Dia Mundial da Asma reforça a importância de tratar corretamente a doença crônica
A próxima terça-feira, dia 4 de maio, marca o Dia Mundial da Asma. Estima-se que no Brasil existem aproximadamente 20 milhões de pessoas convivendo com essa doença crônica, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). E a asma tem impacto na realidade dos portadores, sendo uma causa importante de faltas escolares e no trabalho – afeta tanto crianças quanto adultos. Segundo o DATASUS, o banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) vinculado ao Ministério da Saúde, ocorrem no país, em média, 350 mil internações anualmente, sendo a terceira ou quarta causa de hospitalizações pelo SUS.
Mas mesmo com esse cenário, ainda de acordo com a SBPT, em uma década o número de internações por asma no Brasil caiu 49%. E recente pesquisa publicada em 2020 no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria mostrou que houve uma tendência de diminuição da mortalidade por asma em crianças e adolescentes em um período de 20 anos no Brasil, com predomínio de óbitos em crianças com menos de cinco anos. Essa queda se deve a uma melhor compreensão da doença por parte dos portadores e a distribuição de medicamentos para os pacientes asmáticos graves. A maior mensagem desse estudo é que, mesmo com taxas reduzidas, a mortalidade por asma ainda é alta, pode ocorrer de forma prematura, e em muitos casos está associada a fatores evitáveis.
Para o pneumologista Irinei Melek, médico cooperado da Unimed Curitiba e presidente da Associação Paranaense de Pneumologia e Tisiologia (APPT), “levando-se em conta o caráter tratável da doença, uma data como essa é importante no calendário da saúde para que as pessoas se conscientizem e façam o tratamento certinho”. Ainda mais nesse momento de crise pandêmica, ele alerta aos doentes crônicos que se cuidem e não sobrecarreguem as emergências devido à falta de tratamento adequado. “É preciso chamar a atenção porque essa doença não é brincadeira, é bastante prevalente no mundo ainda. Ocorrem seis mortes por dia no Brasil de asma”, pontua.
Mito não, tendência de tratamento
O especialista destaca ainda que “há um mito sobre as bombinhas e a maneira como se trata a asma, dizem que elas fazem mal ou viciam, e não é verdade. O tratamento com as medicações inalatórias é muito mais fácil para asmáticos e pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) porque coloca a medicação diretamente nas vias respiratórias. Diferente daquela via oral que primeiro vão para o estômago, depois o sangue e depois o pulmão, a medicação nesse formato é uma vantagem para o tratamento”. Inclusive, Melek adianta que esse tipo de medicação é uma tendência. “A via inalatória é uma tendência de várias outras situações, futuramente ela será utilizada para o tratamento de outras doenças, como já foi no passado, e um dos exemplos é o tratamento de diabetes por essa via”.
Outro mito que ele derruba é de que as medicações perdem o efeito depois de algum tempo de uso. Como a doença não tem cura, apenas controle, os asmáticos usualmente voltam a ter sintomas se suspendem o tratamento. “Quando se tem o diagnóstico, a definição de como tratar a asma depende do grau da doença, o tratamento pode ser contínuo ou não. Se for intermitente, com pouco sintomas, o tratamento é feito apenas no momento das crises com o que chamamos de medicação de resgate que, geralmente, são inalatórias em forma de spray. Mas é possível ter a asma persistente que exige tratamento constante, de uso prolongado, muitas vezes por toda a vida. Há casos mais graves ainda em que a pessoa pode precisar de muitos medicamentos para controle, e existem os casos fatais, as pessoas não tem essa noção mas pode acontecer”, esclarece.
A asma varia muito de pessoa para pessoa, e varia também para um mesmo indivíduo. O pneumologista salienta que é uma doença com definição difícil porque é bastante heterogênea, com uma série de características clínicas fisiopatológicas, uma condição cuja definição não é bem de consenso. “Ela se caracteriza por episódios (variados) de sintomas respiratórios que podem ser isolados ou associados a uma limitação do fluxo de ar que vai para as vias respiratórias. Geralmente a asma é reversível e é uma obstrução dos brônquios, ou da via respiratória, provocando então falta de ar. É principalmente noturna e matinal, com uma opressão que ocorre no tórax, tosse e chio de peito (mais conhecido pela população geral), os chamados sibilos. Esses sintomas todos podem se apresentar isolados, ou em conjunto”, explica.
A relação entre as crises de asma e os hábitos
Assim como o asmático pode ter crises leves apenas com tosse, ele pode ver os sintomas desaparecerem por anos e também pode ter momentos de grande piora, necessitando atendimentos de emergência, nebulizações e cortisona, até mesmo internação. O presidente da APPT orienta que “crises podem deixar sequelas, o grande problema é o risco futuro da asma, aqueles que não controlam direito. O grande vilão é a não aderência correta ao tratamento. Ou seja, o paciente está ruim, usa o spray inalatório e melhora, mas logo fica ruim novamente e fica um vai e volta, um abre e fecha das vias respiratórias que não recupera sua capacidade pulmonar. Isso pode provocar um remodelamento das vias respiratórias, ou seja, os brônquios vão ficando mais endurecidos”.
A asma pode aparecer em qualquer época da vida, o mais comum é na infância e se prolongar para fase adulta por ser uma doença de caráter alérgico, mas pode surgir inclusive no início da fase adulta. Melek salienta que o histórico familiar é o fator mais frequente (aparece em quem já tem casos na família), mas ter asma está relacionado também ao ambiente. “O que quero dizer é que o ambiente é mote para uma reação na via respiratória a alergênicos que inflamam os brônquios. Os mais comuns são a poeira doméstica, ácaros, fungos, poluição ambiental e alergias a gramíneas e pólens de flores, ou pelos de animais como cães e gatos”, lembrando ainda que existem alguns casos relacionados ao tipo de trabalho que se desempenha, ou a associação com tabagismo, ou mudanças na vida que podem desencadear como estar em uma cidade mais poluída, por exemplo, seria uma asma induzida.
Remissão da asma
Já que não tem cura, a palavra para quem tem asma, afirma o especialista, é remissão. A doença pode passar anos sem se manifestar e lá um dia aparecer de novo. De acordo com o médico, “temos visto isso, uma virose, a COVID-19, uma gripe ou outros tipos de vírus muito comuns levam a asma a se manifestar de novo. Indicamos a procura do pneumologista para a definição de tratamento, e a prevenção é evitar tudo aquilo que pode desencadeá-la. É importante atentar ainda que há uma associação grande com rinite, cerca de 30% dos pacientes com rinite também têm asma”.
Outro ponto importante é que, devido às medidas sanitárias em vigor pela pandemia, pacientes crônicos de asma, DPOC e fibrose reclamam do uso constante da máscara facial. Porém, o médico garante: “de fato eles não gostam, mas não há prejuízo no uso constante, pelo contrário, a máscara com certeza protege as vias respiratórias. A orientação é que utilizem como tem sido recomendado, máscara de pano com tripla proteção ou as descartáveis que são as melhores. A COVID-19 pode desencadear crise nos asmáticos, com sintomas parecidos no sentido de tosse, falta de ar e chio no peito que são desencadeados, mas ela e a asma são doenças totalmente diferentes”, ressalta.