Pesquisadores afirmam ter descoberto o “gene da ansiedade” e como desativá-lo, especialistas alertam

Mestre em genética Bianca Pizzato e Neurocientista Fabiano de Abreu Agrela advertem que é necessário ter cautela ao interpretar esses resultados

Você já se perguntou por que algumas pessoas parecem ser mais propensas à ansiedade do que outras? Bem, um estudo científico pode ter descoberto um importante avanço nessa área. Uma pesquisa realizada por pesquisadores das universidades britânicas de Bristol e Exeter revelou a existência de um “gene da ansiedade” e como desativá-lo.
A ansiedade afeta cerca de um quarto da população em algum momento de suas vidas, muitas vezes acompanhada por ataques de pânico e transtorno de estresse pós-traumático. No entanto, a eficácia dos tratamentos disponíveis é considerada baixa, deixando parte dos pacientes sofrendo com os sintomas debilitantes.
A pesquisa se concentrou na amígdala cerebral, uma região do cérebro envolvida no controle das reações emocionais, como a ansiedade. Os cientistas submeteram camundongos a situações de estresse intenso e prolongado, e descobriram que cinco microRNAs, moléculas envolvidas na ativação de genes, estavam em concentrações mais elevadas do que o normal na amígdala desses ratos estressados.
A bióloga mestre em genética,  Bianca Pizzato afirma que o destaque ficou para um microRNA em particular, chamado miR-483-5p, que estava em níveis muito mais altos nas amígdalas dos ratos. Os pesquisadores identificaram que esse microRNA estava relacionado a um gene específico, o Pgap2, conhecido por desempenhar um papel importante nos episódios de ansiedade. A descoberta fundamental foi que quando os níveis de miR-483-5p estavam elevados, a expressão do gene Pgap2 era inibida. Isso resultava em uma redução significativa dos níveis de ansiedade nos ratos. O miR-483-5p, de certa forma, funcionaria como um “freio” que diminuía a atividade da amígdala, aliviando a ansiedade.
Ela destaca que esse resultado é importante para o desenvolvimento de potenciais drogas terapêuticas que tratam a ansiedade patológica, pois elucida mecanismos moleculares e genéticos envolvidos na resposta ao estresse prolongado. No entanto, especialistas advertem que é necessário ter cautela ao interpretar esses resultados. De acordo com o Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a ansiedade é uma resposta natural do instinto humano, mas quando se torna persistente, pode moldar o cérebro de forma prejudicial. “Com esta cultura formatada como resultado do uso excessivo das redes sociais, ela vem sendo tóxica para as células cerebrais. Deve-se saber diagnosticar a ansiedade de acordo com o indivíduo. Por exemplo, pessoas da alto QI tem apreensão social maior do que o normal e isso não significa que sua ansiedade social deva ser classificada como um distúrbio”, salienta Fabiano.
Abreu explica que desativar o gene neste caso, quer dizer “ajustar” principalmente em pessoas cujas experiências traumáticas graves ou prolongadas superam os mecanismos de proteção da resiliência ao estresse levando à patologias. Bianca também ressalta a importância da interpretação cuidadosa desses resultados. Antes de pensarmos na aplicação de terapias gênicas para esse propósito, pesquisas futuras e estudos clínicos ainda são necessários. “Ainda há perguntas a serem respondidas: esses genes estão envolvidos em quais outras vias e funções neuronais? Existem outras opções para reduzir ou neutralizar os produtos desses genes que induziriam as alterações morfológicas necessárias para redução da ansiedade?”, complementa.

Embora haja ainda muitas perguntas a serem respondidas, esses avanços científicos são um passo promissor rumo a uma vida com menos ansiedade e mais equilíbrio emocional.

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