Os perigos da gordura abdominal associados a covid, segundo pesquisa em Milão

Pesquisa recente realizada em Milão, na Itália, e apresentada no Congresso Europeu sobre Obesidade, apontou que a circunferência abdominal é mais importante do que a obesidade geral na análise da gravidade da covid por meio de exames raio-x. A obesidade abdominal é a gordura ao redor da cintura. Já obesidade geral é determinada pelo IMC (índice de massa corporal).
Para se chegar a essa conclusão, os cientistas do Instituto de Hospitalização e Cuidado Científico Policlínico San Donato dividiram o pulmão de 215 pacientes em três zonas, podendo-se obter no máximo três pontos em cada uma, sendo zero para desempenho pulmonar normal e três para função ruim. Pacientes com obesidade abdominal tiveram resultados significativamente maiores (média 9) em comparação com aqueles sem obesidade abdominal (média 6). Em números percentuais, a diferença foi de 59% e 35%, respectivamente.

Afinal, por que a gordura abdominal é tão perigosa?

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que põe a glicose do sangue para “dentro” das células. Quando se está acima do peso ou com excesso de concentração de gordura na região abdominal (gordura visceral), a insulina passa a ter “dificuldade” para agir, instalando-se assim um quadro de resistência. O que o organismo faz para tentar “superar” esta resistência? Produz mais insulina!
“O problema é que a insulina em excesso gera ganho de peso (ela é um hormônio que produz energia), estabelecendo um ciclo vicioso. Como o pâncreas tem sua demanda metabólica muito aumentada (trabalha muito acima da capacidade que deveria), pode não conseguir mais manter este ‘ritmo de produção’. Daí, surgem as alterações glicêmicas que vão desde glicemia de jejum alterada e intolerância ao carboidrato (feito pelo teste oral de tolerância à glicose ou curva glicêmica) até o diagnóstico de diabetes franco”, explica a Dra. Claudia Chang, pós doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Como medir a gordura abdominal e saber se o nível está normal ou não

Segundo a endocrinologista, a melhor forma é medir a circunferência abdominal na linha da cicatriz umbilical. Para saber o resultado, este é o método mais utilizado no Brasil que determina os valores ideais de circunferência:
NCEP/ATPIII: considera valor ideal <102cm homens e <88cm mulheres

É possível reverter o processo de resistência insulínica?

No estudo DPP (Diabetes Prevention Program) foi constatado que naquelas pessoas que tinham quadro de pré-diabetes, a modificação do estilo de vida foi mais eficaz do que a medicação para resistência insulínica utilizada isoladamente. O ideal seria mudar hábitos alimentares, como diminuir a quantidade de carboidratos simples (açúcar refinado) e dar preferência a carboidratos complexos e integrais (arroz e pão integral). Além disso, comer mais proteína ajuda a diminuir a fome e aumentar a sensação de saciedade, pois ela atua diretamente nos níveis de grelina e de outros hormônios responsáveis por regular o apetite e aumentar o metabolismo.
“A cautela que se deve ter é que o corpo tem um limiar de absorção proteica (em média, 1,5g/kg/dia). Acima disso, o organismo não consegue estocar e acaba eliminando. O responsável pela eliminação deste excesso de proteína é o rim, ou seja, pessoas com histórico de cálculo renal e alteração na função renal precisam ser comedidas. Em suma, o ideal ainda é adotar uma alimentação balanceada, com acompanhamento profissional, associada a um programa regular de atividade física”, finaliza Claudia Chang.

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