Madeira de demolição: arquiteta Isabella Nalon dá dicas para quem pretende apostar no material em diferentes ambientes

Cada vez mais presente em projetos arquitetônicos, a madeira de demolição carrega consigo uma beleza natural, que pode estar presente tanto em ambientes internos quanto externos. Sua origem provém da demolição de vigas e assoalhos de antigas casas, galpões e edifícios ou até mesmo longínquos trilhos de trem, postes de madeira e móveis produzidos em um passado distante. Com anos de história e resistência, junto com a estética o novo uso se configura como um emprego ecologicamente correto.

A beleza dos veios e ranhuras, combinada com a antiguidade da madeira é um ponto bastante positivo em termos práticos, já que com o tempo ela deixa de ressecar, empenar e envergar. A madeira de demolição também se destaca pela resistência a cupins e intempéries. Ela se fortaleceu com o tempo”, explica a arquiteta Isabella Nalon, à frente do escritório que leva o seu nome.

Ela ainda destaca a questão do estilo único, haja vista nenhuma peça é igual à outra. “Além da singularidade de um material natural, o desgaste sofrido por conta do tempo e as marcas deixadas pelos pregos nos faz admirar a estética. Se torna arte!”, complementa.

Para quem, como ela, aprecia a madeira de demolição, Isabella elencou os passos que segue em seus projetos desde a compra, cuidados e onde instalar.

 

A escolha

A madeira de demolição é dividida em duas categorias. As tábuas, geralmente provenientes da estrutura de telhados e com a forma achatada e retangular, são empregadas para o revestimento de pisos e paredes.  Já as peças são indicadas para as colunas da obra.

Em sua maioria, tratam-se de madeiras de lei como peroba, ipê, jacarandá, carvalho e angelim, sendo que a mais comercializada atualmente é a de peroba rosa, matéria-prima proveniente do Sul do País. Mas a aquisição dessa madeira requer cuidados, segundo explica a profissional: “Com a alta procura pelo material, existe uma oferta de madeiras novas, com aparência de desgastadas, e que são vendidas como demolição. Há de se observar com atenção para não comprar um material falsificado e sem esse conceito sustentável”.

Então, antes de fazer a compra, é importante averiguar se essa venda é legalmente autorizada. Algumas lojas especializadas possuem certificados de venda e extração de madeira de demolição, garantindo sua procedência. “Uma maneira eficaz de evitar essa fraude é solicitar a comprovação da autenticidade. Podemos pedir para visitar o estoque e observar o estado original das tábuas, que devem chegar com pregos, marcas e vestígios de tinta”, relata Isabella Nalon.

A madeira de demolição também pode estar presente nos móveis, com os traços que nos conectam ao décor de outrora. Na varanda, a arquiteta Isabella Nalon promoveu essa combinação com a material presente na parede da varanda | Foto: Julia Herman

 

Decoração

A madeira de demolição vai muito bem em ambientes com uma proposta de decoração mais rústica, sendo comum encontrarmos peças como mesas de jantar, aparadores e cristaleiras. Em linhas gerais, contam com uma pintura desgastada, deixando o móvel com a aparência ainda mais rudimentar. Todavia, vale lembrar que esses traços não são exclusivos de um décor mais bucólico. “Quando pensamos em madeira de demolição, nos vêm à cabeça móveis de madeira nobre e pesada, que nos remetem ao campo, às fazendas e um clima de aconchego e acolhimento, afinal os itens de madeira são, em sua maioria, escuros e quentes”, ressalta a arquiteta.

Em um equilíbrio e com um toque mais contemporâneo, os móveis e a madeira de demolição combinam muito bem em projetos modernos, dando um contraste interessante e de personalidade aos ambientes. Nessa proposta, o segredo é saber trabalhar a harmonia e utilizar a luz a seu favor. Para não carregar o ambiente e trazer um toque mais leve, o recomendado é investir em contrastes de móveis e tecidos. Também é possível optar por uma decoração moderna com toques rústicos, ou uma decoração campesina, com toques modernos. “Manter a mesma proporção para ambos pode pesar o ambiente e até mesmo anular a presença de cada um dos estilos decorativos”, explica Isabella.

 

Onde usar a madeira de demolição?

Na sala de jantar, pode ser adotada em mesas, piso e paredes. Já na sala de estar, por exemplo, pode-se utilizá-la em um painel de TV mais charmoso, um aparador ou um banco de madeira de demolição. Em paredes, servem de moldura para espelhos e buffets.

Além da sala, a madeira de demolição pode marcar presença na cozinha como revestimento de pias e balcões, contrastando com outras matérias primas como pedras de granito e mármore, garantindo uma personalidade única ao espaço. “Considero muito primoroso o emprego da madeira de demolição no banheiro. Embora seja mais resistente à água, precisamos nos atentar ao tratamento com verniz para a impermeabilização da peça”, conta Isabella. Ao longo dos anos, é importante ter em mente a necessidade de retoques de impermeabilizante para prolongar a vida da peça.

Já as madeiras provenientes de trilhos de trem e postes de iluminação só podem ser utilizadas em áreas externas. O cuidado se justifica pela uma grande chance de estarem impregnadas com creosoto, um produto tóxico que costumava ser aplicado na madeira para aumentar a sua durabilidade.

 

Nesta casa, reformada pela arquiteta Isabella Nalon, degraus e porta de entrada são de madeira demolição, dando um toque de imponência e personalidade ao projeto | Fotos: Julia Herman

 

Móveis

Não existe uma limitação para o uso de móveis rústicos e o mercado dispõe de uma infinidade de peças como bancos, mesas, cadeiras, camas, armários para quarto e para sala, cômodas, criados, aparadores, espelhos e muitos outros. Isabella preparou algumas orientações de como incluir no projeto de interiores:

– Mesas de jantar: Feitas de madeira de demolição, são de alta durabilidade e ainda aliam estilo e tradição. Além disso, permitem a utilização do móvel em diversos projetos de decoração;

– Mesa de Centro: A mesa de centro faz toda a diferença na decoração de salas de estar. Algumas, inclusive, possuem formatos de tronco, para incrementar ainda mais o cenário e deixá-lo impressionante. Use para expor revistas, livros, cinzeiros, esculturas, entre outros adereços;

– Estante / Aparador: Um vasto número de modelos de estantes e aparadores confeccionados com madeira de demolição são perfeitos para integrar ambientes rústicos, modernos e provençais. Alguns podem ser customizados, complementando ambientes com o revestimento do mesmo material. De modo geral, são móveis funcionais e perfeitos para organização de quartos e salas;

– Bancos: São boas opções para combinar com a decoração do jardim ou de uma varanda rústica, além de criar um espaço perfeito para descansar, conversar com amigos e familiares e deixar o local mais aconchegante;

– Portas: A madeira de demolição possui ranhuras únicas, o que torna uma porta uma atração singular.

– Nichos/ Prateleiras: Os nichos de madeira de demolição são boas alternativas para compor um projeto decorativo discreto. As peças podem ser confeccionadas com tábuas e pallets, que possuem um aspecto envelhecido e diferenciado.

Também podemos utilizar a madeira de demolição nas áreas externas como nessa varanda. Neste projeto, ela contrasta com os móveis modernos do ambiente | Foto: Julia Herman

 

Cuidados com a madeira de demolição

É preciso ficar atento e realizar uma manutenção preventiva, limpando e verificando a qualidade das peças de tempos em tempos para não comprometer a durabilidade.

A limpeza da madeira de demolição é feita com máquinas de água de alta pressão. Após estarem secas, as tábuas precisam ser aplainadas para ficarem com a mesma espessura. Depois, são cortadas lateralmente para receber encaixes, se necessário. Após a preparação, a madeira precisa ser protegida contra a umidade com a aplicação de cera ou verniz, podendo ser brilhante ou fosco, a depender do resultado estético pretendido. “Dou preferência para ceras à base de água, que não manchem com o contato de água e dispensam o uso de enceradeira. Na versão fosca, ainda preservam o aspecto natural da madeira”, complementa Isabella. Depois de aplicada deve-se tomar cuidado com a exposição à luz do sol e a artificial, que podem danificar o material.

No dia a dia, deve-se evitar o contato com a água – mesmo o pano molhado manuseado em pisos. Depois de varrer e aspirar o pó, deve-se, no máximo, passar um pano levemente único, praticamente seco.

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