O chazinho da vovó funciona sim!
Por Elaine Santos
Quem nunca tomou aquele chá de boldo colhido do quintal para aliviar uma indigestão ou um chazinho de camomila pra dormir?
Toda vovó que se preze tem uma receita especial para indicar, seja para dor de cabeça, dor de estômago, para a gripe. Aquele chá preparado com tanto carinho pela sua avó, mãe, tia, carrega inúmeros benefícios terapêuticos.
Aquela planta que pode estar no quintal, na floresta, na lavoura e até na farmácia, hoje, possui vários estudos que comprovam a sua eficácia.
Os vegetais contêm uma mistura de diferentes metabólitos secundários que agem para o restabelecimento da saúde. Os princípios ativos são constituintes químicos com a capacidade de produzir uma ação ou efeito terapêutico ao organismo humano e também dos animais.
Durante muito tempo, essa tradição de fazer um remédio caseiro foi passada de geração para geração.
Minha mãe aprendeu com minha avó, que aprendeu com a mãe dela e assim por diante. Mas a utilização da natureza para fins terapêuticos é tão antiga quanto a civilização humana. Desenhos encontrados em cavernas feitos pelos homens pré-históricos mostram que eles já utilizavam as plantas como um recurso terapêutico. Ao observar os animais, os homens percebiam que alguns vegetais possuíam efeitos benéficos e outros, ao contrário, faziam mal.
O conhecimento sobre as plantas medicinais, que hoje chamamos de Fitoterapia (técnica que estuda as funções terapêuticas das plantas e vegetais para prevenção e tratamento de doenças), já existia em sistemas de medicinas milenares como no Egito, China, Grécia, Roma e Índia (a Ayurveda utiliza muito as plantas, principalmente em chás).
Mas o seu uso também já foi perigoso. Na Idade Média, as pessoas que tinham conhecimento sobre plantas medicinais eram consideradas curandeiras e acabavam na fogueira por isso.
Aqui no Brasil, a Fitoterapia sempre foi muito utilizada pelo povo e foi difundida principalmente pelos índios. Segundo pesquisas, cerca de 82% da população brasileira utiliza receitas caseiras com plantas para tratar de problemas de saúde. E ainda bem que hoje ninguém mais vai pra fogueira por isso.
Atualmente, a Fitoterapia é uma ciência consolidada, com fundamento em conhecimentos de fisiologia, farmacologia, química orgânica, bioquímica e outras áreas, sendo utilizada cada vez mais na terapêutica e na prevenção de diversas doenças. Mas apesar do Brasil ter a maior biodiversidade do mundo, o potencial do uso das plantas ainda é muito pouco explorado.
Existem várias doenças que podem ser tratadas com a Fitoterapia e o aumento do consumo ocorre especialmente pela procura por substâncias que produzem menos efeitos colaterais, além da capacidade de prevenir doenças e não só de combatê-las. As principais indicações são para problemas digestivos, para combater alergias respiratórias e também como calmantes e antidepressivos, além do uso para fins estéticos.
No entanto, um ponto que precisa de atenção: o consumo de fitoterápicos (medicamento elaborado exclusivamente com matérias-primas vegetais) e de plantas medicinais tem sido estimulado com base na tradição do “se é natural não faz mal”. Só que, ao contrário da crença popular, esses produtos podem sim causar reações adversas como intoxicações, enjoos, irritações, inchaços e pode provocar até a morte.
Por isso, é muito importante o conhecimento para escolher a planta mais indicada para cada problema e a forma de uso. E isso só quem pode dizer é um profissional da área, um terapeuta integrativo que tenha os conhecimentos da Fitoterapia.
Graças a sabedoria popular e a pesquisas e estudos, hoje temos conhecimento de usos seguros de chás, banhos, pomadas, xaropes, óleos essenciais e tantas outras formas de usufruir dos benefícios das plantas e aqui vão algumas dicas.
Mas antes, uma curiosidade. Você sabia que nem todo chá é chá? É isso mesmo, apenas o que é preparado com folhas da planta chamada Camellia Sinensis que produz o chá verde, o chá preto, o chá vermelho e o chá branco é que é considerado o verdadeiro chá. A camomila, boldo, hortelã e todos os outros podemos chamar de infusão, mas chá mesmo só os que vêm da Camellia Sinensis.
Agora sim, as dicas. O primeiro passo para um bom chá medicinal é sempre dar preferência para o uso a granel, evite aqueles sachês vendidos no supermercado. Geralmente esses produtos são feitos com o resto que sobra das plantas, tem adição de corantes, aromatizantes, misturas de várias plantas, ou seja, efeito terapêutico zero.
Também é importante não misturar plantas diferentes no mesmo chá, pois existem poucos estudos sobre a interação entre elas.
Para preparar chá com folhas, flores e caules finos, o método deve ser o de infusão. Colocar água fervente num recipiente com a planta e tampar por 5 a 10 minutos. Importante jogar de volta na xícara aquela água que forma na tampa por causa do vapor, ali é onde ficam concentrados os componentes terapêuticos da planta. Já para o preparo de partes duras como cascas, raízes e sementes, deve ser feita a decocção, quando a planta é fervida junto com a água.
Algumas das ações terapêuticas das plantas:
Sistema digestório – boldo-do-chile: ajuda a estimular o fígado na produção da bile, facilitando a digestão.
Espinheira-santa: antiácido e protetor da mucosa gástrica.
Hortelã-pimenta: é antiflatulento.
Sistema respiratório – alho: atua como coadjuvante no tratamento de bronquite crônica e asma. É expectorante e alivia sintomas de gripes e resfriados.
Guaco: para gripe, rouquidão, infecção na garganta, tosse e bronquite.
Sistema nervoso – valeriana: age como sedativo moderado e no tratamento de distúrbios do sono associados à ansiedade.
Camomila: ansiolítico e sedativo leve.
Passiflora incarnata (Flor-da-paixão ou Maracujá doce): ansiolítico e sedativo leve. Mas é a folha da planta e não a fruta. O suco de maracujá não é calmante, o chá da folha que é.
Muitas são as indicações de uso das plantas medicinais e seus derivados, não caberia todas aqui, por isso a minha recomendação é procurar um especialista em Fitoterapia para te orientar melhor.