Burnout, Distúrbio de Gênero e Autismo… o que mais evoluiu na CID-11 e que você deve saber
Sigla ajuda a classificar doenças, sintomas e outros sinais em uma linguagem padronizada. Também serve para monitorar problemas de saúde de um determinado grupo de pessoas. Conheça as mudanças da versão mais recente.
Você provavelmente já ouviu esse termo: CID. Muito embora essas 3 letras apareçam para qualquer paciente em algum momento da vida, nem todo mundo sabe do que se trata.
“CID” possui a seguinte nomenclatura: “Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde”. É um sistema que classifica, codifica e monitora mundialmente não apenas doenças, mas sintomas e demais queixas de uma população.
Por meio dessa padronização por códigos, a CID é usada pelos médicos, hospitais e serviços de saúde para se comunicarem entre si de forma efetiva e assertiva, em laudos e estudos da área.
Embora alguns atestados médicos possam conter a CID do paciente, de acordo com a legislação, o item não é obrigatório para efeito legal desse tipo de documento.
Alguns serviços públicos, como a Previdência Social, também utilizam essa classificação para sistematizar a prestação de benefícios, como o auxílio-doença, afastamentos de saúde, entre outros.
CID também é usada por seguradoras de saúde, gerentes de programas nacionais de saúde, especialistas em coleta de dados e demais serviços e instituições que acompanhem e determinem alocação de recursos de saúde.
Como a CID é utilizada?
A CID funciona como um catálogo, em que são listadas e classificadas doenças epidemiológicas por meio de um código formado por uma letra e dois dígitos, um ponto e um algarismo de 0 a 99.
Criada em 1893, pelo Instituto Internacional de Estatística, e depois modernizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a sigla atualmente conta com cerca de 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, em mais de 120 mil termos codificáveis.
Dados da OMS mostram que, com a versão mais recente, mais de 1,6 milhões de situações clínicas podem ser codificadas por meio da CID.
Por que a CID é tão importante?
Essa classificação funciona como base para a identificação de tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo. Para a OMS, este é considerado o padrão internacional para classificação de diagnóstico de doenças e condições de saúde.
A utilização desse padrão, que é internacional, permite compartilhar e comparar informações de saúde em diferentes locais e em diferentes períodos de tempo.
Além disso, facilita armazenar, recuperar e analisar informações de saúde para tomar decisão, baseada em evidências reais, como dados clínicos, pesquisas e informações epidemiológicas.
A CID através do tempo
Em 1893, foi criada a primeira edição da classificação internacional, conhecida como Lista Internacional de Causas de Morte, adotada pelo Instituto Internacional de Estatística. Desde então, a classificação vem passando por uma série de revisões e atualizações, em face aos avanços na medicina ao longo do tempo.
A mudança para a CID-11
A 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi adotada pela 72ª Assembleia Mundial da Saúde da ONU, em maio de 2019 e entrou em vigor em 1º de janeiro de 2022.
Entre os avanços da nova versão, que é totalmente digital, estão recomendações de diagnóstico atualizadas para condições de saúde mental e documentação digital de certificados para COVID-19.
De acordo com informações da OMS, a CID-11 foi compilada e atualizada com informações de mais de 90 países, possibilitando a evolução de um sistema que atende a uma ampla gama de usos para registrar e relatar estatísticas na saúde.
Conheça algumas mudanças da última versão
Na medicina, a compreensão das doenças também vai se transformando com o passar do tempo, seja pelo surgimento de novas tecnologias, como o software médico, pelas mudanças nas condições de vida da sociedade ou até surgimento de novas doenças, como a Covid-19. Separamos aqui algumas das alterações na última versão da CID pela OMS.
Síndrome de burnout
Com forte relação com o estilo de vida moderno, a síndrome de burnout passou a ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma condição ocupacional.
A síndrome passa a ser codificada na CID-11, o que contribui para ser compreendida de um modo mais universal, diminuindo as variações de definições na literatura médica.
Essa doença faz parte de um capítulo da classificação internacional que diz respeito aos problemas gerados e associados ao emprego ou desemprego.
Burnout é considerada como resultante do estresse crônico no local de trabalho, caracterizada por três dimensões: sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e redução da eficácia profissional.
Resistência antimicrobiana
Atualmente, o uso descontrolado de antibióticos vem despertando a atenção de cientistas e profissionais de saúde. Como muitos micro-organismos estão ficando resistentes e não respondem mais aos tratamentos, a OMS resolveu alinhar os códigos relativos à resistência antimicrobiana, possibilitando mensurar o problema em escala mundial.
Os códigos relacionados à resistência antimicrobiana agora passam a ser alinhados ao Sistema Global de Vigilância da Resistência Antimicrobiana (GLASS).
Ainda de acordo com a OMS, a CID-11 também é mais capaz de capturar dados sobre segurança na assistência à saúde, identificando e reduzindo eventos desnecessários que podem prejudicar a saúde, como fluxos de trabalho insalubres em hospitais.
Incongruência de gênero e não mais distúrbio de gênero
Uma conquista importante para movimentos e ativistas ligados à questão de gênero diz respeito à classificação sobre a transexualidade.
Na nova edição da CID 11, a transexualidade deixa de ser compreendida como transtorno mental para integrar o rol de “condições relacionadas à saúde sexual”. A partir desta versão, é classificada como “incongruência de gênero” e não mais “distúrbio de identidade de gênero”.
A classificação anterior, no entendimento da OMS, poderia gerar estigmatização para os indivíduos que se identificam como transgêneros. A alteração tem também o intuito de garantir o acesso às intervenções como cirurgias e terapias, no Brasil, feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Autismo
Na CID 11, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) passa a constar como um diagnóstico unificado, reunindo, por exemplo, o autismo infantil, a Síndrome de Rett, a Síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância (F84.3) e o transtorno com hipercinesia.
Nesta nova versão, as classificações têm como foco perceber a deficiência intelectual e o prejuízo na linguagem. O objetivo da alteração é facilitar o diagnóstico, evitar erros e simplificar a codificação, promovendo melhor acesso aos serviços de saúde.
Fonte: Amplimed