Trinta e oito Centros de AVC são certificados como referência para atendimento

Certificação internacional foi concedida a instituições brasileiras e de países da América Latina, no Global Stroke Alliance, em SP

O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é a maior causa de mortalidade no Brasil, com impacto social e econômico importantes. Diante disso, o acesso da população aos centros de AVC é fundamental, uma vez que o tratamento rápido e especializado reduz a mortalidade e as sequelas do AVC. Durante o Global Stroke Alliance, realizado na última semana, em São Paulo, 38 centros de AVC foram certificados no Brasil e em outros países da América Latina, atestando a qualidade das instituições de saúde no que se refere à estrutura, assistência e tratamento da doença.

O selo internacional é gratuito e concedido pelo World Stroke Organization – WSO (Organização Mundial do AVC), junto à Sociedade Ibero-Americana de Doenças Cerebrovasculares (SIECV). Atualmente, é concedida à hospitais da América Latina e, futuramente, será expandida para outras regiões do mundo. “Os hospitais estão melhorando para ganhar a certificação e as melhorias que estão acontecendo são fundamentais para o paciente, pois visam levar ao melhor grau de recuperação possível após o AVC”, ressalta a presidente da Rede Brasil AVC, Dra. Sheila Cristina Ouriques Martins e que, a partir de outubro, presidirá a WSO. No Brasil, a Certificação é realizada junto com a Academia Brasileira de Neurologia, Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica e Rede Brasil AVC.

A certificação dos centros de AVC da WSO / SIECV é baseada no Roadmap para qualidade dos hospitais, ferramenta que fornece padronização e consistência para a seleção de recomendações, e classifica os serviços em 3 níveis: 2 centros de AVC (Essencial e Avançado) e 1 serviço de saúde mínimo para áreas com baixo acesso a médicos.

Para o hospital ser certificado como centro essencial, entre os critérios obrigatórios estão: protocolos para avaliação e diagnóstico rápidos de pacientes com AVC no Hospital/Departamento de Emergência 24 horas por dia, 7 dias por semana; acesso a serviços básicos de diagnóstico e membros de equipe multidisciplinar, incluindo enfermagem com treinamento em AVC, técnicos de enfermagem, fisioterapia e fonoaudiologia. Além disso deve estar disponível o tratamento trombolítico do AVC (medicação endovenosa para desobstrução da circulação cerebral nos casos de AVC isquêmico até 4,5 horas do início dos sintomas).

Já para a certificação como centro avançado, além dos itens citados, é preciso, entre outros pontos, ter um neurologista com experiência em AVC, dispor de neurocirurgia para AVC hemorrágico e trombectomia mecânica, tratamento por cateterismo para os casos de AVCs mais graves.

Além disso, é fortemente sugerida a estruturação de Unidades de AVC (um conjunto definido de leitos, equipe e protocolos que são utilizados para o cuidado dos pacientes com AVC) ou um modelo de agrupamento de leitos dentro de uma enfermaria clínica, mas com equipe especializada em AVC.

Informações sobre como os hospitais podem solicitar a certificação podem ser acessadas no site http://www.globalstrokealliance.com/pt/certificacao/.

Tratamento no SUS

Também durante o Global Stroke Alliance, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou a incorporação no SUS (Sistema Único de Saúde), até o fim do ano, da trombectomia mecânica (TM), procedimento minimamente invasivo e que, em caso de AVC isquêmico grave pode desobstruir as artérias do cérebro em até 24 horas após o início dos sintomas. O AVC isquêmico é o tipo mais comum de AVC e corresponde 80% e 85% dos casos. “Hoje o destino me reservou esse privilégio de estar junto com vocês para buscar formas mais eficientes de enfrentar as doenças cardiovasculares, que são a principal causa de óbito no mundo. E é com o Sistema Único de Saúde que nós vamos enfrentar esse problema. Até o final do ano, a trombectomia estará incorporada definitivamente ao Sistema Único de Saúde do Brasil”, disse Queiroga, na abertura do evento.

A técnica, que aumenta em três vezes a chance de o paciente ter independência após o AVC, com sequelas reduzidas, havia sido aprovada em dezembro de 2021, pela Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias no SUS (CONITEC).

Até o momento, a única terapia clínica disponível na rede pública é a trombólise, opção nem sempre eficiente para os casos mais graves. Somente quatro hospitais públicos no Brasil (em São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará) oferecem a TM e, nesses casos, o tratamento é custeado ou pelo próprio hospital ou pela Secretaria estadual/municipal de Saúde. O tratamento custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

“Selecionamos vinte hospitais que já estão prontos (para oferecer a TM), que já foram avaliados e vamos capacitando outros para realmente termos uma cobertura maior. Tem que ser um hospital que tenha hemodinâmica, uma emergência 24 horas, tomografia, angiotomografia, médicos treinados para o procedimento, anestesista e UTI. Então, nós já selecionamos os primeiros vinte hospitais e enviamos para o Ministério da Saúde quando solicitamos a incorporação do tratamento e, agora, estamos em processo de avaliar outros nesse processo de certificação”, disse Dra. Sheila.

O procedimento

A trombectomia mecânica consiste na desobstrução da artéria cerebral realizada por um cateter que leva um dispositivo endovascular, um stent ou um sistema de aspiração, para remover o coágulo do vaso sanguíneo do cérebro. Estudos mostraram que, com o procedimento, a taxa de recanalização na oclusão de grandes vasos chega a 77%, mais eficiente que o tratamento convencional de trombólise endovenosa, com 30%. A trombólise endovenosa, tratamento medicamentoso com uso de trombolítico, deve ser aplicado em até 4h30 após os primeiros sintomas.

Outro benefício da TM é que ele traz melhora à qualidade de vida do paciente, aumentando a sua capacidade funcional (cognitiva e motora) e dando maior independência no pós-AVC.

A técnica teve a viabilidade de implementação evidenciada em um país em desenvolvimento, por meio do Resilient, estudo colaborativo da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, com financiamento do Ministério da Saúde, realizado em 12 hospitais públicos do país, e com 221 pacientes.

Liderado pela Dra. Sheila Martins e pelo Dr. Raul Nogueira, o estudo teve como objetivo atestar a redução do grau de incapacidade (sequelas) e o custo-efetividade de tratamentos para retirada de coágulos do cérebro em quadros graves de AVC.

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