Relacionamento Abusivo: será que estou vivendo um?
por Sara Campagnaro
Ahh o amor… Que sentimento gostoso! Se apaixonar e ser correspondida(o), sentir um friozinho na barriga, é bom, né? Aos poucos, o ficar vai se transformando em algo mais constante e a vontade de se encontrar, conversar, deixar os corpos se tocarem, vai ficando maior.
Daí pra frente é namoro, é morar junto, é casar… Fases de relacionamentos que estamos acostumadas(os) a ver (e muitas vezes viver). A ideia de que o amor é para sempre, nos é ensinado desde os filmes de princesas, mas já parou pra pensar que eles sempre terminam no “E foram felizes para sempre…”?
Pois é. Namorar, se envolver, casar, é muito mais complexo e difícil do que nas estórias, romances, filmes e séries. Conviver com outra pessoa nem sempre é fácil, porém, quando amamos, principalmente nós mulheres, colocamos o amor em primeiro lugar, as vezes antes de nós mesmas.
Assim, fica muito difícil enxergar e acreditar que podemos estar vivendo uma relação abusiva. Não dá pra acreditar que o homem que amo é também o homem que me machuca! Por isso, é tão difícil que uma mulher perceba que está em uma relação abusiva, pois os abusos acontecem de modo sutil e o abusador é uma pessoa por quem ela sente amor, carinho e apego emocional.
Então, como saber identificar se você ou alguma amiga está vivendo uma relação abusiva? Aponto aqui, algumas questões sobre o tema, então, se você se identificar com algumas situações, fica o sinal de alerta!
Basicamente, um relacionamento abusivo se caracteriza pelo controle e excesso de poder sobre a outra pessoa. O abusador tem o desejo de controlar e ter a pessoa para si. É uma atitude de posse, dominação e controle da liberdade da parceira.
Os sinais de um relacionamento abusivo podem aparecer de diversas formas:
• Controlar suas vontades e opiniões
• Dizer que você é louca (geralmente quando brigam) ou que você não sabe o que está falando (menosprezando a sua capacidade lógica e de pensamento)
• Te humilhar, como por exemplo, fazer piadinhas sobre você na frente de outras pessoas
• Controlar seus gastos e seu dinheiro
• Fazer jogos emocionais (“se não fizer tal coisa, eu vou terminar com você”)
• Não respeitar os seus “NÃOS”
• Dizer que ninguém vai te amar como ele
• Diminuir as suas conquistas
• Te fazer sentir sempre culpada
• Te afastar da família e amigos
• Te stalkear (perseguir)
• Agressões verbais (“você é burra”, “você é idiota”), entre outras
A questão central é que geralmente são comportamentos sutis e que não ocorrem todos os dias. Exatamente por isso fica mais difícil perceber os abusos, que muitas vezes são seguidos de pedidos de desculpas, de carinhos, presentes e concessões por parte do abusador. As promessas de que não irá acontecer novamente (ainda que volte a se repetir) pode trazer o sentimento de esperança da mudança, e assim, a vítima segue nesta relação.
Dentre as violências cometidas pelo parceiro, podemos destacar 5 (cinco) delas:
– Violência Física: bater, socar, esganar, jogar no chão, apertar, deixar marcas em seu corpo.
– Violência Moral: humilhação na frente de outras pessoas, te difamar (inventar mentiras sobre você para outras pessoas).
– Violência Patrimonial: quando implica perdas materiais, destruição de objetos pessoais (como quebrar seu celular, rasgar ou estragar suas roupas), retenção de objetos ou documentos (esconder seus documentos para que você não saia de casa, por exemplo).
– Violência Psicológica: controlar suas ações ou decisões, intimidar, manipular, ameaçar, te diminuir física e psicologicamente (afetando a sua autoestima).
– Violência Sexual: relação sexual sem consentimento, tocar em partes do seu corpo que você proibir.
Todas estas violências geram questões e problemáticas psicológicas, sendo que não necessariamente acontecem isoladas uma das outras. Muitas violências acontecem em conjunto, causando danos que aos poucos destroem a vítima. Quanto mais tempo sofrendo abusos, maiores serão os danos.
Com relação aos problemas psicológicos atrelados a uma relação abusiva, esta pode causar quadros depressivos e de ansiedade, transtorno de pânico, estresse pós-traumático, apatia, baixa autoestima, desinteresse pela vida, exaustão física e emocional, entre outros.
Lembrando que cada pessoa é única, tem sua história, personalidade e construção como ser humano, podendo estes fatores serem muito distintos uns dos outros dependendo da pessoa.
Como podemos ajudar uma amiga que está vivendo uma relação abusiva? Primeiro, devemos nos atentar para o fato de que a pessoa já está sofrendo e não está vendo o que os outros veem de fora. Então, em primeiro lugar, tenha empatia, cuidado e seja paciente. Não julgue, mas acolha, ouça, assinale o que você está vendo, como vê e deste modo, tente mostrar para sua amiga os abusos que ela tem sofrido. Não a culpe, mas ofereça a sua ajuda e aconselhe a procurar a ajuda profissional (psicoterapia).
Em casos mais graves, se ver ou ouvir alguma briga que tenha sinais de violência (qualquer que seja), ligue para o 180, que é a Central de Atendimento à Mulher. Através deste número, além de denúncias de abusos e violências, mulheres são orientadas sobre seus direitos.
Se você está vivendo uma relação abusiva ou conhece alguém que está passando por isso, ligue, se informe e não deixe de procurar uma psicóloga para te auxiliar no processo de tomada de consciência e modos de sair desta relação.
Sara Campagnaro é psicóloga, professora na Estácio Curitiba, Especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial e Mestra em Educação. Coordena o grupo de estudos “Psicologia & Feminismo”.