Mães na Tecnologia: representatividade feminina ainda é baixa no mercado de trabalho

Conciliar família, filhos e trabalho não é uma tarefa nada fácil e isso ficou ainda mais evidente com a pandemia do Covid-19, quando muitas mulheres foram sobrecarregadas com a dupla jornada de mãe e profissional – rotina de 86% delas, segundo dados do Infojobs. Uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey & Company mostrou que, as mães além de lidarem com uma parcela maior de afazeres domésticos que os pais nos últimos meses, preocupam-se duas vezes se estão sendo julgadas negativamente ao fazerem home office. O levantamento mostrou também que, uma em cada quatro mulheres, principalmente aquelas com filhos, considerou trocar de carreira ou deixar o mercado de trabalho nesse período.

Quando falamos do mercado de tecnologia, isso fica ainda mais evidente, pois a representatividade feminina na área ainda é muito baixa. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, as mulheres representam só 20% dos profissionais que atuam no mercado de tecnologia. Por meio de ações para maior inclusão e representatividade, como descontos em cursos e bolsas de estudos, a Ironhack São Paulo, escola global de tecnologia e programação, conseguiu aumentar esse índice: 30% de todos os mais de 600 alunos que se formaram na escola são mulheres. 

No entanto, o setor de tecnologia foi um dos grandes destaques de contratações ao longo de 2020 e muitas pessoas observaram aí uma oportunidade para mudança de carreira e crescimento profissional. A pandemia provocou e acelerou muitas transformações culturais, tanto nas relações sociais como profissionais. Nesse novo cenário, a tecnologia mostrou sua importância e apresentou soluções para a Transformação Digital dos negócios.

 

Foto: Júlia e Driele de Aquino Nogueira.

 

Pensando nisso, Driele de Aquino Nogueira, mãe de Júlia (6 anos), optou por fazer um curso de Web Development, na Ironhack, em janeiro deste ano. A profissional trabalhou por 13 anos como bancária e saiu do trabalho para se dedicar aos cuidados com a filha, que foi diagnosticada com autismo leve com um ano de idade. No ano passado, os médicos disseram que Júlia poderia ter uma vida com mais autonomia e, assim, Driele decidiu se especializar na área que sempre teve interesse. “Escolhi fazer um bootcamp de Web Development, na Ironhack. Tomei essa decisão baseada em amigos e conhecidos que fizeram o curso e tiveram muito sucesso. Queria um lugar que me desafiaria e daria o choque de realidade e conhecimento para voltar ao mercado de trabalho preparada”, explica Driele.

Apesar das oportunidades e do crescimento do setor, os desafios para as mulheres que são mães e profissionais ainda são grandes. “O mercado de tecnologia melhorou com o passar dos anos, porém ainda existe um grande preconceito em relação a ser mulher e ainda mais em ser mãe. No futuro, me vejo atuando na área, adquirindo ainda mais conhecimento e provando para mim mesma que sou capaz. Sendo ouvida por todos, sem ser julgada por ser mãe e mulher, mas pela minha capacidade e conhecimento”, avalia a profissional.

Quando questionada sobre qual conselho daria à outras mães, Driele respondeu: “Tenha resiliência e acredite em você. Todas podem aprender o que quiserem, basta ter força de vontade e saber passar por cima das limitações que nós mesmas criamos. Se você superar o medo, a síndrome de impostora e as desculpas, você vai aprender. Corra atrás dos seus sonhos, independente do que te digam, pois não será nada fácil, porém todas somos capazes”.

 

Foto: Luísa e Grazielle Diandra Silva.

 

Já Grazielle Diandra Silva, desenvolvedora formada pela Ironhack e mãe de Luísa (2 meses), notou uma melhora na inclusão das mulheres no setor de tecnologia, quando foi contratada gestante para o cargo atual. “A área ainda é em sua maioria composta por homens e, como em qualquer espaço, nós ainda temos muito que enfrentar, infelizmente. Porém, é possível notar um grande engajamento tanto de empresas, como comunidades, para mudar essa realidade. E sendo uma mulher e mãe, eu realmente me dei bem por ser abraçada pelo time que faço parte hoje, eles me enxergaram pela profissional que sou e pelo que eu podia agregar e “brigaram” para vaga ser minha, mesmo estando grávida de quase três meses. Vivemos em um país onde isso, apesar de se ilegal, é motivo de desclassificação. Então, como mulher, foi uma grande conquista ser contratada estando grávida”, diz Grazielle.

A profissional considera que a gravidez não deve ser enxergada como uma limitação para as empresas e, sim, como algo natural e fisiológico do ser humano. “Minhas skills não são medidas por estar ou não gerando uma vida, ou muito menos são perdidas por conta disso. Acredito que as empresas deveriam oferecer um suporte maior pós parto, existem alguns projetos de licença estendida não só para mães, mas como para os homens também. Esse é um ponto muito importante, a sociedade esquece que o papel do pai tem seu peso e precisa ser exercido. A licença de cinco dias para homens é um grande problema de machismo estrutural, que tende a julgar que toda responsabilidade da criação de filho cabe apenas a mulher”, analisa a desenvolvedora.

Por fim, Grazielle aconselha: “Tem um lado meu gritando para ficar e proteger meu bebê a todo tempo e, outro dizendo que agora tenho um motivo muito maior para me dedicar profissionalmente e colher os frutos por ela e para ela. É nessas horas que agradeço que a tecnologia seja uma área adepta ao home office e isso funcione bem, assim posso me dedicar a minha profissão e também acompanhar o desenvolvimento da minha filha de perto. Minha dica é para que as mulheres e mães tentem se beneficiar ao máximo de todas as vantagens da profissão, como, por exemplo, home office e horários flexíveis. Buscar empresas que te valorize pelo seu potencial profissional e sejam humanitárias e sensíveis”.

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