Reencantar-se, antes tarde do que nunca!
Passei a última semana lidando com uma TPM destas que tira o sono, bagunça a cabeça e a vida, existindo nesse mundo capitalista que não ajuda em nada nossa paz de espírito. Desemprego comendo geral, alta (para cacete) dos alimentos, a vida cada vez mais cara, está difícil dormir quando penso na falta de perspectiva do amanhã. E olha só, não tenho um boleto atrasado (ainda) imagina quem tem?
Cada dia mais difícil ser good vibes num mundo que nos cobra opinião sobre tudo o tempo todo, as vezes a gente dá sem permissão só por costume- mudar isso aí- nota mental aqui.
Começou o BBB, o último que eu assisti foi o do Alemão, o que não significa que obviamente eu fique alheia a todos os acontecimentos da casa mais vigiada do Brasil, a mais esquecida certamente é a Casa do Povo, vou nem entrar no mérito política no Brasil, a ladeira abaixo parece não ter fim, à luz no fim do túnel deve ser de velas. Mas eu tenho esse péssimo habito de ver o copo meio cheio, uma otimista incorrigível, já devo ter dito isso por aqui.
Entretanto, porém, todavia, já que essa coluna é minha e eu não tenho profundidade para falar de BBB, política e afins, lembrando que ela se chama Flertando com o Abismo e as vezes a vontade é se jogar no abismo mesmo – e minha terapeuta falou que as pessoas só ouvem o que querem ouvir e o mesmo se dá para leitura- nada mais justo do que falar do assunto o qual ninguém está falando e o qual eu mais domino, eu mesma.
Decidi fechar o Facebook, preciso me conscientizar que só posso mudar à minha maneira de comunicar e ver o mundo, de resto a gente joga uma sementinha aqui e outra ali e torce para germinar- foco nas crianças- os adolescentes já nos acham uns idiotas.
Tentar melhorar a mim mesma é só o que me cabe nesse momento e tem sido minha atividade constante, dialogar com horizontalidade, não posso convencer ninguém de nada, quem me desqualifica de alguma maneira, vou embora e não olho para trás, de resto, como diria meu pai: Só estrago o clima (Como se devesse existir clima bom para quem não acredita na ciência e na maior crise sanitária global dos últimos tempos, mas ok) não peço mais pra ninguém arrumar a máscara, quer deixar no queixo? Deixa! Quer enfiar no (Ops!) … Cada um faz o que quiser, cansei!
Mas se tem algo que eu nunca canso é de estudar, eu amo estudar, aprender me faz sentir funcional de alguma maneira que eu desconheço, aprender me mantem mentalmente jovem de alguma maneira, tudo que é novo me interessa. Dito isso, estive sumida devido a alguns cursos, um deles foi com a cineasta Larissa Figueiredo que se chamava Reecantando o corpo, reecantando o mundo.
Não sei vocês, quando eu entro no looping do trabalho ou do ser útil e tentar ser um bom ratinho na roda da engrenagem do capitalismo, eu até esqueço que tenho um corpo, quiçá que preciso despertá-lo, lembrar que ele está ali, associadíssimo a cabeça é uma tarefa que requer dedicação, que um precisa do outro para existir em equilíbrio- algo necessário para se viver nesse mundo, desequilibrado.
Trabalhar com arte me leva a estes lugares de reflexão que jamais atravessariam as fronteiras do comercial, onde muitas vezes estive. Porém, trabalhar com arte, muitas vezes te faz produto de si mesmo. Na Mostra Tiradentes de Cinema, assisti um filme chamado “Eu, empresa” e apesar de me enxergar muito no protagonista e nos perrengues que a gente vivencia trabalhando com audiovisual, continuo relutante a ser um produto. A dificuldade de me “vender”, me sabota, eu sei.
Mas voltando ao curso, que também foi oferecido pelo festival, através dessa plataforma chamada ZOOM que as vezes não sei se “estou vivendo ou morando no zoom”, mas não à toa estar em rede se chama “estar conectado” e conexão é algo que realmente senti reverberar durante esse processo.
Tenho por hábito fazer varias coisas ao mesmo tempo, tenho a sensação que quem faz várias atividades, exploram mais o seu cérebro, o que significa que nem sempre eu consiga me dedicar inteiramente ao que estou vivendo.
Mas com relação a oficina, falar do corpo nos levou a uma dança que trouxeram temas muito diversos- da encantaria à política- muito bem conduzidos pela Larissa, cada vez que um dos presentes apresentava seus trabalhos e falavam sobre suas percepções, mais lugares se abriam em minha mente, este lugar de escuta, que a propósito, tem sido mais importante para mim no momento do que o lugar de fala.
Fiz uma série de anotações para poder refletir com calma, como se a vida cotidiana nos permitisse ter essa calma que almejo, somos atropelados pela rotina. Mas o que fato é que estar em contato com outros universos de alguma maneira planta uma semente em mim, aqui estou eu regando.
Alguém falou sobre se responsabilizar pelas coisas que acontecem, consigo e com o outro, até quando podemos tratar todas essas demandas sociais com o distanciamento do “não é problema meu?” E veja que eu nem trouxe o tema BBB para esse espaço.
Para tentar trazer um pouco de leveza a esse peso que é estar vivo, nesse caos que se tornou a vida em pandemia, falamos em ser cor na paisagem- e isso é de uma beleza que me faz entender o motivo de estar viva- tanta cor no mundo, tanto lugar bonito para se olhar, eu concordo galera good vibes, sempre dá para buscar um caminho entre a leveza e a realidade, mas o caminho até o colorido as vezes é bem nublado e não dá para viver iludido, pois, para a maioria de nós, o caminho é muito tortuoso e tem razão de ser, isso não deveria ser rechaçado como uma culpa individual, mas veja, eu queria falar de mim.
A ampulheta do tempo corre, cada dia é uma luta incansável pelo que? O que realmente é importante? Importante para quem? Eu estando em dia, com a Ioga, com os exercícios, com o sono, com os boletos, posso me considerar uma pessoa de sucesso? Ou sucesso é quem consegue olhar sua ampulheta do tempo de forma amorosa, nunca tenho essas respostas. É completo e eficaz quem alcança todas as validações sociais necessárias para se ter paz de espirito?
Essa disputa que nos enfiaram enquanto indivíduo- e a gente só percebeu quando já estava a base de rivrotril- foi uma escolha individual? Sério mesmo? Até quando a gente vai acreditar que essa disputa pelo básico é saudável e ignorar que o mundo é injusto e cruel e que não deveríamos continuar apoiando a classe dominante em exercer esse poder sobre a maioria dos nossos irmãos.
Essa ode Auto amor e ao autoconhecimento que exclui o coletivo tem a finalidade do que exatamente? Continuo desejando uma vaidade sem opressão, continuo esse ser desejante que não consegue acreditar em sucesso individual e esse texto que era para falar de mim, só conclui ou que eu sempre soube, não existe eu sozinha no mundo e enquanto não entendermos isso que “Comunidade tem dentro Comum- Unidade” estaremos fadados a continuar nessa disputa, correndo como ratinhos para girar a roda da fortuna.
Individualmente é fundamental reencantar o corpo, mas que não esqueçamos que para reencantar o mundo, precisamos nos entender como iguais em nossas diferenças. Dessa oficina incrível que continua reverberando em mim, levo para vida que nem tudo precisa ter um objetivo final, se encantar pelo processo é mais importante que tentar realizar desejos que talvez nem sejam nossos, que o auto conhecimento seja olhar para dentro, sem estar transbordando de tanto fora, que nossos afetos sejam livres para se esvaziarem das expectativas alheias.
Viver a experiência do acaso e a potência mais transformadora e eu particularmente, não pretendo dizer sim á formulas prontas de felicidade e nem vou compactuar com o império do extrovertido, continuo tentada a escutar nossos silêncios.