“Pandemia e ansiedade: viver no Brasil não é para amadores”
Não é fácil ser brasileiro. Essa afirmação em nada nega o patriotismo ou o civismo que possuímos desenvolvidos em maior ou menor grau. Não fechamos os olhos para as maravilhas naturais exuberantes que possuímos, para a biodiversidade abundante ou para o clima sem extremos que nos abriga. Agradecemos continuamente a ausência de terremotos, tsunamis ou furacões. O contexto, num primeiro momento, parece ser bem favorável ao bem estar subjetivo de todos os que habitam o país.
Entretanto, apesar de nos sabermos privilegiados em tantos aspectos, somos atravessados por uma avalanche de inequidades que assoberbam e desmantelam qualquer tentativa de manutenção do equilíbrio mental. O desgaste a que somos submetidos diante das disparidades sociais, da instabilidade financeira e do sucateamento da saúde agravam ainda mais os distúrbios psíquicos e fragilizam de maneira irreparável organismos que se tornam cada vez mais vulneráveis a transtornos e síndromes.
Quando somamos a esse conflitoa insegurança e a mortandade trazidas pelaatual pandemia, geramos uma receita ideal para o adoecimento. O COVID enfatizou ainda mais nossas dessemelhanças. As desigualdades se destacaram em um momento onde muitos se viram obrigados a decidir entre permanecer expostos aos vírus, buscando garantir seu sustento ou se preservar desse mal, abrindo mão do salário básico que pouco lhessatisfazia na busca por sobrevivência.
Diante de uma crise na saúde, que surge dentro de uma crise política, que se instalou inclusa em uma crise social e financeira, os índices de pessoas sofrendo com ansiedade e estresse dispararam. Suportar todas essas incertezas e precariedades se torna ainda mais complexo em um período em que temos que escolher qual inimigo estamos dispostos a enfrentar. O medo de perder o trabalho, o desemprego e a restrição fazem pulsar ainda mais indecisões diante da vida e do futuro.
Em meio a uma nação carente de justiça, atravessar a atual conjuntura pode levar a saúde mental ao colapso. Além das consequências já conhecidas, o COVID deixa sequelas psíquicas significativas alastrando a sensação de alarme e temor. Ampliam-se os casos de angústia diante do descaso e do desgaste de quem ainda precisa lutar pelos seus direitos e que se mantêm ativamente em buscado básico. Assim, se os ditos populares de uma região traduzem vivências, cabe aqui um surgido recentemente que ganha força e significado: viver no Brasil não é para amadores.
Bruna Richter é graduada em Psicologia pelo IBMR e em Ciências Biológicas pela UFRJ, pós graduanda no curso de Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC. Escreveu os livros infantis: “A noite de Nina – Sobre a Solidão”, “A Música de Dentro – Sobre a Tristeza” e ” A Dúvida de Luca – Sobre o Medo”. A trilogia versa sobre sentimentos difíceis de serem expressos pelas crianças – no intuito de facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre afetos que não conseguem ser nomeados. Inventou também um folheto educativo para crianças relacionado à pandemia, chamado “De Carona no Corona”. Bruna é ainda uma das fundadoras do Grupo Grão, projeto que surgiu com a mobilização voluntária em torno de pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre expressão de sentimentos por meio da arte. Também formada em Artes Cênicas, pelo SATED, o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.