Fiz bariátrica e engordei na pandemia. E agora?

As estatísticas comprovam: duas entre dez pessoas que fazem cirurgia bariátrica podem voltar a ganhar peso. Nesse período de pandemia, essa proporção pode ser ainda maior. O alerta é do médico Saturnino Neto, cirurgião especialista em bariátrica, que em suas redes sociais vem debatendo o tema com especialistas e pacientes. Entre os fatores que contribuem para o reganho de peso estão a ansiedade, o medo e a frustração desencadeados pelo isolamento social. Comportamentos que podem atrapalhar a manutenção exigida pelo procedimento.

Disciplina, atividade física e até uso de medicamentos são algumas das indicações do médico e da equipe multidisciplinar que o acompanha. O objetivo é que a ansiedade e a frustração não atrapalhem o processo de emagrecimento proporcionado pela cirurgia.

“É muito frustrante para quem fez e para nós, cirurgiões. A retomada do peso gera falhas no tratamento e, muitas vezes, gera impacto na qualidade de vida com o retorno das comorbidades associadas à obesidade”, observa o médico.

Sempre priorizando a saúde do paciente, o médico explica como funciona todo o processo bariátrico, as técnicas e a diferenciação entre reganho por falha da cirurgia. “O impacto da bariátrica na saúde do paciente é muito importante”, lembra. Diabetes e pressão alta, entre outras comorbidades, são comuns entre os obesos. Estudos comprovam que a cirurgia controla essas doenças.

Não existe uma única causa para um bariátrico voltar a ganhar peso. Mas se desse para evitar, o que fazer? “Toda dieta tem perda de gordura e de massa muscular. Então, se o paciente não fizer atividade física, a sarcopenia (perda da massa muscular após a cirurgia) vai ser muito grande e irá impactar três, cinco anos depois, com reganho de peso. O que deixa o nosso metabolismo acelerado o suficiente para queimar gordura é uma massa muscular adequada. O impacto de uma bariátrica na vida de um paciente é muito importante. Tem que haver mudança no estilo de vida e na alimentação”, responde. 

Exercícios físicos, como a musculação, aliados a uma dieta adequada, são receita de sucesso. “A cirurgia não é a cura, é uma ferramenta. E quem não souber usar, pode se machucar”, lembra.

Medicamentos ajudam no controle

Michelle Polesel, médica endocrinologista da equipe multidisciplinar de Saturnino Neto, explica que as possibilidades de tratamento medicamentoso são as mesmas para quem é ou não bariátrico. De acordo com ela, das três drogas aprovadas pela Anvisa para auxiliar no tratamento, duas delas – o Orlistat e a Sibutramina – são indicadas em caso de reganho de peso e como toda medicação devem ser usadas apenas a critério do médico. 

“De forma geral, ambas têm apresentado boas respostas”, avalia, mas a resposta em um paciente bariátrico pode ser melhor. Os dois medicamentos agem na regulação da fome e da saciedade. Os médicos lembram, no entanto, que não existe “uma solução mágica”. Existe uma série de fatores e cuidados, como lembra o médico Ribeiro Neto.

Escolha de alimentos colabora

A nutricionista Ariadne Modesto Machado, também da equipe do médico, propõe uma melhor escolha dos alimentos, e um acompanhamento rigoroso durante toda a vida do paciente.

“Nos primeiros seis meses é fundamental a suplementação vitamínica, como a da B12, que evita a queda de cabelos, muito comum nos bariátricos”, lembra. 

Saturnino Neto reforça o papel fundamental da atividade física. Ele mesmo é um ex-obeso. E descobriu na bicicleta um novo estilo de vida, capaz de garantir peso baixo e muita saúde. Entre consultas e cirurgias bariátricas, o médico se movimenta de bike pela cidade e diz que a chave para manter o peso é apostar no ganho de massa muscular.

O médico observa que os esforços para a perda de peso devem iniciar antes da cirurgia. “Com isso, no pós-operatório o paciente irá se beneficiar ainda mais”, justifica. A nutricionista, concorda. De acordo com ela, o acompanhamento nutricional pré-operatório já educa o paciente. “Ele vai saber que terá uma rotina de alimentação e fazer uma escolha melhor desses alimentos. A suplementação também é necessária, principalmente nos primeiros seis meses”, pondera Ariadne.

A escolha dos alimentos é outro ponto crucial. Muitos pacientes têm dúvidas em relação à ingestão de carne, por exemplo. Ariadne lembra que a proteína, se mal processada, pode ficar dura. Ela sugere que o paciente suplemente com outros alimentos ricos em proteína, como as ervilhas. E lembra que a mastigação é importante para a deglutição. “Além de beber muita água”, finaliza. 

O que leva ao reganho

  • Ociosidade
  • Estresse
  • Sono desregulado
  • Bebidas alcoólicas
  • Hábito de beliscar
  • Comer à noite
  • Uso de medicamentos com efeito metabólico
  • Falta de vitaminas (como a B12, entre outras)
  • Falta de acompanhamento multidisciplinar
  • Baixa atividade física
  • Baixa porcentagem de massa muscular/alta taxa de gordura corporal 
  • Beber pouca água

Como evitar

  • Exercitar-se. O melhor exercício para perda e manutenção de peso são os exercícios de força ou de resistência, entre eles musculação, crossfit, funcional e pilates.
  • O músculo, além de gastar energia mesmo em repouso, é um órgão endócrino, que produz hormônios que ajudam na regulação da fome e da saciedade.
  • O treino ideal para quem fez a bariátrica é do tipo hit: rápidos, que intercalam força e velocidade, para manter os batimentos cardíacos acelerados.
  • Resistir e tratar a compulsão alimentar

Como funciona a equipe multidisciplinar

  • A equipe multidisciplinar do paciente que faz a bariátrica é muito importante. É ela quem avalia e acompanha todo o processo. É composta por cirurgião, nutricionista, psicólogo, educador físico e, de acordo com a necessidade, ainda entram o endócrino, o cardiologista, o psiquiatra e outros.
  • Uma das principais funções dessa equipe é avaliar a perda e manutenção do peso, mas não é só isso. Ela também vai ficar de olho nas vitaminas, no comportamento alimentar e nas dificuldades do dia a dia, auxiliando o paciente. A equipe tem uma função importante no acompanhamento e comprometimento para o sucesso do procedimento.

Diferenças entre os procedimentos

  • Bypass Gástrico é a cirurgia que combina a restrição de um estômago pequeno a uma desabsorção pela mudança da anatomia do intestino.
  • Sleeve é o codinome dado à Gastroplastia Sleeve. 
  • Apesar dos nomes complicados, os ganhos em saúde são enormes. Também conhecida como Cirurgia de Redução de Estômago, a bariátrica oferece a oportunidade da perda entre 30% a 40% do peso original. Pode ser realizada por laparoscopia ou por cirurgia robótica.

Quem é o médico Saturnino Neto

Graduado em Medicina pela Fundação Educacional Serra dos Órgãos (Teresópolis, RJ), com residência em Cirurgia Geral no Hospital São José do Avaí (RJ), hospital referência nacional em Laparoscopia Avançada, entre outras graduações, o médico Saturnino Neto também é presidente no Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil). Foi bolsista do Hospital Universitário Nacional de Seul (Coréia do Sul), em tratamento de câncer gástrico. Especialista em cirurgias bariátricas, também é especializado em cirurgias usando a robótica. Conheça mais no site www.saturninoneto.com.br e nas redes sociais: @saturninoneto e https://www.facebook.com/saturninonetodr.

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