Mieloma múltiplo recidivado: qual o melhor tratamento?

O mieloma múltiplo, segundo tipo mais comum de tumores do sangue, é uma doença que não tem cura, porém é cada vez mais controlável. Mas com o avanço da Medicina e o volume crescente de opções terapêuticas, como escolher o melhor regime de tratamento quando a doença retorna?

O mieloma múltiplo se caracteriza pela produção anormal de plasmócitos, tipo de glóbulo branco gerado na medula óssea e que é responsável pela produção dos anticorpos que combatem vírus e bactérias. O plasmócito doente produz anticorpos ineficazes e que podem prejudicar o paciente, podendo levar a problemas renais, dentre outros.

O médico Breno Moreno de Gusmão, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais centros de tratamentos oncológicos do País, lembra que para definir a estratégia terapêutica a ser adotada a primeira pergunta a ser feita é se o paciente precisará ser tratado imediatamente ou não. Isso porque alguns tipos de recaída (em que só há alteração leve das proteínas) devem ser apenas acompanhados, pois não prejudicam o paciente, permitindo, dessa forma, poupá-lo da toxicidade do tratamento.

Para aqueles pacientes que necessitam ser tratados, algumas questões-chave devem ser respondidas. Quanto tempo demorou para ocorrer a recaída após a terapia e qual foi a resposta ao último tratamento? Onde e como se deu a recaída? Qual a agressividade e quais as características genéticas do tumor? Quais os níveis de toxicidade e efeitos colaterais das medicações usadas anteriormente?

O especialista da BP lembra que o médico tem que considerar o perfil de cada paciente e observar fatores como comorbidades (presença de outras doenças), dificuldade de mobilidade, distância do centro de tratamento e forma mais adequada de administração dos medicamentos, entre outros. É necessário, ainda, avaliar as possibilidades de acesso do paciente aos novos tratamentos. “Com base nessas informações, o profissional de saúde pode adaptar de forma mais assertiva a estratégia terapêutica, visando sempre assegurar a adesão ao tratamento, ou seja, que o paciente use corretamente as medicações e venha regularmente para as consultas”, diz ele.

Opções à disposição

De forma geral, o mieloma múltiplo é tratado com quimioterápicos, com novos medicamentos não quimioterápicos e, em alguns casos específicos, com radioterapia. O transplante de medula óssea é destinado para pessoas com até 75 anos, em bom estado clínico e que tenham apresentado boa resposta ao tratamento, já que ele aprofunda a intensidade da resposta e ajuda a aumentar o tempo sem a doença.

Atualmente entre 30% e 40% dos pacientes com a doença são transplantados. O transplante usado no mieloma múltiplo é o autólogo, ou seja, da própria medula do paciente. Já o transplante alogênico, que é recebido de um doador familiar ou não, é muito mais tóxico e menos eficaz no mieloma múltiplo e, por isso, somente adotado em casos extremamente raros.

De acordo com o hematologista da BP, as intervenções medicamentosas vêm, cada vez mais, se consolidando como as preferenciais, tanto em razão do aperfeiçoamento dos quimioterápicos como pelo desenvolvimento de novas classes de remédios com maior eficácia e menor toxicidade. Elas podem, inclusive, ser adotadas de forma combinada, já que algumas têm mais eficácia sobre determinados tipos de mieloma, outras são mais indicadas para casos mais recentes ou para pacientes com várias recaídas. “Os médicos contam com um leque diversificado de combinações possíveis para cada caso, visando chegar a esquemas medicamentosos cada vez mais eficientes e menos tóxicos. No caso do mieloma múltiplo vale uma regra de ouro: os melhores tratamentos, os mais eficazes, devem ser usados o quanto antes, preferencialmente assim que o paciente é diagnosticado. Não devem ser “guardados” para depois, pois reduzem muito a eficácia”, diz Breno de Gusmão.

Car-T Cell

Outras opções de tratamento surgiram nos últimos anos como a nova geração de anticorpos fabricados em laboratório e medicamentos que aumentam alguns mecanismos para a morte celular. Há, ainda, uma moderna tecnologia terapêutica chamada de Car-T Cell, que envolve a extração dos linfócitos do próprio paciente para serem geneticamente modificados em laboratório e ‘treinados’ para reconhecer os plasmócitos doentes como corpos estranhos ao organismo. Depois disso, são multiplicados no próprio laboratório e devolvidos ao paciente diretamente pela veia para combater e eliminar as células doentes. “As Car-T Cell ainda não estão disponíveis no Brasil, mas a BP, que é uma instituição de referência nessa especialidade médica, está se organizando para trazer essa tecnologia em breve. Essas novas frentes podem representar caminhos que, um dia, podem levar à cura do mieloma”, finaliza o médico.

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