Afastamento social não é sinônimo de distanciamento emocional

Em 5 de maio de 1932, o então presidente da República Getúlio Vargas emitiu o decreto nº 21.366. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio como momento para comemorar os “sentimentos e virtudes” do amor materno. Nascia ali a celebração tão comum que conhecemos que é o “Dia das Mães”.

A celebração dessa data foi uma conquista realizada por influência do Movimento Feminista Brasileiro que estava em crescimento. Outra conquista importante na época foi o sufrágio universal feminino, decretado também em 1932. Aliás, uma curiosidade: “No idioma francês, as palavras “mar” e “mãe” apresentam-se com a mesma sonoridade: “la mer” e “la mère”, corpo da mãe (la mère) que se oferece como um continente de acolhimento às necessidades físicas, corporais e emocionais do bebê”, explica a neuropsicóloga Leninha Wagner.

Juntando as duas palavras, Leninha reforça que “amor de mãe é mesmo um sentimento oceânico, que abarca todas as características dos filhos e simplesmente ama e cuida. É um sentimento sem fronteiras, que desconhece barreiras e faz morada na eternidade”.

Ainda inspirada pelos sentimentos neste dia tão especial, Leninha lembra que “o carinho maternal é fundamental para o desenvolvimento do cérebro do seu filho desde os primeiros dias de vida e essa importância prolonga-se por toda a primeira infância. O amor de mãe colabora para o bom desempenho escolar, lidar melhor com a vida adulta e faz as crianças desenvolverem-se de modo saudável”.

Além disso, “os laços emocionais influenciam tanto na capacidade de memória, aprendizagem, reflexão, como também nas habilidades interpessoais, emoções, sentimentos. Eles também são responsáveis por modificar positivamente a secreção de moléculas do cérebro, e o desenvolvimento dos neurônios, além de promoverem a regulação do estresse, e até mesmo a capacidade de agir em determinados genes”, destaca a neuropsicóloga.

Leninha reforça ainda que, por meio de neuroimagens, comprovou-se os benefícios do amor materno para o cérebro: “O hipocampo cresce duas vezes mais rápido em crianças cujas mães demonstram afeto e apoio emocional, em comparação com as que são mais distantes e frias. Além disso, há um período crucial em que o cérebro responde mais ativamente ao apoio materno, provavelmente por conta da maior plasticidade do cérebro dos mais novos. O amor materno é ainda mais importante nos primeiros anos de vida, mas primordial por toda a vida. Os primatas recém-nascidos, incluindo os humanos, necessitam de interações para garantir um desenvolvimento normal.

Quando as interações sociais são ausentes na Primeira Infância, seja por privação ou experiências sociais inapropriadas, pode inferir em doenças físicas ou emocionais, incluindo comportamentos antissociais. E por último, os vínculos afetivos fortes e saudáveis ajudam a construir resiliência, que é o conjunto de habilidades necessárias para responder à adversidade e continuar a se desenvolver”, detalha a neuropsicóloga.

A maternidade, enquanto uma condição biológica, é natural, visto que é da natureza da mulher uma predisposição orgânica para gerar e gestar um bebê. Porém, ela observa que “o amor de mãe é uma construção diária, inicialmente de forma unilateral, sempre dela para o filho, para mais tarde ser uma via de mão dupla, feita de reciprocidade de dar e receber amor, no conjunto de afetos produzidos por este par: mãe e filho”.

Com a proximidade da data para celebrar esta relação, Leninha deseja “que mesmo diante do afastamento social provocado pela pandemia, para o amor, longe é um lugar que não existe. Que não se desperdice a oportunidade de retribuir o amor recebido da pessoa que nos guardou em semente no ventre, produziu nosso alimento, atendeu às demandas do nosso corpo e soube nutrir nossa alma com amor. Possibilitando assim nossa existência e permanência neste mundo maravilhoso. Feliz Dia das Mães a todas as mulheres que sabem essencialmente amar e …amar!”, finaliza.

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