Não quero ser infalível
Como começar um texto desmotivacional sendo uma otimista inveterada?
Para mim confesso, é um desafio! Acredito que só pelo título muita gente vai passar reto “O Mundo tá tão baixo astral” não é o tipo de conteúdo que precisamos, não é? Na minha não tão humilde opinião, é sim.
Afinal, que máquina de produzir conteúdo superficial foi essa que nos tornamos? Tenho tentado- e falhado miseravelmente- acompanhar um pouco do conteúdo que está sendo produzido por adolescentes, e tenho percebido como a velocidade atrapalha a profundidade.
Eles não querem escrever uma palavra inteira, quem dirá ler livros, textos longos são maçantes, é tudo cringe- e juro que não são palavras de uma millenial despeitada que envelheceu- aliás, eu amo envelhecer, nunca foi segredo pra ninguém- meu pai sempre diz: “O segredo para não envelhecer é morrer novo” e pelo menos aqui, o objetivo é vida longa, morrer o mais jovem que eu conseguir, estando bem velhinha.
Morrer é chato demais para pessoas que assim como eu, não gostam de fins inesperados e amam loucamente estar vivos (mesmo numa pandemia, com a vivência sendo moderada pela maior crise sanitária dos últimos tempos). A vida é um presente!
Amo a comunicação, nunca esqueci a frase do meu professor de sociologia do primeiro ano, na primeira faculdade que estudei, que dizia: “O que nos distingue dos outros seres vivos é a linguagem” e acompanhar a evolução da linguagem, que nos permite interagir de forma consciente uns com os outros, e perceber que cada vez menos, estamos refletindo sobre como nossa comunicação – ou a falta dela – afeta o outro, me faz querer interagir cada vez menos.
São tantas crises vivenciadas ao mesmo tempo, que não me surpreende o desejo de geral se fechar em si – ou de repetir padrões- em uma busca insana em ser um case de sucesso, numa sociedade onde quem realmente é cultuado é o Deus Mercado e a palavra final é sempre ditada pelo dinheiro.
A vida é uma sopa e a gente tá de garfo!
Gosto do discurso de ser você mesmo, mas tá difícil saber quem somos nós mesmos, quando somos abduzidos pelos códigos de conduta, pelas receitas de bolo e narrativas fáceis de felicidade e da plenitude, dos coachs motivacionais e enfim, a galera good vibes e espiritualizada – que me perdoem – eu morro de preguiça.
Tanta coisa pra fazer, pra se sentir você mesmo, que quando a gente menos percebe se perdeu e já tá lá, na blogueiragem, querendo imitar o outro. Não sei onde acabo e onde começa toda a socialização entranhada na nossa mente. A gente sabe o que fazer ou ao menos acha que sabe, mas sinceramente, as vezes não quer fazer nada!
E acredito que não deve ser diferente por aí. Bateu na porta o desejo de ser mãe, ao mesmo tempo entram pela janela as notícias da neurose que é ser mãe (e como filha, meu desejo era sequestrar a minha mãe, só pra dar a ela férias de luxo num iate nas ilhas Maldivas).
Como criar uma criança menos traumatizada num mundo doido como o nosso, apressado, irritado, neurótico, comandado por tanta gente ruim, sem empatia, sem cuidado, sem amor?
Ao mesmo tempo como respeitar nossas vontades, mesmo sabendo que socialmente seremos excluídos? Como matar em si o desejo de largar tudo e viver no meio do mato, sem conexão virtual e apenas a conexão real? O mundo tá tão cafona, a gente registra tudo em imagens e tem preguiça de ter uma conversa profunda sobre tudo isso que nos aflige e é tanta coisa…
A era dos depressivos e ansiosos tá sem graça, tá perdendo a alegria e aqui, a melancolia que já era presente, virou parça, brother, aquela vontade de viver em outra época, a época em que eu me arrumava com minhas amigas pra dançar até de manhã – eu que amo dançar – to pegando ranço de tantas dancinhas e falas iguais na internet.
Nos tornamos uns repetidores ou sempre fomos e não estava registrado em imagens ou eu não tinha percebido? Não sei dizer!
E aqui, onde o otimismo e a gratidão eram habituais, foram substituídos por uma frase que sempre ecoa na minha cabeça “Vão si fudê pra lá”, só queria uma vida mais simples, dessa gente que não tem tanta informação, mas se comunica levando um pedaço de bolo pro vizinho.
O mundo virou um grande hospício a céu aberto. O sistema nos transformou em produtores desenfreados de conteúdo não remunerados. No fim, eu queria ignorar tudo isso que me aflige e me abraçar com a galera que consegue viver no próprio umbigo, ignorando tudo que nos rodeia.
Estes dias, alguém que me faz feliz mesmo a distância, me disse: “Não fica triste Su, o mundo tá triste demais!” Pensei, você tem razão, meu bem! Não combino com tristeza, mas como ser feliz individualmente, sabendo que o coletivo tá mega zuado.
Queria muito trazer palavras de motivação pra gente seguir aguentando firme, mas o fato é que memes depreciativos são o que realmente tem me feito rir.
Dizem os motivadores: Escolha ser forte! Enfrente as dificuldades com cabeça erguida! Acredite em você! Mas daí eu fico pensando que eu sou parte de tudo isso e eu não acredito na maioria de vocês, esses seres infalíveis.
Queria mesmo era deitar em posição fetal e chorar até os problemas se resolverem sozinhos, como dizia a melhor frase desmotivacional que eu conheço: “Não faça hoje o que você pode deixar para amanhã, porque amanhã pode ser que não precise mais.”
No mais, tão exausta para discorrer que to quase respondendo as pessoas com grunhidos. Boa sorte pra vocês guerreiros, eu só queria mesmo ser uma madame, tomando meu Dry Martini, na minha sacada com vista pra qualquer lugar destes chiques da internet, fazendo dancinha no Tic Toc com a bunda dura, a alimentação saudável, a Skyn Care e os boletos em dia.
“Só depende de você”, os motivadores dirão. E eu respondo: Por saber disso que escrevo esse texto desmotivacional, porque eu preferia que dependesse da herança de uma tia rica ou de bens da minha família, ou pensando como a grande revolucionária que mora no meu coração, mas hibernou na pandemia: A queda do capitalismo já ia ajudar um tanto.
Toda uma existência baseada em fazer caipirinha dos limões que a vida me deu e tentando construir meu castelo com as pedras do caminho, mas apesar de; sabendo que me tornei uma rocha, foi então que percebi finalmente:
A gente só consegue se lapidar, quando se permite ser vulnerável! Quanto a mim, cansada de querer ser infalível.