Uso do cigarro eletrônico cresce entre adolescentes: precisamos ficar atentos
por *Sueli Bravi Conte
Em minha rotina diária de trabalho como educadora venho, infelizmente, observando uma frequência cada vez maior de adolescentes que aderiram ao uso do cigarro eletrônico. Eles são atraídos especialmente pelos sabores e aromas disponíveis, como mentol, baunilha, morango, maçã, chocolate e outras, adicionados ao cigarro para disfarçar o gosto de fumo queimado.
Perplexa com os adolescentes usando esse dispositivo, e mais ainda pelo volume de usuários ser cada vez maior, resolvi buscar mais informações a respeito. Segundo um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 24 milhões de adolescentes entre 13 e 15 anos no mundo fumam cigarro. No Brasil, 10% da população é fumante e estima-se que 100 mil sejam adolescentes.
Uma outra pesquisa, realizada pela Universidade da Califórnia, aponta que jovens que experimentam o cigarro eletrônico tem três vezes mais probabilidade de se tornar um fumante diário. Adolescentes que adotam os cigarros eletrônicos antes dos 18 anos têm maior propensão a adotar uma rotina diária com o fumo do que aqueles que tentaram fumar mais tarde.
De fato, infelizmente é cada vez mais comum ver estudantes brasileiros, com idades entre 14 e 17 anos, portando e fazendo uso de cigarros eletrônicos ou comentando em rodas de amigos sobre o uso de narguilé, outro item que vem sendo bastante utilizado.
O cigarro eletrônico está no mercado há aproximadamente 20 anos, mas ganhou força em todo o mundo entre 2011 e 2018. Segundo dados do National Youth Tobacco Survey, de 2018, o uso entre alunos do ensino fundamental e médio, nos Estados Unidos, aumentou de forma alarmante, com mais de 3,6 milhões de usuários jovens. O aroma, no caso, é o que eleva a probabilidade de atrair crianças e adolescentes. Um absurdo, especialmente quando constatamos que alguns desses novos cigarros chegam a ter em seus reservatórios uma quantidade de nicotina equivalente à de um maço de cigarros comuns.
Também são encontradas substâncias como metais pesados, solventes químicos, compostos orgânicos voláteis e aldeídos, etc. Claro, há consequências para a saúde. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o vapor emitido pelos cigarros eletrônicos pode aumentar as chances de infecções, como enfisema pulmonar, além de causar dermatite, doenças cardiovasculares e até câncer. Um exemplo é um famoso cantor sertanejo, que foi diagnosticado, no ano passado, com um problema pulmonar decorrente da Covid-19 e do uso de cigarros eletrônicos.
No Brasil, que é reconhecido pelas grandes campanhas antitabagismo, desde 2009 a Avisa proíbe a comercialização, importação e propaganda dos chamados e-cigarros não apenas pelos danos à saúde, mas pelos riscos de explosão e queimaduras. Recentemente, inclusive, circulou pelos principais sites de notícias do país imagens que mostravam um desses cigarros eletrônicos explodindo próximo à boca de um rapaz.
Todos já fomos adolescentes e, em algum momento, desejamos parecer modernos, descolados e passar uma imagem que impressionasse aos colegas. Para essa faixa etária, o cigarro traz a falsa ilusão de status de poder. Meninos e meninas, muitas vezes, começam a fumar por incentivo e influência de amigos. Porém, é extremamente importante que crianças, adolescentes e suas famílias tenham ciência dos malefícios do cigarro eletrônico, que até pouco tempo atrás era equivocadamente visto como um meio de deixar o tabagismo. Porém, pelo contrário, leva ao vício muito mais rápido.
O mais triste e alarmante é que alguns pais, enganados por essa mensagem errônea de que o cigarro eletrônico poderia ser um meio de deixar o consumo do cigarro, acabaram por adquirir os aparelhos para os adolescentes como forma de “evitar” que seus filhos buscassem os cigarros convencionais. Quando advertidos quanto aos seus malefícios, ficam perplexos pelo mal causado.
Minha mensagem diante de tudo isso: conversem com seus filhos, orientem e, principalmente, supervisionem o que eles fazem e com quem andam. Impor limites, com equilíbrio e diálogo, não significa amar menos. Muito pelo contrário. O diálogo e a atenção são essenciais, principalmente na transição entre a infância e a adolescência. Fiquem atentos!
*Sueli Bravi Conte é educadora, psicopedagoga, mestre em Neurociência e mantenedora do Colégio Renovação, instituição de ensino com mais de 35 anos de atividades e que atua da Educação Infantil ao Ensino Médio.