A carência afetiva é prejudicial?
Por Erica Amanda de Oliveira
É bastante comum nos depararmos com esse tema. Principalmente por conta das experiências cotidianas permeadas por emoções, sensações, sentimentos que remetem a falta, ao vazio, a solidão, a angústia, a insegurança e as tantas crises existenciais.
Em psicologia podemos pensar a carência afetiva como um mecanismo saudável, qual nos orienta a buscar registros positivos em nossas relações, pois na relação com outro atribuímos contornos a nossa experiência pessoal. Por meio das vivências afetivas e emocionais entramos em contato com a nossa condição de faltantes, experimentando o vazio e a solidão, que contrastam a noção que gostaríamos de ter a suficiência, o pertencimento e a convicção de valor pessoal, por exemplo.
Contudo esse mesmo mecanismo que nos coloca em movimento pode ser via de saúde ou adoecimento. Principalmente por extrairmos dessas experiências dados de realidade que referenciam nossa forma de se relacionar, com a gente mesmo, com os outros e com a vida. Esse processo natural, espontâneo e dinâmico, permite aprendizagens pessoais sobre como nutrir e cultivar as relações com as pessoas em diferentes áreas da vida.
Inclusive acontece bastante, sem percebermos, acabarmos repetindo as linguagens afetivas e emocionais aprendidas ao longo da vida em diferentes níveis de interação e relação com a gente mesmo e com as outras pessoas. Pode ser que essas repetições sejam saudáveis e favoreçam nosso desenvolvimento e crescimento pessoal, ou pode ser que sejam limitantes e restritivas, impossibilitando o exercício da própria autonomia para além do outro.
A carência afetiva ao ser pensada como uma via que proporciona o encontro entre as pessoas para doar, e também receber registros de cuidado, respeito, valorização, carinho e palavras de afirmação; sugere harmonia nesse processo, qual consiste na conexão reciproca entre as partes. Nesse sentido há colaboração, apoio, incentivo e espaço para que cresçam em diferentes áreas da vida, com consciência de si mesmos, vivenciando laços afetivos sem tornarem-se reféns uns dos outros.
Em contrapartida, em muitos casos ao invés de uma busca harmoniosa entre doar e receber, pode-se constatar a necessidade do outro, a dependência emocional, e os prejuízos em várias áreas da vida. Situação muitas vezes ocasionada por crenças limitantes e de incapacidade que conduz ao abandono de si mesmo. As pessoas passam a doar-se intensamente sem ponderar suas prioridades, deixando-se de lado, consumindo-se na dedicação às outras pessoas, esperando agradar e ser valorizado ou reconhecido por isso.
Porquanto que, a carência afetiva quando cumpre seu papel nos conecta às pessoas de modo, generoso, solidário e colaborativo, sem prejuízos pessoais, profissionais, sociais, e etc. Sendo benéfico pessoalmente e às partes envolvidas.
Podemos ao final dessa reflexão, avaliar por meio de 7 perguntas simples, se a carência afetiva em nosso caso tem operado saudavelmente ou com riscos de adoecimento:
1) As relações que tenho nutrido e cultivado são harmoniosas?
2) Tenho a mesma facilidade de fazer por mim o que faço pelos outros?
3) Consigo estabelecer limites para as pessoas saberem até que ponto podem ir na relação que temos?
4) Tenho recebido na mesma intensidade que me doou?
5) Consigo respeitar o limite que as pessoas estabelecem para mim ou me frustro, faço exigências e sofro intensamente?
6) Sinto medo de compartilhar o que penso com receio de desagradar ou ser criticada?
7) Consigo priorizar minhas atividades sabendo dizer não quando uma pessoa que considero importante me pede algo e sei que já estou atarefado o suficiente?
Erica Amanda de Oliveira é Psicóloga Clínica. Graduação em Psicologia pela PUCPR (2016). Mestrado em Educação pela UFPR (2019). Especialista em Terapia Familiar e de Casal na Abordagem Sistêmica pela UNIAVAN (2020). Doutoranda em Educação pela UFPR (2020-2024). Professora no Curso de Psicologia da Faculdade Estácio – Curitiba. Sócia-Proprietária do Mosaico, Centro de Psicologia, Especializado em Saúde da Família.