Qual o seu tempo?

Tempo, o que fazemos com ele e o que construímos ao longo do seu caminho? “Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos. Tempo, tempo, tempo, tempo, entro num acordo contigo”, canta Maria Gadú os versos de Oração ao tempo, de Caetano Veloso.

No tempo cabem as nossas histórias passadas e nossos projetos futuros, os destinos que nós escolhemos trilhar. Qual ritmo damos as nossas horas, meses e anos? É uma correria ou calmaria? Os acordos que fazemos com o tempo são transformados dependendo do nosso momento de vida, do nosso cotidiano, das rupturas e aberturas que surgem da nossa relação com o mundo.

O ser humano pensa sobre o tempo há muitos séculos. Entre os intelectuais que pensaram a temporalidade, estão os gregos. Entre seus mitos, existe um que conta a história de dois deuses do tempo, Chronos e Kairós. O primeiro, é o que se pode medir, já o segundo é o da oportunidade, o tempo do momento adequado, ou ainda, o tempo psicológico. Nossa vida se passa na relação entre Chronos e Kairós, entre o tempo do relógio e o das relações com os outros e conosco.

Muito se fala sobre “tirar um tempo para si”… mas você já parou para pensar o que isso significa? Cada um de nós dá um sentido único para as experiências da vida, e com isso, para os momentos bons consigo. Às vezes até fica difícil descobrir o que é esse tempo para si. É o tempo em que estou arrumando a casa?

O tempo que estou me preparando para uma prova? É o tempo em que estou descansando? É quando estou fazendo uma comida? Tantas vezes tomamos como nossos, tempos que são dedicados para outros. Mães são aqueles seres que muitas vezes englobam em seu tempo pessoal as filhas e filhos. Seria isso realmente um tempo para si?

Chronos é o senhor das horas, e elas passam levando os anos adiante, mas o tempo do nosso destino, das oportunidades de olhar para si, é de nossa escolha. É ler um livro, assistir um filme, ouvir a música preferida, fazer terapia, ficar em silêncio. Essa decisão é entre você e o seu tempo, como na voz de Maria Gadú: “fica guardado em sigilo, tempo, tempo, tempo, tempo, apenas contigo e migo”.

 

Sara Campagnaro é psicóloga, professora na Estácio Curitiba, Especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial e Mestra em Educação. Coordena o grupo de estudos “Psicologia & Feminismo”.

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