8 de março: menos flores, mais respeito
Quando chega o mês de março logo nos lembramos do Dia Internacional da Mulher e das flores que muitas recebem enquanto outras tantas querem mais do que rosas, buscam respeito. Receber presentes é bom, claro, mas reconhecer e agir sobre as desigualdades ainda presentes na nossa sociedade é ainda melhor.
Por que falar de respeito é tão importante nessa data? Para entender melhor é preciso recorrer a história. O dia 8 de março só foi institucionalizado como o Dia Internacional da Mulher em 1975 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Porém, as lutas antecedem este fato. Esta é uma data que está diretamente ligada às causas das mulheres trabalhadoras por direito a dignidade, igualdade e respeito.
Com a Revolução Industrial no início do século XX, mulheres, homens e crianças trabalhavam em fábricas nas piores condições imaginadas. Eram jornadas de 12 a 14 horas por dia, seis dias na semana. Muitos donos de empresas trancafiavam seus funcionários para que não comessem ou fossem ao banheiro durante os turnos. Mulheres eram violentadas durante o expediente e crianças morriam presas aos maquinários.
Neste período, apesar de uma grande parte da força de trabalho ser composta por mulheres, seu salário era compreendido apenas como valor complementar na renda familiar. Imaginava-se, com isso, justificar que as mulheres, desde aqueles tempos, recebessem um salário menor do que seus colegas homens, mesmo que muitas fossem solteiras ou chefes de família. Mesmo assim, as lutas por igualdade salarial ainda demorariam a acontecer, visto que as prioridades das primeiras lutas operárias tinham como foco as melhores condições de trabalho e a diminuição da carga horária.
Foi no ano de 1910, que a militante dos movimentos de mulheres operárias, Clara Zetkin, propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas. A ideia dessa data foi crescendo e se estabelecendo nos coletivos feministas, que passaram a escolher o dia 8 de março para realização de passeatas. No Brasil, por exemplo, durante o período da ditadura as mulheres coordenaram várias manifestações pelo retorno da democracia que aconteciam geralmente nesta data. Foi aí então, que muitos anos depois a ONU institucionalizou a comemoração.
Saber da nossa história é uma oportunidade de compreender que, para além de um dia para presentear, comemorar o Dia da Mulher é antes de tudo homenagear as mulheres que lutaram por cada uma de nós. É uma data para refletir sobre os sentidos de ser mulher no momento histórico que vivemos e sobre o que ainda precisa ser questionado e superado.
No Brasil, algumas das conquistas alcançadas pelas nossas antecessoras foram: no ano de 1881 a possibilidade de ingressar no curso superior a partir do decreto imperial; no início do século XX a possibilidade de escolher com quem nos casar, já que até então os arranjos matrimoniais eram realizados entre o pai da noiva e o futuro marido; a instituição do voto feminino em 24 de fevereiro de 1932, ainda que, até 1934 as mulheres casadas ainda precisassem de autorização do marido para votar; e até 1962 as mulheres casadas que queriam abrir conta em banco, trabalhar, viajar e abrir negócio precisavam da autorização do marido para qualquer uma destas atividades; só para listar algumas destas conquistas.
Estas são apenas algumas datas que mostram as lutas de nossas antecessoras. Hoje ainda lutamos por igualdade salarial, pela diminuição da violência contra nossos corpos e direitos reprodutivos, pela divisão justa do trabalho doméstico, pelo respeito nos espaços acadêmicos, para que deixemos de ser sexualizadas e culpabilizadas pelas violências contra nós praticadas, lutamos para sermos ouvidas.
Ser mulher é lutar diariamente e ainda que não se dê conta, mulher, teu nome é sinal de luta das que foram e das que virão. É importante lembrar que mais do que as flores que muitas recebem, precisamos nos perguntar: que mulheres homenageamos neste dia? Quais nossas lutas de hoje? Não por acaso, outras tantas mulheres afirmam que querem mais do que rosas, querem respeito.
Sara Campagnaro é psicóloga, professora na Estácio Curitiba, Especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial e Mestra em Educação. Coordena o grupo de estudos “Psicologia & Feminismo”.
Referências:
BLAY, Eva Alterman. 8 de março: conquistas e controvérsias. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 601-607, 2001. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200016
CUNHA, Ana Rita; MENEZES, Luiz Ferando. Cinco fatos sobre direitos das mulheres no Brasil. Aos fatos. Online. 08 mar. 2019. https://www.aosfatos.org/noticias/cinco-fatos-sobre-direitos-das-mulheres-no-brasil
PEREIRA, Ana Cristina Furtado; FAVARO, Neide de Almeida Lança Galvão. História da mulher no Ensino Superior e suas condições atuais de acesso e permanência. Anais… XIII Congresso Nacional de Educação (Educere). 2017. p. 5527-5542