Dia Internacional da Mulher: O verso e o reverso da mulher virtuosa dos tempos modernos
Artigo de Leila Navarro
Fico imaginando como vivia Eva no início da existência do Homem! Feliz no Paraíso, a tranquilidade reinava naquele lugar. A natureza exuberante e a intimidade com os animais fazia parte da rotina daquela mulher que, ao lado de Adão, usufruía de intensa harmonia e companheirismo! Pelo menos é isso que eu imagino. Confesso que tento me colocar no lugar dela e tenho dificuldade! Quando volto os meus pensamentos para a mulher moderna, a tranquilidade sai de cena e, como flashes, surgem em minha mente uma série de responsabilidades que deixam bem longe a aparente passividade dos séculos passados e me deparo com a ansiedade da mulher do século XXI.
Após a revolução dos sutiãs, a mulher vem conquistando espaços muito além do que ela própria conseguiria imaginar. Nos diversos setores da economia, a “matéria prima” feminina é maioria, mas o sonho de construir uma família permanece. E, por obra da natureza, a tarefa da procriação não pode ser delegada aos homens! Assim, começa a árdua tarefa de conciliar papéis. A vida moderna e o avanço tecnológico trouxeram muitas facilidades, mas, no pacote, vêm também a falta de privacidade e a necessidade de estar sempre conectada a tudo e a todos. Na ânsia de conquistar uma carreira bem-sucedida ou uma condição de poder, muitas mulheres têm deixado de lado sonhos singulares. As que decidiram buscar seus sonhos singulares questionam se fizeram a escolha certa. E, ainda nesse cenário entra a condição do homem, aquele que desde os primórdios tem o papel de desbravar a selva de pedra e ser o sustentador da família, dos negócios, da sociedade, mas, hoje, com o novo perfil da mulher, muitas vezes sente-se acuado e preterido! E muitas mulheres também têm que administrar isso!
Certa vez, durante uma entrevista, uma jornalista visivelmente admirada com a minha postura de mulher independente e bem resolvida, decidiu “investigar” qual o caminho das pedras para eu ser boa mãe, boa profissional, boa filha, boa esposa, boa amiga… E, quando ela ia enumerar mais alguns itens da suposta “boa conduta feminina” eu a interrompi e falei: “Pode parar! Eu não consigo ser boa em tudo. Isso é um mito. O que eu aprendi da vida e coloco em pratica é que quando se é boa em algumas coisas, a qualidade se amplia! Eu não sou perfeita em tudo, mas procuro investir o melhor de mim em cada momento.” E isso é um fato! Observo que a mesma coisa acontece com o aspecto negativo. Se a mulher é péssima motorista, péssima cozinheira e tem o seu guarda-roupa sempre desorganizado, logo as pessoas passam a rotulá-la como péssima mãe, péssima esposa, péssimo exemplo. Vejo isso como uma espécie marketing associativo.
O rótulo de que mulher moderna sabe e pode tudo é um mito que a sociedade tem feito muita gente engolir, mas não diz respeito à realidade. Tem muita gente padecendo as amarguras dessa visão e tem se tornado crescente uma angústia generalizada para as mulheres e, também, para os homens. As mulheres têm se cobrado demasiadamente o tempo todo: tem que ser a melhor profissional, tem que ter um filho e tempo para brincar com ele, tem que ser bonita e elegante, ter nádegas durinhas, barriga tanquinho e seios empinados, tem que acompanhar a moda, ser excelente amante, companheira, amiga, esposa, mãe, filha! Ufa! Querer ser boa em tudo também cansa!
O fato é que a mulher não mudou os seus papéis. Ela vem acumulando diversos outros e nenhum ser humano consegue ser excelente em tudo ao mesmo tempo. É importante considerar isso para encarar a vida de forma mais descontraída e menos complicada. Cá para nós, você quer ser melhor em que? A resposta a essa pergunta faz total diferença. Se a própria mulher não tem clareza do que ela quer para a sua vida, imagine com fica a cabeça dos homens para entendê-las! Por isso vivemos em um clima de guerra dos sexos!
Não se pode ter tudo, mas é possível conquistar o melhor naquilo que escolheu. Realizada em um ponto, ajusta-se os desejos secundários, mas não menos importantes. Administrar as demandas tem a ver com equilíbrio, autoconhecimento e definição de autorrealização. No filme “De pernas para o ar 2”, a workaholic Alice (interpretada por Ingrid Guimarães), fica enfurecida porque o marido conhece uma mulher perfeita: bonita, mãe presente de cinco filhos, bem-sucedida profissionalmente, dona de casa exemplar e, por aí vai! Intrigada, ela segue ao encontro da super, hiper, mega mulher e pergunta como ela consegue ser tão perfeita em tudo. A resposta foi simples e direta: “Eu não tenho marido!”. Disso tudo, eu tiro três conclusões: Eva nasceu no tempo certo e a realidade da mulher moderna é bem diferente. A segunda é que não existe certo ou errado e sim resultado de uma escolha. A terceira é que todas as nossas escolhas devem ser feitas a partir de nossos próprios parâmetros e não com base no que consideramos realidade na vida do outro. Quais as escolhas que você tem feito para a sua vida? Qual é a prioridade das suas realizações? Ter de forma clara e bem resolvida essas questões faz total diferença na vida da Super Mulher que desejamos ser! Pense nisso!