Ditadura da felicidade: é preciso compartilhar sentimentos reais!

Momentos dolorosos vividos pela pernambucana Tchela viraram livro; ela conta a própria história para incentivar a conexão humana por meio do amor e também da dor

“Compartilhar sentimentos reais liberta e faz com que possamos reconhecer a nossa própria humanidade e a de quem está a nossa volta”, afirma a pernambucana Marcela Barbosa Moraes, a Tchela, autora do livro Eu natureza – um olhar para dentro.

Ela, que passou por tantos revezes, explica que a dor faz parte da vida e é preciso falar sobre. O grande desafio é se recuperar das feridas emocionais causadas por cada rasteira do destino.

Para acolher e confortar a quem passa por momentos difíceis, ela decidiu se apoiar na escritoterapia e contar a própria história. Foram quatro Fertilizações in Vitro (FIV) malsucedidas, o diagnóstico da endometriose – somados a abalos no casamento e perdas na família. Por meio da literatura, ela oferece doses de esperança a quem sofre.

Confira abaixo a entrevista completa com a autora sobre o tema.

  1. Quando surgiu a sua paixão pela literatura? E quando você se descobriu escritora?

Acredito que a Tchela escritora já tenha nascido comigo. Durante a minha vida inteira, a escrita esteve presente. Aos 9 anos de idade escrevi um poema sobre as drogas; já tive projeto com revistinha em quadrinhos, blog de viagens e para noivas. Eu me realizava escrevendo, mas demorei a me dar conta de que me tornar escritora era o meu propósito profissional.

  1. Qual foi a grande motivação que te levou a escrever “Eu natureza”?

Comecei a escrever o livro como algo terapêutico, para esvaziar a minha alma dos barulhos emocionais que sentia. Acontece que, escrevendo, eu percebi que mais do que me esvaziar, nomear os sentimentos, dar voz ao que gritava dentro de mim era algo que também me preenchia, que me transportava para um lugar de autoacolhimento, de aconchego e que, nesse processo, acontecia uma transmutação de sentimentos.

  1. Qual é a principal mensagem que o seu livro traz aos leitores?

Este livro foi escrito com a minha alma. Então, posso dizer que é um livro que não busca dar respostas, mas mostra a humanidade que há em mim e prova que nenhuma das minhas imperfeições me definem, mas que todas elas fazem parte de quem eu sou. Assim, se tivesse que traduzi-lo em uma única mensagem ao leitor, eu diria que seria esta: não se prenda em rótulos, porque o que você leva no seu ser é expansão.

  1. De que forma você acredita que suas experiências descritas na obra podem ajudar os leitores nos próprios processos de autoconhecimento?

Entendo que os sentimentos que transitam pelos nossos corpos são os mesmos, independentemente das histórias que vivemos. Porém, certamente, a minha forma de lidar com os sentimentos é diferente da de cada leitor(a). Então, quando compartilho as minhas vivências e minha forma de enxergar as dores, as minhas emoções e o que eu faço com elas, abro uma possibilidade de reflexão para quem lê. E é neste lugar que o leitor ganha uma oportunidade para buscar conhecer em si mesmo os próprios gatilhos emocionais e as reações que eles provocam.

  1. A infertilidade é um dos temas fortes tratados por você no livro. Por que decidiu escrever especificamente sobre este processo tão difícil e doloroso que viveu?

Porque acredito que, enquanto seres humanos, nós nos conectamos pelo amor e também pela dor. Penso que, em um tempo cheio de prisões, no qual estamos cercados pela ditadura da felicidade, da produtividade, do precisar ter, fazer, ser para nos sentirmos pertencentes, compartilhar sentimentos reais liberta e faz com que possamos reconhecer a nossa própria humanidade e a de quem está à nossa volta.

  1. “Eu natureza” além de ser emocionante ao abordar as durezas da vida, é também um livro sobre esperança? Por quê?

Creio que sim, inclusive dediquei um capítulo inteiro a ela. Acredito que o sol nasce todos os dias, independentemente das tempestades que cheguem. Elas passam e ele permanece. Porém, não é exatamente sobre a esperança de que os nossos sonhos e desejos se realizem, mas a esperança de que amanhã é sempre um dia novo e de que a vida tem muito a nos entregar quando estamos abertos a ela. Para mim, quando o caminho parece estreito, sempre podemos olhar para cima e observar a imensidão que nos cerca.

  1. Sobre a sua carreira como escritora, você já tem planos para o futuro? Se sim, o que os leitores podem esperar das suas novas produções?

Sim. Tenho dois projetos em andamento. O primeiro deles é sobre as minhas experiências e descobertas durante esta viagem que estou fazendo sozinha pela Europa, desprovida de tudo que eu tenho e com a chance de apenas ser quem eu sou. O outro é sobre uma mulher ativista africana que conheci nesta viagem. Ela tem uma história que atravessa muitos desafios, como o racismo, a imigração, a violência doméstica e a mutilação genital.

Para saber mais sobre o livro “Eu natureza – um
olhar para dentro”, 
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