Florescer ou definhar?

Estamos vivendo um período desafiador atualmente, sendo sentido e percebido de forma mais intensa durante a pandemia da Covid 19.

Há um fenômeno caracterizado pelo sociólogo Corey Keyes chamado languishing que, traduzido para o português, significa definhamento. É uma palavra forte, triste e amedrontadora, mas é o que vemos acontecer com a saúde mental das pessoas pelo mundo, principalmente nesse último ano.

O contrário de definhar é florescer. Vamos entender esse conceito: pense numa flor bela e perfeita. Do que ela precisa para florescer? A flor necessita de luz, água, uma terra fértil e um ecossistema apropriado. Quando isso não acontece, ela vai definhando aos poucos, vai perdendo a cor, o brilho, vai murchando e ficando sem graça, até que um dia morre.

Pensando em nós, humanos, definhar é ir perdendo o sentido da vida, é ir se sentindo vazio e sem propósito. Esse tipo de sintoma não se enquadra em um diagnóstico de depressão, ou seja, não é uma doença, mas a pessoa está vagarosamente perdendo o brilho e a energia. Não é saúde também! Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde não é ausência de doença e sim um sentimento de bem-estar biopsicossocial e espiritual.

O definhamento também é caracterizado como saúde emocional pobre, uma preocupação maior com as próprias necessidades ao invés das necessidades dos outros, desânimo, baixa motivação e sentimento de estagnação. Sabe aquela sensação de uma vida sem cor? Não é ruim, mas também não é boa. Essas pessoas que estão definhando possuem seis vezes mais chances de desenvolver depressão em comparação àquelas que estão florescendo, segundo Corey Keyes. E como são as pessoas que estão florescendo?

Pessoas florescentes relatam atribuir sentido e significado positivo nos relacionamentos, no trabalho, na vida espiritual e na saúde. Relacionamentos íntimos e satisfatórios com parentes e amigos, ter um propósito ou objetivo importante na vida e pensar para além de si mesmo são fatores que favorecem o florescimento. De mais a mais, essas pessoas experimentam afeto positivo na maior parte do tempo, com envolvimento no trabalho e construção de vínculos e redes de apoio social. Não é enxergar o mundo cor-de-rosa e sim entender que as situações desafiadoras são ruins, mas não irão durar para sempre. Nesse sentido, entendem que para superarem as dificuldades da vida precisam focar no bem-estar próprio e dos outros também, apresentando um comportamento de reciprocidade com o seu meio.

Então, vamos lá: para florescer ao invés de definhar nesses tempos complicados, sugiro que:

  • Aceite o momento presente e a si mesmo. Não está sendo fácil, mas pior é negar ou fingir que nada está acontecendo. Ao aceitar é possível pensar em ações efetivas para superar os problemas.
  • Aceitar também as diferenças, os modos de pensar dos outros e a complexidade da vida.
  • Esteja aberto a novas experiências.
  • Busque crescer como pessoa e se desenvolver nos aspectos pessoais, profissionais, relacionais e outros.
  • Tenha uma visão positiva do futuro: acredite que a sociedade pode ser melhor. Claro que temos retrocessos, mas há muitos avanços também. Que tal prestar atenção no que está evoluindo?
  • Tenha objetivos claros, mensuráveis e possíveis de serem alcançados no curto, médio e longo prazos.
  • Contribua socialmente. Não precisa ser uma grande contribuição: pode ser escutar verdadeiramente um amigo, ajudar o vizinho em uma tarefa, estar atento às necessidades da família, participar de campanhas para auxiliar as pessoas com menos oportunidades, pagar seus impostos, ser honesto, não passar os outros para trás, ter participação política, pensar no bem comum e não só no bem de uma elite, ter senso de comunidade e procurar não julgar as escolhas dos outros.
  • Tenha responsabilidade com o meio ambiente e procure estar no meio da natureza.
  • Seja autônomo: tenha um comportamento autodirigido, seguindo as regras e normas sociais com consciência, crítica e sentimento de reciprocidade.
  • Procure tratar bem as pessoas conhecidas e desconhecidas. Cumprimente, sorria, olhe nos olhos, agradeça, peça por favor, peça desculpas quando for o caso e seja gentil.
  • Procure construir relações íntimas, fortes e duradouras. Não é fácil, pois é preciso uma dose de tolerância e paciência, mas é gratificante.
  • Exercite-se: dance, corra, ande, vá para à academia… Qualquer movimento faz bem.
  • Coma uma comida saudável e na proporção que seu corpo necessita.
  • Tome água.
  • Reze, ore, medite, reverencie e creia em algo.
  • Estude, leia, queira aprender durante toda a vida.
  • Faça atividades prazerosas.
  • Faça check-ups.
  • Ame!

Difícil, não é? Mas é possível! Um dia de cada vez, vamos lá. Temos uma vida para poder colocar em prática essa lista e não é preciso que isso tudo aconteça em um dia apenas. Não pense na chegada, pense na caminhada e no processo e desenvolvimento dessas atitudes. E não desanime! Não são todos os dias que serão bons. Há dias terríveis, mas eles passam. E quando precisar de ajuda, pense em fazer uma psicoterapia – pode ser um passo para melhorar a sua saúde mental e então, florescer.

O texto foi escrito com base nos artigos:

WISSING, MP, SCHUTTE, L., LIVERSAGE, C. et al. Important goals, meanings, and relationships in flourishing and languishing states: towards patterns of well-being. Applied Research Quality Life 16, 573–609, 2021.

KEYES, C. L. M. The Mental Health Continuum: From Languishing to Flourishing in Life. Journal of Health and Social Behavior 43, no. 2. p. 207-22, 2002.

Juliana Corrêa Schwarz, psicóloga na abordagem cognitiva-comportamental, mestra em educação e professora na Estácio Curitiba

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