“Isso de ser exatamente quem a gente é ainda vai nos levar além”: como fazer escolhas mais autênticas em nossa vida?
Um novo ano, um novo caminho para percorrer. Psicólogos existencialistas ensinam que a vida é feita de escolhas, até mesmo não escolher é uma delas. Nossa existência resulta das escolhas que fazemos a cada dia, nessa direção, estamos sempre em processo de construção. Somos conscientes e capazes de fazermos escolhas livres e intencionais, das quais resulta o sentido da nossa existência, sentido que deve ser buscado no processo de se tornar quem queremos e podemos ser.
Nossas escolhas são feitas em função do futuro ou em função do passado. Escolher a partir do futuro gera ansiedade, em diferentes intensidades, associada ao medo do desconhecido que virá. Escolher a partir do passado envolve um grau maior ou menor de culpa, associada à consciência das possibilidades perdidas, pois ao fazer uma escolha, sempre deixamos outras de lado.
De qualquer maneira, temos que enfrentar as consequências das nossas próprias escolhas, pois a liberdade de escolha envolve a consciência da responsabilidade pela autoria do nosso destino e o compromisso com o nosso projeto de vida, o que produz em nós angústia e temor, afinal como saber qual é a melhor escolha que podemos fazer em um determinado momento?
Contudo, são esses sentimentos que nos movem a buscar aquilo que acreditamos ser o melhor para nós mesmos. Negar a nossa liberdade de escolha, nossa responsabilidade por aquilo que escolhemos, é negar a possibilidade de escolhermos livremente o nosso futuro de forma autêntica. É responsabilizar os outros ou o nosso “destino”, e não a nós mesmos, pelas consequências das nossas escolhas, principalmente quando o resultado não era o que esperávamos.
Diante da inevitabilidade de não escolher, devemos buscar fazer escolhas autênticas, a partir do conhecimento da realidade do que somos, o que exige cuidado e autoconhecimento. Ao nos conscientizarmos da responsabilidade que temos pela nossa vida, dos nossos valores pessoais e propósitos, dos nossos limites e potencialidades, a partir das diferentes relações que estabelecemos com as pessoas nos variados âmbitos de nossa vida, podemos fazer as melhores escolhas. Algumas perguntas podem nos ajudar nessa tarefa:
o O que esta escolha significa para mim? Essa reflexão permite o confronto com nossos valores mais profundos e oferece uma compreensão do significado de determinado acontecimento para nós mesmos: qual a importância dessa escolha?
o Quais as possíveis consequências dessa escolha? Estou preparado para assumir a responsabilidade por essas consequências? Isso aumenta a consciência da autoria das nossas escolhas e nos oferece segurança para enfrentar suas consequências.
o Por que não posso fazer essa escolha? Essa questão permite que nos confrontemos com a nossa a liberdade e possibilita a realização de escolhas diferentes das que tomamos frequentemente, permite a abertura para novas experiências e compreensões sobre nós mesmos e sobre o mundo.
o Considerando as escolhas passadas, será que eu poderia fazer de outra maneira? Esse questionamento nos desafia a compreender como podemos fazer outras escolhas, diferentes das realizadas anteriormente, a partir da revisão de nossos valores, do enfrentamento de nossas culpas e arrependimentos, e da consciência de que podemos aprender com os erros para agir no futuro em novas direções que produzam escolhas mais felizes. Com isso, podemos superar os sentimentos resultantes das escolhas negativas que fazemos, afinal nem sempre conseguimos tomar as melhores decisões em nossa vida.
o Se posso escolher a partir do futuro, tenho consciência do que quero me tornar? Quais meus projetos e metas de vida? Uma escolha autêntica tem relação direta com o nosso projeto de vida, em todos os âmbitos, por isso precisamos ter consciência do que queremos nos tornar. Essas questões podem nos ajudar no autoconhecimento e na definição ou revisão do nosso projeto. Com essa base podemos nos questionar: essa escolha vai contribuir para aquilo que eu desejo ser?
Nessa caminhada é bom lembrar que escolher envolve riscos. Por mais que avaliemos a situação com atenção, não temos total controle sobre os acontecimentos da nossa vida. Temos que aceitar também as escolhas das outras pessoas envolvidas nesses acontecimentos e os fatores externos que interferem nas nossas escolhas e nas delas. No que diz respeito aos outros, não temos controle sobre eles, apenas sobre os sentimentos que eles produzem em nós, o trabalho com esses sentimentos exige esforço e dedicação da nossa parte.
Precisamos refletir constantemente se nossas escolhas estão sendo feitas com base nos nossos valores pessoais, calcados em nosso projeto de vida, ou no que os outros esperam de nós, que pode não corresponder ao que queremos ser. Devemos pensar menos no que os outros vão achar e mais no que nós achamos, acreditamos, sentimos e podemos fazer. Afinal, somos nós que teremos que lidar profundamente com as consequências das nossas escolhas, e se elas tiverem em consonância com aquilo que queremos e podemos ser, o que exige autoconhecimento para termos certeza disso, serão autênticas e trarão autenticidade para nossas relações. O poeta curitibano Paulo Leminski já nos alerta: “ Isso de ser exatamente quem a gente é ainda vai nos levará além”.
Wallisten Garcia, psicólogo, mestre em Psicologia pela UFPR, especialista em Terapia Familiar, doutorando em Educação pela UFPR e professor da Faculdade Estácio Curitiba