Mitos e verdades sobre tratamento de pacientes com câncer de mama
Em tempos de redes sociais, em que todos têm o poder de escrever e disseminar o que acham, quando o assunto é saúde é preciso estar atento às evidências científicas e às boas práticas médicas
Estamos no Outubro Rosa, mês da campanha mundial de conscientização sobre o câncer de mama, e a oncologista clínica do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), em São Paulo, Andréa Paiva Gadêlha Guimarães alerta para a importância de fortalecer a informação correta sobre a doença. “Precisamos sempre estar ao lado dos dados que tenham como base evidências científicas e as boas práticas médicas. Apesar de toda evolução em relação ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama, ainda temos pessoas que se deixam levar por falsas informações, prejudicando o tratamento, a oportunidade de um diagnóstico precoce e colocando em risco a própria vida”, afirma.
Dentre as doenças oncológicas, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, com previsão de 66 mil novos casos anuais até 2022. “A disseminação de informações prejudiciais ganhou uma amplitude ainda mais séria em tempos de redes sociais, em que todos têm o poder de escrever e divulgar o que acham, sobre qualquer assunto”, ressalta.
Confira a seguir uma lista de 10 mitos e verdades referentes ao tratamento de pacientes com câncer e mama, elaborada pela oncologista.
1 – Câncer de mama é uma doença exclusivamente feminina.
Mito. Embora raro, o câncer de mama pode acometer homens. É diagnosticado 1 caso em homens para cada 100 em mulheres.
2 – Toda paciente que passa por quimioterapia vai ter queda de cabelo?
Mito. Nem toda quimioterapia provoca queda de cabelo. Muitas pacientes passam pelo tratamento sem perder os fios. Esse efeito colateral depende do medicamento que a paciente precisa utilizar e de como será administrado. Há a possibilidade do uso da touca gelada durante a aplicação da quimioterapia, que pode ajudar a evitar a queda do cabelo, em alguns casos. O resultado e sucesso do uso de touca gelada depende de algumas variáveis, inclusive da saúde prévia do cabelo da paciente e das drogas utilizadas na quimioterapia.
3 – Depois da quimioterapia o cabelo volta a crescer?
Verdade. Após o tratamento, o cabelo voltará a crescer. Pode acontecer do fio mudar um pouco suas características: ficar um pouco mais liso ou mais encaracolado, por exemplo.
4 – Durante o tratamento não se deve usar maquiagem ou qualquer outro cosmético de cuidado com a pele?
Mito. Ao contrário, o tratamento pode ressecar a pele e é indicado o uso de hidratantes e protetor solar diariamente. Também não há contraindicação para maquiagem. Um alerta importante é sobre uso de hidratantes na área que será submetida a radioterapia, nesta situação a paciente deve conversar com o médico antes, pois há produtos que podem aumentar a absorção da radiação e causar queimaduras no local. Os procedimentos estéticos, por sua vez, devem sim ser evitados durante o período da quimioterapia e radioterapia.
5 – É possível que a mulher tenha vida sexual durante o tratamento?
Verdade. Porém, para algumas mulheres em tratamento de câncer de mama, a vida sexual fica um pouco prejudicada, isso se deve a possível menopausa precoce e/ou em função de terapias que incluem o bloqueio hormonal de estrógeno, levando à diminuição da libido e ressecamento vaginal, mas a intensidade desses sintomas são individuais. Uma medida importante durante o tratamento é o companheiro da paciente acompanhá-la nas consultas para entender de fato o que ela está passando. A sexualidade não é um fator isolado, não há contraindicação em relação a manutenção da atividade sexual durante o tratamento.
6 – Câncer de mama metastático é uma sentença de morte?
Mito. Hoje há um arsenal de tratamentos com resposta positiva, mesmo em casos de metástase. Esta resposta depende das características do tumor e das condições clínicas da paciente. E o objetivo do tratamento deve ser além de melhor resposta, maior tempo de sobrevida e melhor qualidade de vida para a paciente.
7 – O tratamento de câncer de mama pode interferir na fertilidade?
Verdade. A preservação da fertilidade é um tema que deve ser discutido com o médico oncologista antes do início do tratamento. Esta abordagem deve ser multidisciplinar, em que oncologista e especialista em reprodução humana discutem com a paciente urgência do inicio do tratamento conforme características do tumor, desejo da paciente em ter filhos e opções de preservação da fertilidade disponíveis e viáveis em cada caso. Essa é uma etapa importante para pacientes jovens que desejam ter filhos, já que o tratamento com quimioterapia ou bloqueio hormonal pode comprometer a fertilidade.
8 – Aliar tratamentos alternativos, como chás e fitoterápicos, sem conhecimento do oncologista, não trará qualquer problema, afinal são substâncias naturais?
Mito. É muito perigoso. Todo tratamento alternativo, como ingestão de chás e fitoterápicos, não devem ser utilizados sem autorização prévia do médico oncologista que acompanha a paciente, pois muitos não apresentam evidência científica de benefício. Além disso, muitas dessas ervas naturais contêm, por exemplo, fitoestrógeno (ou seja, hormônio) uma substância completamente contraindicada para quem faz tratamento contra o câncer (principalmente os cânceres hormônio dependentes, como câncer de mama) e ainda não se sabe da interação destas com os quimioterápicos ou bloqueio hormonal.
9 – Há risco de interação medicamentosa com antidepressivos durante o tratamento?
Verdade. Pacientes em tratamento de câncer de mama com terapias de bloqueio hormonal e que fazem uso de antidepressivos devem conversar com o médico oncologista. A interação medicamentosa com alguns antidepressivos pode diminuir a efetividade do bloqueio hormonal. Nesse caso, o médico oncologista e o psiquiatra devem conversar com a paciente para que sejam utilizados antidepressivos que não interfiram no tratamento oncológico.
10 – Mesmo quando a paciente se sente bem é melhor não ir trabalhar? Quanto mais ela ficar reclusa, descansando, é melhor?
Mito. Se a paciente estiver se sentindo bem e tiver condições de conciliar o trabalho com o tratamento, não há motivo para abandonar a vida profissional. Quanto mais a paciente conseguir manter uma vida ativa, tendo contato com amigos e praticando atividade física, menor é o risco de depressão e melhor será a sua adesão ao tratamento.