É preciso redobrar o cuidado com doenças cardiológicas na pandemia

O número de mortes por doenças cardiovasculares aumentou desde o começo da pandemia. Um estudo conduzido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em parceria com as universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Minas Gerais (UFMG), apontou um crescimento considerável desses registros em algumas das cidades mais afetadas pela Covid-19.

Em Manaus, por exemplo, as mortes por doenças cardiovasculares não especificadas, infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC) ocorridas entre os meses de março, abril e maio de 2020, subiram 132% em relação ao mesmo período em 2019. Em Belém o índice foi de 126%, no Rio de Janeiro de 38% e em São Paulo, 31%.

A Covid-19 pode afetar o organismo das pessoas de diferentes maneiras, no entanto, pacientes que já possuíam algum tipo de comorbidade, como as cardiopatias, ficaram mais em risco de desenvolver quadros graves da doença.

A profissional de cardiologia Ludhmila Abrahão Hajjar, cardiologista intensivista da Rede D’Or São Luiz, coordenadora da UTI Cardio Covid do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, avalia que a pandemia tem sido delicada para o coração dos pacientes, já que o vírus mostrou que é capaz de desequilibrar doenças cardiovasculares que antes estavam sob controle. “Houve um momento em que 50% dos óbitos de vítimas da Covid-19 ocorreram por problemas cardiovasculares”, destaca.

Além da Covid, outras doenças não param de ocorrer

Desde o começo da pandemia, em março de 2020, esse tema domina o noticiário e as conversas do dia a dia. A gravidade da Covid-19 e a necessidade de extremo cuidado preventivo devem sempre ser ressaltadas, especialmente com índices ainda altos no Brasil.

Porém, nesse meio tempo, outras doenças não ficaram paradas à espera da pandemia acabar, principalmente em um país onde 380 mil pessoas morrem, por ano, de problemas cardiovasculares, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Em todo o mundo, o número chega a 18 milhões de óbitos anualmente.

A SBC alerta que houve uma grande redução no número de consultas com cardiologistas, cerca de 50% apenas em São Paulo. A explicação encontrada por profissionais de cardiologia é que muitos pacientes acabaram negligenciando alguns cuidados durante a pandemia. O medo da Covid-19 afastou as pessoas dos consultórios, até pelo receio de ir às ruas e contrair a doença.

Procedimentos simples, como aferição de pressão, e exames de rotina, como hemogramas e até eletrocardiogramas, também tiveram queda. A consequência imediata disso foi que os procedimentos habituais que os cardiopatas precisam fazer foram deixados de lado, aumentando, assim, as chances de um mal súbito ou de complicações que possam agravar o quadro geral.

Pacientes cardiopatas devem fazer consulta com cardiologista com frequência no intuito de controlar os sintomas e amenizar os riscos. “As doenças cardiovasculares podem acontecer em qualquer idade. Nesse sentido, é fundamental ter hábitos de vida saudáveis e ir ao médico periodicamente para prevenir enfermidades como a hipertensão, que pode provocar um AVC”, ressalta Ludhmila.

Os consultórios médicos estão obedecendo aos protocolos de proteção à Covid e estão aptos a receber os pacientes com segurança.

Doenças do coração são silenciosas

Manter a saúde em dia e procurar realizar consultas periódicas ao médico é uma forma de não ser surpreendido por uma doença silenciosa, como a hipertensão, por exemplo. Quando a pressão arterial ultrapassa 140/90 mmHg (ou 14 por 9), a pessoa é diagnosticada como hipertensa, que é uma das comorbidades que mais favorecem casos graves de Covid-19.

Quanto mais o paciente mantém o quadro de hipertensão sem nenhum cuidado, mais o coração precisa se esforçar para distribuir corretamente o sangue pelo corpo. O excesso de trabalho pode provocar derrames, aneurismas, insuficiência renal e infartos. A chance de um grave problema cardíaco é maior nesses pacientes do que em pessoas que têm a pressão arterial normal.

O lado ruim é que não há sintomas claros que podem ligar o sinal de alerta, ainda mais no estágio inicial. Logo, as visitas ao cardiologista são fundamentais para ajudar no diagnóstico. A hipertensão mata cerca de 10 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que 30% da população do Brasil seja hipertensa.

A boa notícia é que a doença é fácil de ser identificada e pode ser prevenida. Para isso, o paciente precisa adotar hábitos simples como manter o peso adequado, ter uma alimentação balanceada, praticar exercícios físicos regularmente, reduzir o consumo de álcool e evitar o cigarro e o estresse.

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