Neurônios-espelho: fenômeno explica comoção em massa com morte de artistas como se fosse alguém íntimo
A trágica morte de Marília Mendonça deixou o Brasil despedaçado. Não só os fãs mais afoitos, mas até mesmo quem já ouviu falar dela ou já escutou as músicas da cantora em algum momento, sentiu uma carga emocional com a partida precoce da artista como se fosse a perda alguém de seu convívio.
Tal reação ainda não é compreendida em sua totalidade por muita gente quando expressada a seguinte frase: “parece que é com alguém da minha família”.
A psicóloga Maria Rafart então explica didaticamente o fenômeno chamado Neurônios-espelho, o responsável por impactar o emocional das pessoas diretamente quando algo bom ou ruim acontece com seus ídolos.
“Uma descoberta relativamente recente, de apenas uma década atrás, correlaciona o fenômeno da estreita relação de ídolos com seus fãs com os chamados neurônios-espelho. A profunda identificação dos fãs com seus ídolos se dá não somente em razão das qualidades que ele possui, e que os fãs admiram de desejariam ter – é uma relação ainda mais profunda.
Os seres humanos são tão acostumados a se identificar uns com os outros pelos neurônios-espelho, que qualquer um de nós sabe, por exemplo, se uma pessoa desconhecida na rua está triste ou não. Da mesma forma, se vemos alguém nas redes sociais fazer o unboxing de um produto, podemos desejar fazer a mesma coisa, tal a identificação que é desencadeada. Os magos do neuromarketing se utilizam muito dessas técnicas ao contratar os próprios famosos para mostrar produtos que os fãs compram quase que instantaneamente.
Com a grande força das redes sociais, os fãs se tornam íntimos de seus ídolos – conhecem, além da sua carreira, sua família, sua casa, sua rotina – e dessa forma, sentem-se mais íntimos deles. Através da identificação inicial, os fãs são levados à empatia – e aí entram em ação os neurônios-espelho. O grande impacto emocional chega a causar nos fãs descargas de dopamina – isso torna mais aguda a identificação, e até a imitação.
Além da dimensão do entretenimento, a dimensão pessoal pesa muito na identificação de um fã com seu ídolo. O fã passa a sentir, a experimentar, tudo o que acontece com seu ídolo. Fica feliz com o nascimento de um filho, como se fosse um parente seu. E chora a sua morte, como se ele fosse um parente muito próximo. Daí a grande comoção causada pela morte de um ídolo: é como se fosse alguém da família que tivesse partido.”