É sério que eu tenho que ter mais uma responsabilidade?

por Marjorie Rodrigues Wanderley

O assunto de hoje é sério: responsabilidade afetiva. Hoje eu me vi falando para um paciente: você tem que ver que quando sofre uma consequência de um ato seu, não é somente você que sofre, mas também sua mãe, irmã, avó e todas as pessoas que se preocupam com você, inclusive sua terapeuta. O paciente em questão está detido por conta de um ato infracional, e estávamos falando sobre o processo pelo qual tomamos nossas decisões, sejam elas impulsivas ou planejadas.

A conclusão a que chegamos a partir de nossas reflexões foi a de que no processo de tomada de decisão medimos o risco x benefício, ou esforço x ganho, e tudo isso levando em conta diversos fatores, os quais dificilmente conhecemos em sua totalidade. O que muitas vezes fica fora da conta é justamente a forma como nossas decisões afetarão afetivamente as pessoas ao nosso redor. Vejam, quando tomamos uma decisão do tipo aceitar um emprego em outra cidade, sabemos que isso afetará nosso cônjuge de uma forma prática, porque envolve uma mudança enorme. Nesse tipo de decisão é fácil perceber qual a parcela do outro nessa conta. No entanto, em decisões mais simples do dia a dia esse afeto da outra pessoa pode ficar tão subjetivo de forma a não parecer relevante. Mas é, e muito.

Quando falamos sobre responsabilidade afetiva estamos falando sobre como inserimos na conta de nossas tomadas de decisão o que as outras pessoas sentem, e esse processo pode ser muito complexo. Primeiro, não temos como acessar diretamente a forma como a outra pessoa é afetada. Ainda que tivéssemos, estamos trabalhando com base em uma previsão, porque não temos todos os dados que nos permitem saber o resultado exato. Essa complexidade não significa que essa análise não deve ser feita, mas sim que precisará de um processo de investigação.

Esse processo implica conhecer subjetivamente as pessoas que estão ao nosso redor, e para isso a fórmula é a seguinte: Pare. Olhe. Escute. Parece simples? Infelizmente, esse processo se torna muito difícil com nossas rotinas que nos atropelam e acabam atropelando aos outros também. Em primeiro lugar, parar significa estar presente com o outro, dedicando-se somente à troca que está acontecendo no momento. Olhar significa estar atento às nuances, aos gestos, expressões, o que só é possível de fazer se estivermos dedicados ao momento presente, portanto ‘parar’ é um pré-requisito. Por último, escutar o que o outro tem a dizer. Verdadeiramente, sem interrupções, sem ansiedades.

Não sabe como uma decisão pode influenciar afetivamente outra pessoa? Pergunte. Mas não se esqueça dos passos, principalmente o de escutar com ouvidos, cabeça e coração abertos. Não estamos falando sobre aquele tipo de conversa na qual você já está esperando para falar o que pensou. Estamos falando de uma troca calma, com paciência e espaço para confusões, incongruências e na qual a outra pessoa pode colocar tudo o que ela é. Dessa forma, estaremos conhecendo a outra pessoa e obtendo o máximo de dados possível para levar em conta o outro em nossas decisões, e dessa forma sermos afetivamente responsáveis.

Marjorie Rodrigues Wanderley, psicóloga, professora da Estácio Curitiba, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná

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