Quiet Hiring e Quiet Quitting: O Duelo Silencioso que Redefine o Futuro do Trabalho
Enquanto profissionais buscam equilíbrio, empresas adotam estratégias discretas para lidar com a escassez de talentos — como transformar esse conflito em oportunidade?
Se, em 2022, o mundo corporativo se viu de frente para um fenômeno de quiet quitting, no qual seus colaboradores simplesmente paravam de ir além do mínimo no trabalho, em 2025 será a vez das empresas agirem de maneira igualmente discreta: o quiet hiring. E o que acontece se essas duas forças agirem internamente na mesma organização?
De acordo com Thomas Costa, Chief of Growth do Infojobs e porta-voz do Pandapé, o software de RH mais usado na América Latina, “o que vemos é um duelo silencioso dentro das empresas. De um lado, os profissionais dizem ‘não vou mais trabalhar em excesso pelo mesmo reconhecimento’; do outro, as empresas dizem ‘então vamos redistribuir as funções sem contratar mais pessoas”.
Famoso por uma primeira viralização no TikTok e depois pela análise de consultorias como a Gallup, o quiet quitting diz respeito ao comportamento de um profissional em cumprir o estritamente necessário em sua função e não se comprometer com mais do que isso. Um estudo feito localmente pela própria Gallup mostra que, em 2023, mais da metade dos trabalhadores norte-americanos se enquadrava nessa descrição.
“Na prática, o profissional não se demite, mas se desengaja emocionalmente. Ele cumpre horários, faz o que é pedido, mas sem vontade. No Brasil, esse comportamento tem sido mais frequente entre gerações como os millennials e a geração Z, que passaram a priorizar qualidade de vida e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Eles buscam ambientes mais saudáveis e não querem mais se sacrificar por promessas vagas de crescimento”, explica Thomas.
E o que seria o quiet hiring, por outro lado?
Enquanto isso, empresas com orçamento apertado e dificuldades para atrair talentos têm adotado a prática do quiet hiring, ou “contratação silenciosa”. A estratégia consiste em promover colaboradores para novas funções, terceirizar atividades ou, temporariamente, direcionar a equipe atual para absorver novas demandas sem a abertura de novas vagas.
Segundo relatório da Gartner, 1 em cada 5 líderes de RH afirmou que o quiet hiring já é uma estratégia utilizada para contornar gaps de habilidades. “Em vez de contratar, muitas empresas preferem utilizar o que já têm: promovem internamente, sobrecarregam alguns times, terceirizam funções. Às vezes, é uma oportunidade; outras, acaba se tornando uma sobrecarga velada”, avalia Thomas Costa.
Conflito silencioso ou oportunidade de reconexão?
O risco, para o executivo, é o desalinhamento das expectativas. “Quando o colaborador está em quiet quitting e a empresa em quiet hiring, o cenário é uma bomba-relógio: um lado espera menos, enquanto o outro exige mais. Isso resulta em frustração, performance abaixo do esperado e aumento de turnover.”
Para evitar esse choque, Thomas aponta que a chave está na transparência e na escuta organizacional ativa. “Empresas que comunicam claramente seus desafios e envolvem os colaboradores nas decisões transformam o quiet hiring em uma valorização interna, e não em uma imposição”, destaca.
O especialista destaca três rodas essenciais para lidar com essas tendências de maneira estratégica:
– Rever constantemente os escopos de trabalho: “ninguém pode acumular funções sem trazer resultados claros em contrapartida.”
– Criar planos de carreira e desenvolvimento efetivos: “o colaborador precisa compreender o que ganha ao se engajar no presente e nas futuras movimentações.”
Se o quiet quitting é um pedido silencioso de limites e o quiet hiring uma resposta silenciosa à escassez de talentos, o futuro do trabalho clama por mais diálogo e muito menos improviso.
“O colaborador não quer que o herói seja invisível. A empresa não pode viver de sobrecarga planejada. O ponto de equilíbrio é dar propósito para os dois lados – e isso só se constrói com cultura, comunicação e liderança”, finaliza Thomas.
Por Thomas Costa
Chief of Growth do Infojobs, porta-voz do Pandapé, especialista em RH
Artigo de opinião