Você tem medo do quê?
por Sara Campagnaro
O coração palpita, quase sai do peito. A respiração acelera, dá até para ouvir o entrar e sair do ar. A mão gela, tanto que quase congela. Os olhos se fixam em algum ponto, em alerta. O corpo paralisa. Você sente…medo.
O medo é uma das nossas emoções básicas e apesar de muitas vezes não nos trazer uma sensação agradável, ele pode nos ser útil. Este estado de alerta que o medo causa, pode ser um aviso. É nosso corpo e mente nos dando um toque de que talvez a gente tenha que pensar um pouco mais sobre alguma decisão ou atitude que escolhemos tomar. O medo nos protege de cometer erros.
Pesquisadoras e pesquisadores conceituam o medo de “emoção-choque”, devido a esta percepção de perigo que ameaça a preservação do ser humano. Não só os seres humanos são capazes de sentir medo, os animais também o sentem; como quando fogos de artifícios fazem nossos gatos e cachorros saírem correndo para se esconder ao ouvirem esses barulhos. Assim, o medo se aproxima de uma reação biológica, um mecanismo fisiológico. Porém, os medos humanos são ainda mais complexos, pois podem ser reflexo de diversos fatores, entre eles, o da imaginação. Quantas vezes você já paralisou frente a uma situação ou deixou de viver uma experiência por sentir medo? Quais foram as situações que você imaginou tudo dando errado e o medo apareceu? Você desistiu ou foi com medo mesmo?
Os medos humanos são diferentes em cada fase do nosso desenvolvimento. Quando bebês, estão mais ligados aos fatores externos como luzes e sons altos. A partir dos 2 anos de idade os medos se transformam em mudanças do cotidiano, como os primeiros dias de aula ou ao dormir fora de casa. Aos 5 anos, a imaginação está no ápice e as crianças sentem medos relacionados à fantasia, são os monstros e fantasmas que vêm assombrar as noites dos pequenos. E a partir dos 6 anos, os temores da vida real emergem na consciência das crianças, se apresentando como o medo de acidentes, roubos, da perda de pessoas ou animais de estimação.
Não temos como fugir desta emoção básica, ela vai estar presente no nosso cotidiano. Com a violência e com as constantes mudanças que estamos vivenciando como sociedade o medo pode se intensificar. Os traumas, as crises de ansiedade, o transtorno de pânico, podem trazer consigo o medo paralisante. Neste caso, buscar ajuda profissional é o caminho mais seguro e eficaz. Precisamos acolher nossos medos e dar novos sentidos à eles. Sentidos que não nos machuquem e atrasem nossos projetos de vida. Que o medo seja sinal de alerta, de reflexão e de escolha segura.
Sara Campagnaro é psicóloga, professora na Estácio Curitiba, Especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial e Mestra em Educação. Coordena o grupo de estudos “Psicologia & Feminismo”.
Referência:
SANTOS, Luciana Oliveira dos. O medo contemporâneo: abordando suas diferentes dimensões. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 23, n. 2, p. 48-49, jun. 2003 .