Como dizer adeus?: Em todo nascer e pôr do sol a saudade

Para ler ouvindo: Só pra se dar com as estrelas – Dazaranha

 

Peço licença a você, querido leitor, para esta semana trazer uma homenagem especial a um homem incrível que, infelizmente, nos deixou muito cedo. Ele se chama Valdir Cruz, mas para quem teve o privilégio de conhecer e conviver com esse ser humano incrível será para sempre “Dico”. Aí você se pergunta, mas o que ele fez de tão extraordinário? A resposta é simples: alcançou o maior feito da nossa passagem por este plano, aquele que todos almejamos e lutamos diariamente para conquistar. Dico amou e foi amado até o último suspiro!

Construiu uma fortaleza de dedicação e cuidados à esposa, um castelo de proteção e bons exemplos para os filhos e netos, um reduto de alegrias e paz aos familiares, uma história de luta repleta de referências, bom humor e generosidade a quem quer que fosse. Ainda em vida, recebeu a maior honraria de todas, a medalha insuperável dada a quem não mede esforços para cuidar, acolher, amparar e inspirar: a de melhor marido, pai, avô e amigo. O tipo de profissional que quando se aposentou ganhou uma placa, tamanha sua entrega ao ofício que por anos desempenhou de maneira irretocável. Para mim, que o conhecia há 10 anos, o paizinho querido da Val, minha cunhada, comadre, amiga e mulher que tanto admiro. Além de nos receber com todo carinho, o tipo de pessoa que cedia a própria cama para que as visitas pudessem se sentir ainda mais em casa como já era de praxe por lá.

Cada linha a seguir é a amorosa, sincera e esforçada despedida ao grande amor da Dete, paizão da Valdi, Vivi, Valmir e Valquiria e vovô do Jean e da Bibi. Nascido em São José dos Pinhais-PR em 11/04/1952, partiu em 03/03/2021 e sem dúvida nenhuma viverá eternamente em nossos corações.

“Oi, pai. Sei que o senhor me ouve. E gostaria de agora lhe dizer o que graças a Deus pude demonstrar enquanto você esteve aqui comigo, iluminando meus passos com sua presença fundamental para que eu me tornasse quem sou hoje. Alguém que se orgulha da trajetória por ter tido um farol como o senhor ao meu lado. Seu abraço  e colo quentinhos, seu ombro amigo, suas costas largas e seu coração pulsante são insubstituíveis e só peço que eu consiga seguir em frente honrando cada dia da vida que deu a mim e a meus irmãos.

Ah, pai, se o senhor soubesse. Na verdade, pode ver que estão todos aqui despedaçados por sua partida. Em meio a tanta dor, lembramos dos momentos maravilhosos que tivemos contigo. Apesar de isso não nos consolar, nos permite agradecer por termos tido o privilégio de tamanha benção.

Como te amo, meu pai. Agora, diante da imensidão da sua ausência, me vejo encontrando maneiras de falar o que o senhor foi e sempre será para nós. Uma tarefa quase impossível para alguém que foi tanto e com tanta intensidade. Muitos homens em um, todos reunidos numa referência de força e luta que seguirá influenciando gerações. Mas vou tentar, pai, porque eu preciso lhe dizer que sua vida fez com que as nossas tivessem muito mais significado.

Quis Deus que o senhor encontrasse a mãe, seu grande amor, e junto com ela unissem seus destinos e construíssem nossa linda família. Não bastasse o amor e a coragem de cuidar dela, a única mulher em meio a 13 irmãos, formaram uma base tão sólida que parecia que aqui, ao lado de vocês, nenhum mal podia nos acontecer. E de fato não acontecia. Foram 45 anos assim, juntos, nos dando amor, cuidado e apoio incondicional. Parceiros na cumplicidade, na honestidade, no trabalho duro, na união familiar, no respeito ao próximo. No bom exemplo da caridade real, aquela na prática que nunca precisou ser dita, bastava enxergar. Tudo muito natural para quem tinha a bondade correndo pelas veias sem precisar de motivo ou olhar a quem. Tanto tempo dedicado a nos mostrar e ensinar que o amor vale a pena e que a família é nosso bem mais precioso. Precisaríamos de pelo menos mais 40 anos para quem sabe demonstrar um pedacinho da nossa gratidão.

Mas fique tranquilo, pai… Nós cuidaremos da mãe para o senhor e manteremos seu legado vivo.

Das memórias compartilhadas com os tios e primos, que tinham no Tio Dico o sinônimo das melhores férias, festas e diversões, estamos aqui alimentando nossa angústia e solidão. Lembra quando não tínhamos carro, a passagem de ônibus custava apenas 1 real aos domingos e o senhor levava todos ao Passeio Público? Sem tempo ou desculpa para o tédio, né, pai?! Até porque o senhor sabia, mais do que todos, o quanto era muito melhor viver com alegria.

Bom, mas também tinha brabeza, não podemos negar. Não foram poucas às vezes que o vimos esbravejar nas partidas de truco ou cacheta. Te digo que o senhor quase enganava quem o via pela primeira vez, quem sabe. Mas bastavam dois dedinhos de prosa para qualquer um ver a pureza do seu gigante coração. Tirando a rivalidade que também gostava de ter no baralho, na sinuca ou no dominó (apesar de que era um vencedor nato, vamos combinar), a cara de bravo não era unanimidade no seu rosto, que facilmente se cobria de lágrimas simplesmente ao ver alguém chorando. O senhor não precisava nem saber o motivo, a emoção tomava conta por genuína compaixão. Fazer uma apostinha era moleza, queria ver não se emocionar num estalar de dedos. Aí perdia sem problemas, não é, pai, pois demonstrar sentimentos também era seu forte.

Ali da sua poltrona, torceu pelo coxa, seja lá qual fosse a situação do verdão – e olha que era preciso muita determinação para não desistir do time que há tempos não engatava uma boa fase. Ainda bem que o senhor não desistia fácil de nada. Felizmente, os esportes em geral preenchiam sua programação  na TV. Não sabemos com que fervor assistiremos a uma partida aqui na sala, mas com toda certeza cada vitória daqui pra frente será dedicada ao senhor.

Ei, pai, quem fará as contas mais confusas sem precisar ir atrás de uma calculadora, apenas de cabeça? Não sei se teremos forças para somar 2+2 a partir de agora, só juro que tentaremos. Estaremos aqui unidos tentando entender como o senhor conseguia essa proeza com tanta facilidade. Justo o senhor, que nunca precisou de diploma para nos dar aulas de discernimento, sensatez e conduta. Que contava uma história como quem narra um conto diante de um livro clássico, amarrando cada detalhe e prendendo nossa atenção em cada segundo. Devem ter os filmes do Mazzaropi que o senhor tanto gostava contribuído para essa sensibilidade que fará falta a todo instante e transbordará em toda tentativa de contarmos algo sem metade da sua entrega.

Cuidador zeloso da casa, fazia questão de manter o quintal perfeito. Ai de quem ousasse não manter a labuta feita com calma oriental, daquelas que dá gosto de ver em ação e mais ainda diante do resultado. Pensam que o senhor não dava broncas? Pois o senhor dava e mais ainda se o ousado resolvesse patinar na rampinha e cavar buraco na hora de entrar com o carro. Virava bicho! Com razão, pai. Tudo aqui o senhor construiu com suor e dedicação. Cada matinho, pedrinha ou tijolo que abriga tantas pessoas é resultado de uma vida toda de muito esforço e superação. Da cozinha, o trio perfeito saindo: arroz, feijão e ovo. Não tem combinação melhor, né, pai? E para quem chegasse, sempre havia um prato a mais na mesa e mais água no feijão. Todo mundo era agregado como se fizesse parte da família, não sem uma boa caipirinha e um capilé para brindar a riqueza dos encontros. Até os genros o senhor adotou, não foi? O segundo pai daqueles que chegaram depois e agora sentem sua partida tanto quanto.

Viajar, hein, pai? Outra paixão que o senhor tinha e contagiava a todos. Nossas idas para Ponta Grossa visitar a família que o senhor tanto ama. Está certo que de vez em quando exitava em sair, em gastar, dizia que não precisava e tudo mais. Sempre preocupado com a gente… Mas, no fim das contas, valorizava cada ação e se entregava ao momento como poucos. Sua gratidão não precisava ser dita, bastava te olhar para perceber a felicidade desde os pequenos gestos. Falando em viagens, era um mestre das coordenadas, um GPS humano que deixava qualquer equipamento eletrônico no chinelo. Pra quê essas coisas com o Dicão do lado?! Nada de meros palpites, o senhor era perito em acertar quando se tratava de algo que conhecia ou acreditava. Aquele chamado conhecimento da vida: um pouco mestre de obras, um pouco engenheiro, um pouco co-piloto. Um pouco do todo e O NOSSO TUDO!

No dia a dia, o maridão, o paizão e o melhor avô que este mundo já viu. Jean e Bibi ganharam na loteria infinitas vezes. Todos que estiveram ao seu lado ganharam. Pai, você é um herói que lutou bravamente até o último suspiro. Um guerreiro que não fugiu da luta e se despediu deixando um legado que não cabe em si e viverá eternamente em cada um de nós. Quanto orgulho do senhor, meu pai, quanto amor, quanta saudade. Que ao lado de Deus e Nossa Senhora Aparecida o senhor possa continuar nos protegendo como sempre fez. Estaremos aqui, sem o pedaço que levou de nós, mas com tudo o que deixou nos permitindo seguir em frente. TE AMAMOS PARA SEMPRE E SEMPRE MAIS!

Nos vemos um dia, eu creio.

Até a próxima!

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