Além do corpo, prática frequente de exercícios físicos gera benefícios ao cérebro
Com os impactos emocionais que a pandemia vem provocando, o Brasil se consolidou como o país mais ansioso do mundo em 2020. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 20 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade, o que inclui transtorno obsessivo-compulsivo, fobias, estresse pós-traumático e ataques de pânico. Desde 2015, o CVV (Centro de Valorização da Vida) promove o Setembro Amarelo, campanha voltada a salvar vidas, com o objetivo de conscientizar sobre a prevenção do suicídio.
O que muita gente não sabe é que a prática de exercícios físicos auxilia não apenas em perda de peso ou ganho muscular, mas também no fortalecimento do cérebro, o que previne doenças e melhora a qualidade de vida. Segundo o Freeletics, aplicativo líder em exercícios físicos e estilo de vida com uso de inteligência artificial, adultos que se exercitam por pelo menos 150 minutos por semana não só têm uma chance menor de desenvolver doenças relacionadas ao envelhecimento, como Alzheimer e demência, mas também têm densidade óssea mais forte e corações mais saudáveis, além de melhorar o humor e ajudar a reorganizar o cérebro.
Como exercitar o corpo para alimentar a mente
Para Liora Bels, especialista em bem-estar do Freeletics, exercícios regulares podem melhorar a motivação, o foco e a memória. “As atividades físicas podem proporcionar benefícios maiores para o cérebro do que para qualquer outra área do corpo”, destaca. “O cérebro é um órgão extremamente importante, pois determina como nos sentimos, pensamos e como agimos em certas situações. Ele não é apenas crucial para a vida cotidiana, mas também tem a capacidade de se adaptar e evoluir com base nas circunstâncias em que nos encontramos. E da mesma forma como podemos trabalhar nossos bíceps, também podemos trabalhar nosso cérebro, tornando-o mais forte e flexível”, ressalta.
Segundo a profissional, isso acontece porque o exercício promove a produção de uma proteína no cérebro chamada Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro ou BDNF. “O BDNF é como um fertilizante para a mente. Ele ajuda a desenvolver novas células cerebrais, criar novas sinapses e impactar positivamente os neurotransmissores. Estes conectam as diferentes áreas do nosso cérebro para que a estrutura funcione em conjunto”, explica. “Quando treinamos, neurotransmissores como dopamina, serotonina e norepinefrina são disparados e aumentam nossos níveis de motivação, humor, foco e tempos de reação. Essas sinapses não são apenas relacionadas ao exercício, o cérebro também as usa para aprender com mais eficácia e melhorar a memória”, completa Liora.
Além disso, as atividades físicas liberam os hormônios da felicidade, conhecidos como endorfinas. E ter um novo suprimento desses neurotransmissores pode ajudar na clareza mental, controle emocional, maior concentração e sentimentos de euforia. “Muito parecido com o sono, o exercício ajuda a eliminar os resíduos metabólicos que o cérebro libera como um subproduto de sua atividade, aumentando sua capacidade de operar em um nível ideal. Desse modo, ao se exercitar pelo menos 3 a 5 vezes na semana por um mínimo de 30 minutos, é possível colher benefícios de curto prazo, como maior concentração, e benefícios de longo prazo, como proteção contra doenças”, pontua a especialista do Freeletics.
Cada exercício traz um benefício diferente
De acordo com Liora, exercícios aeróbicos como correr ou pular corda são excelentes para o cérebro. “Esse tipo de exercício não só ajuda a manter um sistema cardiovascular saudável, mas também ajuda na saúde do cérebro, preparando para o aprendizado, melhorando as vias neurais por todo o corpo, liberando dopamina, serotonina e proteínas chamadas fatores de crescimento”, conta.
Já o treino de resistência ou força ajuda a fortalecer o corpo por meio de padrões diferentes de movimento, corrige desequilíbrios causados por longas horas na posição sentada e melhora a resistência postural. “Isso é muito importante, especialmente quem está acostumado a ficar sentado por longos períodos de tempo”, revela.
Os exercícios de mobilidade, como alongamento e ioga, ajudam a melhorar ou a manter a capacidade do corpo de se mover por meio de posturas sem dor e, assim como o treino de resistência, são usados para corrigir desequilíbrios.
Liora também destaca que o momento ideal para se exercitar depende exclusivamente da própria pessoa. “Ninguém é igual. Os tempos de treino ideais são afetados pela rotina e cronotipo do indivíduo (seu ritmo circadiano particular). Duas pessoas podem ter sensações diferentes ao treinarem às 10h da manhã”, explica. “O treino de baixo impacto (cardio/mobilidade em estado estacionário) pode ser feito no início do dia, e o treino de alto impacto/alto rendimento, mais tarde (musculação, HIIT, sprints etc). No entanto, essas regras não são rígidas. O mais importante é que o treino seja concluído”, completa.
Frequência de exercícios
“Quando nos exercitamos, fortalecemos as vias neurais existentes e também criamos novas vias. O mesmo ocorre quando estamos aprendendo uma nova habilidade. Ganhar uma habilidade de nível intermediário em uma série de atividades diferentes pode ajudar a manter o cérebro adaptável e maleável para novos estímulos, aumentando a capacidade de resolver problemas e aprender coisas novas com maior velocidade”, argumenta a especialista. Ao realizar variados tipos de treino, o corpo está sendo forçado a ter que se coordenar em um padrão desconhecido e, portanto, se adaptar ao novo estímulo.
Embora fazer algum exercício físico seja sempre melhor do que nenhum, para colher os benefícios cognitivos a longo prazo, Liora recomenda a realização de atividades que satisfaçam o gosto das pessoas. “Assim, é mais fácil manter os bons hábitos e ser consistente. Ao fazer isso, a mente ficará mais focada, energizada, clara e é provável que consiga melhorar seu desempenho em todas as áreas da vida”, conclui.