Um sonho quase real
Por Ronaldo Rangel Cruz
“Durante um passeio ao campo, encontrei um buraco em um morro. Fui verificar e era uma caverna ou uma gruta. Entrei, com minha lanterna e uma pequena faca. Certifiquei-me do caminho por meio de uma bússola.
Após algum tempo de caminhada, tropecei e quebrei a bússola. Andei de um lado para outro e concluí que estava perdido. Senti um leve pânico, mas conscientizei-me de que o pânico iria me matar.
Encontrei agua e um leve brilho natural na superfície. Sentei-me e comecei a pensar no que fazer, mas só conseguia perceber os meus sentimentos, que eram uma mescla de medo, paz, e deslumbramento pelo local. Pensei, então, que era melhor ficar ali mesmo, contemplando as maravilhas da natureza, minha pureza de alma naquele momento e o silencio daquela música.
De repente, um inseto me picou. Nada grave, mas doído. Percebi que não estava ali para apenas contemplar, mas para desfrutar, fazer parte. Olhei em volta e notei ondinhas no lago. Era o vento, logo, deveria haver uma saída. Não o mesmo acesso em que entrei. Outro, novo para mim. Olhei a Lua e senti que voar para o espaço é tão importante e prazeroso como mergulhar nos interiores da terra.
Quando aterrissamos somos sempre novos… ou quase sempre”.
Talvez esta pequena reflexão de um adolescente nos ajude a entender a importância de mergulharmos em nossos pensamentos, em nossas emoções ou quem sabe em nossa alma. Mas refletir é apenas uma parte, também é necessário sonhar, se possível de forma ilimitada. E acima de tudo é fundamental praticar, materializar, em outras palavras, viver.
Por vezes acreditamos que estamos preparados ou seguros. Possuímos as melhores ferramentas e planos elaborados, até que a curiosidade ou o desejo se apresentam. Aí tudo pode acontecer e se nos deparamos com situações desconhecidas ou além do nosso “controle”, podemos “travar”, não saber o que fazer. É perigoso até nos acostumarmos com esta situação e achar bonito ficar estagnado, preso naquilo que conhecemos. Por sorte a vida se impõe, as vezes de forma doída, imprevisível, mas fundamental para que continuemos buscando, desfrutando e participando a construção da Vida como um todo.
Um sonho pode ser muitas coisas, depende da referência que tomamos, mas enquanto sonho no sonho é real e a nossa realidade nasce deste real. Enfim, se passamos uma boa parte da nossa existência pensando ou refletindo sobre o que fizemos, não fizemos ou ainda faremos, então estamos de alguma forma sonhando. Como saber se a realidade gera os sonhos ou são os sonhos que preparam a realidade? O que parece é que a vida é o resultado desta relação. Mesmo que em certos momentos nos sintamos perdidos, aprisionados ou exaustos, a vida continua indo adiante, em frente, vamos arriscar, lutar, nos esforçar para participar desta construção. Sonhar, de certa forma, é o que permite a construção de uma vida livre.
Ronaldo Rangel Cruz, é coordenador do curso de Psicologia da Estácio Curitiba.