Apesar de representar apenas 4,5% dos casos de câncer de pele, melanoma causa 43% das mortes
O melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele, é responsável por 1.978 mortes anuais no Brasil. Atraso no diagnóstico, por conta da pandemia de Covid-19, pode agravar ainda mais o cenário neste ano. Atenção aos sinais da pele é essencial para evitar a descoberta tardia da doença
A campanha #DezembroLaranja acontece todos os anos no Brasil com o objetivo de conscientizar a população sobre o câncer de pele, que, segundo estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), apresentou 185.380 novos casos em 2020. Desse total, 176.930 corresponderam aos cânceres de pele menos agressivos – o basocelular e o espinocelular – e 8.450 ao mais agressivo, o melanoma. Em termos de mortalidade, o câncer de pele basocelular e espinocelular, informa o Inca, correspondeu a 2.616 casos anuais e o melanoma a 1.978. Dessa forma, os números revelam que embora o melanoma tenha representado apenas 4,5% dos casos de câncer de pele, quase metade (43%) das mortes por tumores cutâneos aconteceu devido a esse tipo de doença.
Assim, mesmo no cenário da Convid-19, as pessoas precisam estar atentas a sua pele e procurar o dermatologista ao perceber qualquer alteração, alerta Rute Facchini Lellis, médica patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). “A pandemia da Covid-19 afastou as pessoas das consultas de rotina devido o medo de contrair a doença. Nossa percepção é de que isso teve impacto, a exemplo do que aconteceu com outras patologias, no diagnóstico do melanoma. Se a ida ao dermatologista foi adiada, as lesões não estão chegando para análise do patologista”, afirma.
O impacto disso é o diagnóstico de lesões em fase tardia e até o adiamento de tratamentos que estavam em andamento. “O diagnóstico mais tardio ou a interrupção do tratamento de um melanoma é algo muito sério e pode representar a diferença entre a cura e a morte. Um paciente com melanoma, com indicação pós-cirúrgica para análise do linfonodo sentinela (primeiro linfonodo do sistema linfático que drena o tumor e cuja análise pode confirmar se há células de câncer remanescentes) que deixa de retornar por seis meses, por exemplo, pode perder a janela de tempo para terapias com melhores resultados ou eventualmente perder a possibilidade de participar de protocolos de terapia”, alerta.
Por isso, a especialista destaca que, mesmo no período da pandemia, lesões que aparecem na pele devem ter avaliação médica para excluir a possibilidade de câncer ou diagnosticar e tratar em fase inicial, quando as chances de cura (o paciente estar vivo cinco anos após o tratamento) superam 90%.
TIPOS DE CÂNCER DE PELE
Melanoma, carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular são os nomes dos principais tipos de câncer de pele. Em uma abordagem geral pode-se dizer que o melanoma é o menos comum em termos de incidência e o mais grave pelo seu potencial para se espalhar para outros órgãos do corpo (metástase), especialmente, para o fígado.
Os carcinomas basocelular e espinocelular, apesar de menor potencial para metástase, também merecem atenção. O basocelular e o espinocelular apresentam diferentes subtipos. São menos agressivos do que o melanoma, embora o carcinoma espinocelular tenha potencial para metástase o que raramente ocorre com carcinoma basocelular. “Além disso, o dano de um câncer de pele também está ligado à região em que se encontra e ao tamanho da lesão. Quanto maior o tumor, maior será a ressecção, o que poderá causar dano estético e até funcional, dependendo do local”, complementa Rute.
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
O diagnóstico de um câncer de pele, assim como seu plano de tratamento, é feito com base no laudo do médico patologista que vai apontar, entre outras informações importantes, se a lesão é câncer, o tipo (melanoma, basocelular ou espinocelular), a espessura de acometimento, e outros dados que permitem estabelecer o prognóstico e o tratamento a ser instituído. Para isso, a biopsia é do tipo excisional em que o cirurgião ou dermatologista retira a lesão inteira para enviar para análise do médico patologista. “Sob o microscópio, avaliamos quanto de infiltração nas camadas da pele e a espessura da infiltração. Essa medida deve ser feita por um médico patologista bem treinado e precisa estar correta. Se o tumor ficar na epiderme, a camada mais superficial da pele, dizemos que é in situ, e não tem capacidade de disseminação. Se vai para camadas mais profundas deixa de ser in situ para ser invasivo”, destaca.
A especialista recomenda que nunca uma lesão da pele seja retirada e descartada sem passar pela análise do médico patologista. Além disso, é desaconselhável a retirada de pequenas verrugas lesões com métodos caseiros. Lesões na pele devem ser examinadas pelo médico dermatologista e enviadas para análise do médico patologista, único profissional credenciado para assinar o laudo do exame.
A REGRA DO ABCDE
Rute também recomenda que as pessoas fiquem atentas ao aparecimento de lesões em sua pele. A regra do ABCDE é um método simples para ajudar a memorizar as características de uma pinta, sinal ou mancha suspeita de câncer de pele, especialmente o melanoma:
(A ) Assimetria: uma metade do sinal é diferente da outra.
(B) Bordas irregulares: contorno mal definido.
(C) Cor variável: presença de várias cores em uma mesma lesão (preta, castanha, branca, avermelhada ou azul).
(D) Diâmetro: maior que 5 milímetros;
(E) Evolução: mudanças de tamanho, forma ou cor.
Mesmo apresentando todas essas alterações, a lesão pode não ser um câncer de pele. No entanto, o médico dermatologista decidirá se deve retirar a lesão e enviar para análise do médico patologista, exame que poderá confirmar ou excluir o diagnóstico.