seres humanos. Mas, como toda a moeda existe outro lado, o das Virtudes, que é o “Caminho da Salvação” das pessoas.
Mas, como encontrar este caminho, dentro deste cenário corporativo? Me parece que um início de caminho seria entender e ficar atento ao triângulo do pensamento ético.
Esta é uma relação delicada e fundamental. Nem tudo que eu quero eu posso ou devo, nem tudo que eu posso eu quero ou devo ou ainda o que eu devo nem sempre posso ou quero. Enfim, ser ético é manter a harmonia desta relação conforme os preceitos morais e legais.
Mas, ainda que se consiga manter esta harmonia deve-se buscar as ditas virtudes nas ações que realizamos, como a temperança, generosidade, paciência, humildade, caridade, diligência e simplicidade. O grande cuidado está em como e qual lado da moeda “cairá” para cima: o lado dos pecados ou o lado das virtudes, e como isto acontecerá? Por acaso ou por meio de tomada de decisão?
Entendo que o ideal seria por decisão, mas isto exige atenção, autoconhecimento e maturidade para acontecer. Nós deveríamos conduzir nossas vidas e não a “sorte”. Significa saber e conseguir abrir mão de um desejo imediato por algo mais perene, com maior valor para nossa existência, inclusive no mundo corporativo ou cotidiano.
Esta “moeda” (o ser humano) tem o seu valor na capacidade de harmonizar os seus lados, ser humano significa ter os dois lados, mas os resultados dependem de qual lado colocaremos para cima, em evidência. E como toda a moeda ofertada, o que receberemos em troca? Dependerá do lado que estará para cima. Eu quero, eu posso e eu devo.
Ronaldo Rangel Cruz – Ronaldo Rangel Cruz, é psicólogo, psicanalista com foco em família e coordenador do curso de Psicologia da Estácio Curitiba