Saúde Mental no Brasil: Quatro Anos de Crise e os Desafios Pós-Pandemia

Impactos profundos da Covid-19 na saúde mental revelam desigualdades e a urgência de ações integradas para prevenção e cuidado

Quatro anos após o início da pandemia de Covid-19, os efeitos na saúde mental da população continuam a preocupar. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que, só no primeiro ano da crise, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca de 25%. No Brasil, a pesquisa Covitel 2024 revelou que 26,8% da população, o equivalente a mais de 56 milhões de pessoas, enfrentam algum transtorno psíquico. Entre idosos, estudos já indicam aceleração de até 50% no declínio cognitivo durante o isolamento, enquanto crianças apresentaram atrasos no aprendizado, na fala e na socialização.

Esse cenário é confirmado pelo psiquiatra Dr. Thyago Henrique, do Hospital Israelita Albert Einstein. Segundo ele, a pandemia mudou profundamente o mapa da saúde mental. “Quem não tinha nenhum problema de saúde mental passou a apresentar sintomas, e quem já tinha viu sua condição piorar. Mas, para mim, o mais devastador foi o atraso no neurodesenvolvimento de crianças e adolescentes”, afirma.

De acordo com o especialista, os efeitos não foram iguais para todos. “Os grupos mais impactados foram aqueles que tiveram a renda comprometida pelo lockdown. Nessas famílias, a prevalência de casos de depressão e ansiedade foi muito mais grave do que na média da população”, analisa.

Apesar das consequências, a crise também trouxe uma mudança de olhar sobre o tema. “Se houve um lado positivo, foi a valorização da saúde mental. A pandemia escancarou a importância desse cuidado e aumentou a procura por atendimento, o que gerou mais visibilidade para os profissionais da área”, ressalta Dr. Thyago.

Outro ponto de destaque foi a telemedicina, que ganhou espaço como alternativa de acesso. “Ela já existia desde os anos 1990, mas ainda sofria restrições. A pandemia mostrou que, em muitos casos, funciona muito bem e democratiza o atendimento, especialmente em locais com poucos profissionais. Ainda assim, nada substitui a consulta presencial, principalmente em psiquiatria, onde o contato humano é essencial”, explica.

Para o futuro, o psiquiatra defende que a expansão dos serviços precisa vir acompanhada de campanhas educativas. “De nada adianta abrir centros de atendimento se a população não tiver consciência da importância de procurar ajuda. Conscientizar e prevenir são tão ou mais importantes do que investir na estrutura de saúde”, conclui.

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Por Dr. Thyago Henrique

Médico psiquiatra, especialista em saúde mental pelo Hospital Israelita Albert Einstein, mestrando em neurociências e doutorando em psicologia clínica

Artigo de opinião

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