“Estar solteiro não é sinônimo de fracasso”

Psicóloga explica que a associação da falta de relacionamentos ao fracasso é uma questão cultural, que pode ser superada com a auto-aceitação de cada pessoa

Nesta semana, foi comemorado o Dia do Solteiro. No Brasil, ele é comemorado em 15 de agosto, por razões ainda pouco conhecidas, mas a data foi criada há quase 30 anos na China, como forma de incentivar a socialização entre as pessoas jovens e solteiras.

Marcada no país asiático para o dia 11 de novembro, ela ficou muito popular como uma data comercial, suplantando até mesmo o Dia dos Namorados, e se espalhou por outros países, sendo adotado em outras datas.

 A comemoração, apesar de incentivar várias brincadeiras e memes nas redes sociais, levanta questões sobre a pressão social que os solteiros sofrem de parte da sociedade, isto por causa de um estigma que associa a solitude, isto é, a falta de um relacionamento amoroso, ao fracasso.

Conforme o senso comum, estar solteiro é “errado”, e seu objetivo deve ser encontrar alguém com quem se relacionar, para assim a pessoa ser considerada “completa”, “feliz” e mais “aceitável” socialmente.

 Para a psicóloga Marcela Teti, professora e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França (FSLF), esse estigma se inicia devido ao roteiro a ser seguido desde que o indivíduo nasce. Ele precisa passar pela infância saudável, ser bem-sucedido na escola, se formar, arranjar emprego e formar família, para que o ciclo recomece.

 “Esta foi a forma com que a sociedade se organizou por muitos séculos, e a família nuclear ainda é uma das principais formas de controle da atualidade. Estar com outra pessoa em um relacionamento estável é sinônimo de estabilidade emocional. Assim, de um lado, estar com alguém pode ser sinônimo de autoestima equilibrada, já que você tem outra pessoa para estar com você e te ajudar a regular suas emoções. No entanto, as cobranças sociais podem provocar, piorar e fragilizar ainda mais indivíduos que não se sentem bem por estar sós, na medida em que, se não encontrou sua cara-metade socialmente, entende-se que a pessoa solteira é uma pessoa ruim e tem defeitos difíceis de serem superados”, explicou.

No caso das mulheres, esta situação é um pouco mais difícil, pois se o relacionamento vai mal ou acaba, a culpa sempre recai sobre ela.

“A mulher socialmente é responsável pelo fracasso do amor. Nunca o fracasso de um relacionamento a dois é atribuído a dois, mas sempre a ela como se ela tivesse um problema interno, algo intempestivo que precisasse ser administrado. E as mulheres que permanecem solteiras, elas não o conseguem”, ressaltou Marcela.

 

Aceitar a si

 E como se livrar dessa associação do solteiro ao fracasso? A psicóloga destaca que, para o ser humano se afirmar como indivíduo, não é necessário estar comprometido com outra pessoa. Isto é, a pessoa pode ser inteira e plena do jeito que ela é.

“Sentir falta de algo, querer melhorias, é natural de qualquer pessoa que quer se desenvolver. A ajuda pode vir de um parceiro amoroso, sim, mas não é uma necessidade. Se você tem uma rede de apoio próxima de você, em quem confiar, a falta de outra pessoa é compensada pela presença de um coletivo que te quer bem”, afirmou.

Ainda segundo Marcela, muitas vezes as pessoas estão comprometidas em um relacionamento amoroso, mas isso não significa necessariamente que estejam felizes, realizadas. Às vezes, estar a dois implica ceder, perder espaço, sua singularidade. “É ilusão achar que todos os relacionamentos são bem-sucedidos.

A solteirice muitas vezes também pode ser sinônimo de sucesso profissional, de liberdade de escolha de se sentir dono de si, de se compreender por inteiro. Estar com alguém é uma forma de se conhecer, estar sozinho também. Não existe uma coisa melhor que a outra”, destacou.

Outro ponto importante é que muitas vezes, para estar inserido no padrão, muitas pessoas acabam presas em relacionamentos fracassados e até mesmo abusivos. A professora da FSLF destaca que as frequentes notícias divulgadas na imprensa sobre casos de relacionamentos abusivos mostram que estar junto pode ser problemático para algumas pessoas.

Para ela, mudar esse tipo de pensamento presente no senso comum é uma forma de evitar relacionamentos errados.

 “Quando você se basta, fica feliz consigo mesmo, você é feliz na sua companhia, você não aceita qualquer coisa. Às vezes um sorriso sedutor e acolhedor significa mais na frente um indivíduo carente, possessivo, dominador. Se você consegue perceber que o amor é condicional, ou seja para te dar atenção, carinho, precisa agir do jeito que o outro quer, você escapa desta armadilha mais facilmente. Faz isso, porque você não precisa daquele apego emocional para se sentir inteiro, você já é”, finalizou Marcela.

 

Asscom | FSLF

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